Militares da Venezuela reagiram rapidamente contra um ataque a uma base do Exército em Valencia, no norte do país, no domingo (6), enfrentando um grupo que afirmou querer “restabelecer a ordem constitucional”. O incidente deixou pelo menos dois mortos.
Segundo o governo, o ataque foi realizado por um grupo de civis com apoio de um único militar. Oito pessoas foram detidas.
A tensão tomou conta de Valencia. Em meio a boatos de motim, o governo de Nicolás Maduro assegurou ter frustrado uma incursão “terrorista” de um grupo de civis vestindo trajes camuflados, no forte Paramacay.
“Há uma semana os vencemos com votos e hoje tivemos que vencer o terrorismo com balas”, disse Maduro em seu programa dominical de TV, em alusão às eleições de sua Assembleia Constituinte.
O presidente disse ainda que o ataque havia sido coordenado por opositores atuando na Colômbia e nos EUA.
“Dois foram abatidos pelo fogo leal à pátria, um está ferido. Destes dez atacantes que ficaram nas instalações de Paramacay, nove são civis e um é um tenente desertor”, disse Maduro.
O incidente foi revelado após a divulgação nas redes sociais e em vários meios de comunicação de um vídeo supostamente gravado na 41ª Brigada Blindada de Valencia, no qual um homem se apresenta como capitão, declara “rebelião” contra Maduro e exige um “governo de transição”.
“Nós nos declaramos em rebelião legítima (…) para desvaler a tirania assassina de Nicolás Maduro. Esclarecemos que isso não é um golpe, essa é uma ação cívica e militar para restaurar a ordem constitucional”, afirma o homem que se identificou como Juan Caguaripano.
O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, assegurou que a incursão à base se tratou de “um ataque terrorista do tipo paramilitar”. Ele afirmou que o ataque “não é mais que um show de propaganda, uma quimera, um passo desesperado da extrema direita”.
“Faz parte dos planos de desestabilização e conspiração contínua” para “evitar que se consolide o renascimento da nossa república”, completou Padrino.
O ministro reiterou o “apoio incondicional” das Forças Armadas ao governo de Maduro, que enfrenta grandes protestos há quatro meses e forte crítica internacional. As Forças Armadas são o principal apoio de Maduro e lhe conferem poder político e militar.
PROTESTOS
Após o ataque frustrado e os boatos de motim, a situação ficou tensa em Valencia.
Helicópteros sobrevoaram os arredores da base, sede da 41ª brigada do Exército, e militares em blindados patrulharam a região.
Após o incidente, dezenas de pessoas ergueram barricadas nas proximidades da cidade, onde puseram troncos de árvores e queimaram lixo, entrando em confronto com militares da Guarda Nacional que os dispersaram com bombas de gás lacrimogêneo e projéteis de chumbo.
Pequenos distúrbios também foram registrados em um setor do leste de Caracas, onde manifestantes tentaram bloquear uma rodovia e foram reprimidos.
O presidente do Parlamento, Julio Borges, exigiu do governo a verdade sobre o ataque em Valencia e reivindicou que Maduro se abstenha de uma “caça às bruxas”.
A oposição pediu que as Forças Armadas rompam com Maduro sobre o que considera violação da constituição. Mesmo assim, a maioria das manifestações de dissidência entre as tropas tem sido pequena e isolada.
“Ainda é muito difícil saber em que medida existem divisões significativas dentro dos militares”, avaliou Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue, think tank norte-americano.
O ataque marcou um fim de semana tenso quando a nova Assembleia Constituinte destituiu a procuradora-geral do país Luisa Ortega Diaz, crítica ao governo.
No domingo, ela voltou a se recusar a reconhecer a decisão. “Eu desconheço essa remoção, continuo sendo a procuradora-geral deste país”, disse Ortega. Segundo ela, a Assembleia é “ilegítima e inconstitucional”.
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