CAMILA MATTOSO E TALITA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio à crise que se instalou no Palácio do Planalto, o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) ligou para Sergio Moro (Justiça) nesta quinta-feira (14) para colocar-se à disposição para prestar esclarecimentos sobre a apuração de candidaturas laranjas do PSL, caso revelado pela Folha de S. Paulo.
Na quarta (13), o presidente Jair Bolsonaro determinou que a Polícia Federal -subordinada administrativamente a Moro- começasse a apurar as suspeitas. Bebianno presidiu o PSL, partido do presidente, entre janeiro e outubro de 2018.
Desde a revelação do esquema, Bebianno nega envolvimento com o caso e diz que as decisões sobre chapas nos estados foram das direções regionais e que cuidou apenas da eleição presidencial.
Candidatas laranjas de Minas e de Pernambuco foram abastecidas com verba pública e declaram gastos em gráfica de fachada, em empresas ligadas ao gabinete do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e em uma gráfica de um filiado do PSL.
Segundo ata de reunião do partido, de julho do ano passado, Gustavo Bebianno, então presidente interino da sigla, ficou sendo o responsável pela distribuição de verbas públicas a candidatos nos estados na eleição de 2018.
Mesmo antes do pedido do Bolsonaro, investigações já tinham começado tanto em Minas quanto em Pernambuco.
A PF convocou a candidata laranja Maria de Lourdes Paixão, de Pernambuco, para depor nesta quinta (14), mas ela pediu adiamento.
A crise dos laranjas foi alavancada na quarta (13) pelo ataque do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, ao ministro.
Carlos postou no Twitter que Bebianno havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a crise.
Mais tarde, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno.
O ataque de Carlos foi endossado pelo presidente, que compartilhou em rede social postagens do filho e negou versão do ministro sobre ter conversado com ele.
Segundo a reportagem apurou, Bolsonaro esperava que Bebianno já tivesse pedido demissão quando saísse do hospital onde esteve internado em São Paulo e chegasse à tarde a Brasília com trunfo para conter os impactos do caso.
Bebianno tem dito a aliados não vai pedir demissão e buscou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para traçar uma estratégia de sobrevivência no governo.
Ele passou a noite de quarta e a madrugada e a manhã de quinta nessas conversas.
O ministro cancelou todas as agendas pela manhã e só apareceu no Palácio do Planalto no fim do dia, onde conversou com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Bebianno aguarda ser recebido pelo presidente para tirar a temperatura da crise, o que não aconteceu até o fim desta quinta.