O envolvimento de empresas na operação Lava Jato e o impacto da crise econômica sobre o negócio de grandes companhias impediram o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de emprestar R$ 25 bilhões em projetos de infraestrutura no ano passado, afirmou nesta quarta-feira (31) Marilene Ramos, diretora do banco.
Segundo ela, o banco dispunha de R$ 55 bilhões para emprestar em infraestrutura. Os recursos, diz, correspondiam a contratações em análise ou mesmo em vigor.
Parte desses recursos -ou R$ 25 bilhões- acabou retida pelo banco em razão da deterioração creditícia de empresas. O BNDES, então, acabou emprestando apenas R$ 30 bilhões, em resposta aos problemas na demanda de recursos.
Para Marilene, há uma angústia natural em relação ao processo de liberação desses recursos, mas é preciso entender que as negociações são longas e, no caso de algumas empresas, envolvem acordos de leniência.
A leniência, afirma ela, regulariza a empresa do ponto de vista cadastral. “Com o cadastro regularizado, a avaliação do banco sobre a empresa é igual a feita sobre qualquer outra”.
Ela diz que há perspectivas de bons projetos que podem mitigar o deficit em infraestrutura no Brasil, mas ressaltou: “não sonhem chegar ao BNDES com projeto no papel de pão e ter financiamento em seis meses”.
Além das áreas de infraestrutura e inovação, o BNDES também olha com especial atenção ao segmento de pequenas e médias empresas -que, muitas vezes, encontram dificuldades de acessar recursos do BNDES por meio de repasses feitos aos bancos comerciais.
Para o BNDES, o segmento de pequenas e médias empresas incluem companhias com faturamento anual de até R$ 300 milhões.
Com um novo sistema, chamado de BNDES Digital, a ideia é que o empreendedor tenha conhecimento da linha de empréstimo disponível e dos agentes que a operam em sua região, facilitando o acesso aos recursos mais baratos. O novo sistema começa em janeiro.
Entre as prioridades do banco, estão também as áreas de saneamento e energias renováveis.
Os executivos falaram no Fórum de Investimentos Brasil 2017, em São Paulo.
Banqueiros presentes ao evento refutaram a ideia de que os bancos privados não querem financiar grandes projetos. “Eu discordo. Se voltarmos 15 anos, a participação dos bancos públicos no sistema era de 30% e hoje é 50%. O BNDES ficou maior do que o Banco Mundial”, disse Hélio Magalhães, presidente do Citibank.
Para ele, o recuo dos privados responde mais a uma estratégia de governo anteriores de ocupar um espaço que não era seu, com prejuízo grande ao mercado financeiro. “O governo se excedeu como fornecedor de financiamento e hoje tem percentual em grupos que não deveria”.
Segundo Magalhães, o BNDES acabou sendo sócio desses grupos com a intenção de puxar o desenvolvimento, mas a melhor forma de chegar a isso inclui regras claras e competição aberta para que os bancos possam dimensionar seus riscos. (Folhapress)