A fabricante norte-americana Boeing recomendou “forte cautela em relação a especulações acerca de nossas intenções e do andamento das discussões” sobre a compra da parte de aviação civil da brasileira Embraer.
A frase foi dita pelo vice-presidente global de Comunicação da empresa, Phil Musser. “Acreditamos que a combinação com a Embraer representa um ganha-ganha para todas as partes e que irá produzir crescimento e oportunidades. Isto dito, não se trata de algo essencial para a Boeing”, afirmou, por e-mail.
Musser emula o que havia dito o presidente-executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, na semana passada. É uma guerra de informação natural de um negócio desse porte: após idas e vindas, está sendo discutida a formação de uma terceira empresa com controle americano para aviação civil, deixando a área de defesa da Embraer intocada.
No domingo (25), o jornal “O Globo” publicou nota informando que o governo brasileiro havia imposto que a nova empresa tivesse 51% de controle da Boeing e 49%, da Embraer, e que o negócio já estava encaminhado. O comentário de Musser vai no sentido de negar isso duplamente.
Segundo a reportagem apurou com pessoas envolvidas na negociação pelas empresas e pelo governo, o acordo está ainda distante de acontecer e os americanos buscam um controle bem maior sobre a nova operação. Uma autoridade falou em discussões que podem se estender por meses, dada a complexidade da operação. Também é preciso ver se haverá impacto pela troca de comando no Ministério da Defesa, embora os integrantes do grupo de trabalho que representa o governo na discussão devam ficar onde estão.
O governo não é dono da Embraer, mas a privatização da empresa em 1994 lhe garantiu poder de veto em questões societárias e de negócios da empresa por meio de uma ação especial -a chamada “golden share”.
A ?preocupação central do governo é a área de Defesa, que hoje responde a cerca de 20% da receita líquida da Embraer. Vários projetos estratégicos da Força Aérea estão baseados na capacidade industrial dessa divisão militar.
Inicialmente, a Boeing queria comprar toda a Embraer, um negócio de cerca de US$ 6 bilhões. Com a negativa do governo de ceder o controle nacional, foi feita uma oferta apenas pela parte de aviação regional -uma lacuna importante para os americanos, já que esse setor em que a Embraer é líder está sendo cobiçado por sua rival europeia Airbus, que comprou a linha de jatos deste nicho da canadense Bombardier.
O governo não aceitou de pronto a divisão pura e simples das áreas civil e militar, já que há questões envolvendo os departamentos de engenharia e pesquisa da Embraer, unificados. Há temor de perda de capacidade de inovação tecnológica, além de questões de soberania centrais como o poder decisório de encomenda de novos produtos sem vetos externos.
Todos voltaram à mesa e a proposta ressurgiu na forma de uma terceira empresa com participação de ambos os lados, mas controle da Boeing. Como fazer isso funcionar de forma a agradar todos e garantir que a Embraer focada em defesa seja viável economicamente é o que está em discussão agora.