O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), fez nova ameaça nesta quinta-feira (08/07) e colocou em xeque as eleições do ano que vem ao defender o voto impresso para o pleito, durante conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada.

“As eleições do ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições. Daí teve um tweet aí dizendo que alguém escreveu para analfabeto de nove dedos dizendo que eu roubei as eleições do ano passado e enganei por conta de uma facada”, disparou fazendo referência a uma publicação do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva na rede social.

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A declaração acontece num momento em que Bolsonaro aparece em queda livre nas pesquisas de intenção de voto, além de sua exponencial rejeição administrativa. A avaliação negativa do governo Jair Bolsonaro atingiu a pior marca desde o início do mandato, segundo pesquisa da XP Investimentos e do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) publicada nesta quinta-feira (08/07). Desde outubro do ano passado, a proporção de brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo tem crescido mês a mês e chegou a 52% no início de julho. Há nove meses, no menor nível recente, o índice era de 31%.

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Já os que avaliam o governo como bom ou ótimo somam 25% neste mês. Em outubro do último ano foram 39%.Os que avaliam como regular são 21% e 2% não souberam ou não responderam. Metade dos brasileiros também disseram que têm expectativas negativas para o restante do mandato. O que esperam algo de bom são três a cada dez.

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Especialista vê “cortina de fumaça” em torno de declarações

O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e cientista político, Robert Bonifácio vê as declarações do presidente como “cortina de fumaça” para tirar a atenção do momento ruim que sua administração tem passado. Na Câmara dos Deputados, o lobby que o presidente faz em torno do voto impresso não deve ir adiante. “Se pressupomos que as decisões sobre leis se dão no parlamento, ou seja, mantendo-se a normalidade democrática, os últimos sinais são de que o relatório favorável existente na comissão criada na Câmara para debater o voto impresso será rejeitado. 11 partidos se expressaram contrários à matéria e alteraram seus representantes na comissão a fim de cumprir com o que decidiram. Logo, essa questão não passa de uma tentativa de cortina de fumaça para o momento ruim que o governo federal têm vivido”, pontuou ao Diário de Goiás.

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Questionado sobre uma possível contestação ao resultado eleitoral, caso o voto impresso não vá adiante, Bonifácio diz que é possível: Bolsonaro quer ‘bagunçar o campo político’ com a medida. “Um dos objetivos que possui ao defender o voto impresso é bagunçar o campo político visando deslegitimar futuro possível resultado eleitoral desfavorável a si. Tal como ocorreu nos EUA, penso que há chances de no Brasil haver uma tentativa de golpe democrático caso Bolsonaro não vença as eleições de 2022.”

Guerra civil? O cenário pode se tornar nebuloso com um presidente contestando as eleições. Isso porque poderá haver pressão popular para fazer valer o resultado nas urnas, ainda assim, Bonifácio alerta que as instituições democráticas podem ser capazes de frear um possível levante bolsonarista. “O mecanismo automático é as instituições de defesa e segurança agirem contrariamente a um possível movimento de golpe, abafando-o. Para além disso, também pode haver pressão popular e até mesmo guerra civil, no pior dos cenários. Bolsonaro não apresenta um histórico de apreço à democracia mas, caso tente um golpe, penso que as instituições podem ser capazes de freá-lo”, conclui.

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