O último grande acontecimento da rua Elsmore, periferia de Manchester, foi o desaparecimento de um papagaio cinzento. Colado em um poste, um folheto pede informações de seu paradeiro.
Mas a rua vive, nesta semana, sua fama instantânea: era endereço de Salman Ramadan Abedi, 22, suspeito de se explodir em um show da cantora americana Ariana Grande, deixando 22 mortos.
Os arredores de sua casa de tijolinhos estavam cercados por faixas amarelas da polícia nesta quarta-feira (24). Peritos de macacão branco faziam a inspeção.
Cinegrafistas japoneses, franceses e alemães disputavam o pouco espaço disponível para fazer suas entradas ao vivo nos jornais de seus países, em outros fusos, enquanto moradores passavam depressa evitando o assédio.
Neville Edwards, do bairro, conversou brevemente com jornalistas, receoso com o fato de que Abedi conseguiu planejar o atentado a despeito da vigilância dos serviços de segurança. “Passou por baixo dos radares.”
Donovan Kinsey, vizinho de Abedi, afirmou que o suspeito e sua família eram religiosos, porque às vezes vestiam roupas tradicionais, mas que ele também usava calça jeans e moletom -como tantos outros jovens ali.
“É um pouco chocante o que aconteceu. É um covarde atacando jovens. O que ele fez é nojento”, disse.
A atenção da imprensa ao bairro, pouco movimentado, incomodava os moradores. Uma senhora deixou sua casa, caminhou até a rua e colou um pedaço de papel em seu portão de madeira, pedindo que ninguém estacionasse ali. Quando a reportagem se aproximou para conversar, correu de volta ao pórtico murmurando “não, não”.
Em um jardim vizinho, indiferente aos olhares atônitos dos jornalistas de televisão gravando as suas reportagens, outro morador ligou o cortador de grama. (Folhapress)