O Ibovespa recuou 2,19% nesta segunda-feira (12), aos 59.178,62 pontos, com giro financeiro de R$ 6,8 bilhões. É a menor pontuação desde 30 de setembro deste ano (58.367,05 pontos).
Segundo analistas, o principal índice da Bolsa refletiu o aumento da tensão política após detalhes da delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, colocarem o governo do presidente Michel Temer sob risco.
A queda do Ibovespa se aprofundou após a PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no âmbito da Operação Lava Jato. Investidores temem que um eventual afastamento de Renan prejudique a aprovação de medidas do ajuste fiscal no Congresso.
“A fragilidade do governo com a Lava Jato expõe os investidores e consumidores ao risco político e, pior, a postergação da recuperação econômica”, escreve a equipe de análise da Lerosa Investimentos. “Já se fala em PIB zero em 2017 e toda a antecipação de melhora vista na Bolsa deve se esvaziar.”
Para Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora, a maior preocupação dos investidores é de que Temer perca a governabilidade com as denúncias. “Mas não há dúvidas de que a PEC [Proposta de Emenda Constitucional] que limita os gastos públicos será aprovada em segundo turno pelo Senado.” A votação da PEC está marcada para esta terça-feira (13).
O setor bancário foi o que mais pesou sobre o Ibovespa: Itaú Unibanco PN perdeu 4,12%; Bradesco PN, -4,15%; Bradesco ON, -1,17%; Banco do Brasil ON, -4,77%; e Santander unit, -3,09%.
Em evento com a presença dos principais banqueiros do país, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez nesta segunda-feira um pedido indireto para que o setor financeiro siga o movimento do Banco Central e reduza os juros.
O ministério da Fazenda se prepara para divulgar nos próximos dias uma agenda de estímulos microeconômicos.
“O governo promete um pacote de bondades na área econômica para tentar melhorar o ambiente e criar temas que disputem as luzes com as delações”, escreve o economista José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator. “O receio é que tal pacote oscile entre afronta à postura ortodoxa da equipe econômica e insuficiência para sinalizar qualquer melhora.”
Beneficiadas pela alta do petróleo no mercado internacional, ações da Petrobras impediram uma maior queda do Ibovespa. As ações ordinárias da estatal avançaram 0,12% e as preferenciais ganharam 0,87%.
Os papéis da Vale caíram 1,20% (PNA) e 0,40% (ON), mesmo com a valorização do minério de ferro na China.
Metalúrgica Gerdau PN liderou o ranking de quedas do Ibovespa, com -8,84%, seguida por Gerdau PN, -5,82%.
Após iniciar o pregão em alta e chegar a quase R$ 3,41 por causa da tensão política, o dólar perdeu fôlego ante o real e caiu. A moeda americana acabou seguindo o movimento no exterior, em meio à disparada dos preços do petróleo. A commodity reagiu ao acordo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) com países não membros no cartel para reduzir a produção mundial.
A moeda americana à vista fechou em baixa de 0,58%, a R$ 3,3493, enquanto o dólar comercial perdeu 0,77%, a R$ 3,3470.
Nesta manhã, Banco Central realizou a rolagem dos últimos 9.995 contratos de swap cambial tradicional que vencem em janeiro, no montante de US$ 499,750 milhões. A operação equivale à venda futura de dólares ao mercado.
Segundo Ricardo Gomes da Silva, superintendente de câmbio da Correparti Corretora, as vendas de dólares no mercado doméstico foram feitas basicamente por exportadores.
No mercado de juros futuros, os contratos prazo mais curto recuaram, com as apostas de corte maior da taxa básica de juros (Selic) em janeiro. As projeções são de uma redução de ao menos 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC. Atualmente a taxa está em 13,75% ao ano. Os contratos mais longos subiram, indicando cautela com o cenário político.
Folhapress