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Categorias: Entretenimento
| Em 7 anos atrás

Bandas famosas retornam ao Brasil em 2018 com formações desfiguradas

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Earth, Wind & Fire. Emerson, Lake & Palmer. Genesis. Dire Straits. Se essas bandas anunciassem shows no Brasil em 1978, a agenda de atrações internacionais estaria bem atraente na temporada.

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O Dire Straits surgia então com o hit mundial “Sultans of Swing”. O Earth, Wind & Fire estava no topo da parada americana com “September”. O ELP encerrava turnê milionária do disco “Works”. O Genesis era um grande sucesso e realmente veio tocar em São Paulo em 1978.

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Mas, 40 anos depois, o anúncio dessas atrações voltando ao Brasil nos primeiros meses de 2018 soa estranho.

Não são essas bandas de verdade, mas seus fãs fiéis vão fazer de conta e brincar de viajar no tempo com os hits que estão acumulados na memória afetiva de todos.

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Quem estará no Brasil nesses shows só escapa de ser considerada banda cover porque traz, em cada formação, um mísero integrante do grupo original. Bem, no caso do Dire Straits Legacy, que toca em São Paulo no próximo dia 25, nem isso. O integrante em questão é o tecladista Alan Clark, 65, que só entrou no grupo em 1980, depois da gravação do terceiro álbum.

“Legacy” (legado) é a palavra-chave dessa modalidade de bandas “exército de um homem só”. O baterista Carl Palmer, 66, traz em maio seu ELP Legacy. Depois da morte de seus colegas Keith Emerson (1944-2016) e Greg Lake (1947-2016), ele contratou músicos jovens, mas experientes em estúdio, para voltar ao repertório progressivo.

Dois guitarristas estão à frente de outros “legados”. O inglês Steve Hackett, 67, vai fazer aqui seu show atual, que até contempla algo da extensa carreira solo -mais de 20 álbuns-, mas atrai público com hits do Genesis.

Já o americano Al McKay, 69, é veterano nessa história de viver à sombra da ex-banda. Há décadas ele comanda The Al McKay Allstars, que nunca abandonou os sucessos de seu grupo mais famoso. Ele vem ao Brasil com uma turnê que não poderia ser mais explícita: The Earth, Wind & Fire Experience.

TRIP NOSTÁLGICA

Nenhum desses projetos é contestado por outros membros das bandas -o que seria impossível no caso do Emerson, Lake & Palmer. E boa parte do público embarca na trip nostálgica sem reclamar. Mas há questões que podem ser colocadas.

O Dire Straits resistiu muito pouco como um grupo de verdade. Logo após o lançamento do segundo LP, “Communiqué”, de 1979, ficou claro para todo mundo que o cantor, guitarrista e compositor Mark Knopfler era o dono da bola e os outros estavam reservados à condição de coadjuvantes.

Tanto é que, no final dos anos 1980, o desinteresse de Knopfler em seguir vida de rockstar fez a banda murchar. Dire Straits sem Mark Knopfler é mesmo algo impensável.

Steve Hackett é um virtuoso da guitarra, mas sua técnica no instrumento é inversamente proporcional ao seu talento para compor hits. Sua farta discografia solo é coisa para fãs obcecados, que são poucos. Retomar as músicas do Genesis é um caminho óbvio para atrair atenção.

O problema é que o Genesis teve duas figuras que dividiram o protagonismo da banda: Peter Gabriel, visionário vocalista da fase inicial, e o baterista Phil Collins, que assumiu os vocais com a saída de Gabriel e guiou a banda num período mais popular. Dentro e fora do Genesis, ele se tornou um dos maiores vendedores de discos do século 20. Bem, Hackett não é Gabriel nem Collins.

Embora não seja fundador da banda, Al McKay teve oito anos gloriosos com o Earth, Wind & Fire. Mas, por mais que tenha recebido elogios de Maurice White (1941-2016), líder do grupo, assistir a seu Allstars parece ver um cover esforçado tocando hits como “Boogie Wonderland”. No palco, a falta do carisma de White fica evidente demais.

Carl Palmer carrega menos peso nas costas. Surpreendido pelas mortes dos companheiros, decidiu ir para a estrada como alternativa para lidar com o luto.

Mesmo que sua iniciativa não passe a impressão de jogada comercial, Palmer tem um problema sério nessa jornada. O ELP sempre foi um encontro de personalidades musicais fortes, a ponto de cada um precisar de um espaço sozinho nos shows.

No meio das apresentações, cada um tinha direito a uns 20 minutos sem os outros no palco. Agora, como vai passar sem o virtuosismo de Emerson entrincheirado em seus teclados ou sem o bloco com canções românticas de Lake, como “Lucky Man” e “C’Est la Vie”?

Clark, Hackett, McKay e Palmer estão na deles, cada um com suas motivações. É só importante que os compradores de ingressos saibam o show que podem esperar.

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