A base do governo Michel Temer articula um novo pedido de impeachment do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, além de sua convocação na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que foi instalada nesta terça-feira (5) no Congresso para apurar os procedimentos do acordo de delação da JBS.
Apesar de aparentemente inócua -visto que o mandato de Janot vai até 17 de setembro- a medida faz parte de uma estratégia dos parlamentares, com aval do Palácio do Planalto, para pressionar e desgastar a imagem do procurador-geral, tratado como inimigo pelo presidente Michel Temer.
Além disso, a cúpula do Congresso voltou a falar em votação do projeto que regulamenta o teto salarial do Judiciário e, em seguida, o de abuso de autoridade, já aprovado pelo Senado. O objetivo é que os temas entrem na pauta nas próximas semanas.
A gangorra de disputa entre a classe política e integrantes do Judiciário e do Ministério Público ganhou mais uma capítulo nesta semana, depois que Janot anunciou que pode anular a delação da JBS por omissão de indícios de crimes por delatores e integrantes da própria PGR.
A decisão do procurador-geral foi celebrada por aliados de Temer, que avaliam que o episódio reforça o discurso do presidente de que ele é alvo de “perseguição” por parte da PGR.
O objetivo do Planalto agora é conseguir a anulação das provas e comprovar a tese de que Janot foi conivente ou até mesmo cúmplice do procurador Marcello Miller, citado em conversas gravadas entre os executivos do grupo J&F, Joesley Batista e Ricardo Saud, como quem ajudou a empresa a acertar o acordo de colaboração enquanto ainda atuava na PGR.
A CPMI que vai apurar possíveis irregularidades na delação dos irmãos Batista quer convocar para depor, além de Janot, Joesley, Saud e Miller.
O colegiado havia sido criado no fim de maio, depois da divulgação da delação da JBS, mas ainda não havia iniciado os trabalhos.
O presidente da comissão é o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), e aliados da base de Temer discutiam nesta quarta-feira (6) quem seria o relator do caso. Alguns parlamentares aventaram o nome do deputado Carlos Marun (PMDB-MT), um dos mais atuantes da tropa de choque de Temer.
Os mais cautelosos, no entanto, acreditam que um perfil tão alinhado ao governo vai fazer com que a comissão perca credibilidade de saída. (Folhapress)