“Uma jornalista não pode terceirizar a tarefa de registrar o que vê.” Ana Amélia (PP-RS) viu um objeto não identificado no céu. Clique.
Estava no avião chegando ao Rio de Janeiro na última quinta-feira (4). Ia acompanhar Geraldo Alckmin (PSDB) no debate da TV Globo. “Acho que fotografei um Ovni”, riu, por mensagem de texto.
Flores, o pôr do sol, pratos de comida, uma máscara no quarto de hotel em Maceió. A campanha à Presidência terá, assim, um registro pessoal.
Senadora em primeiro mandato, Ana Amélia tinha a reeleição dada como certa. Entre as congressistas mais bem avaliadas por diferentes rankings, a gaúcha de Lagoa Vermelha deixou o jornalismo depois de 33 anos na RBS (afiliada da Globo), em 2010.
Em oito anos no Senado, aprovou cinco leis, usou um terço da verba e dos cargos a que teria direito e foi para a linha de frente lutar pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). O discurso da reeleição estava pronto.
“Todas as escolhas que fazemos tem risco. Pensei no país para buscar uma alternativa de centro e evitar a radicalização, os extremos”, justificou.
“Os eleitores não aceitaram essa opção e, como democrata, respeito esse comportamento, que precisa ser bem avaliado. As lideranças políticas precisam tirar lições dessa reação do eleitorado inspirada pelas frustrações e especialmente pela rejeição ao sistema político e à corrupção.”
Com o antipetismo na veia, ligada ao agronegócio e mulher, Ana Amélia foi recebida como “a vice dos sonhos” por Alckmin. Sua chegada à chapa foi considerada uma vacina ao principal adversário para um lugar no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL).
A campanha a colocou para rodar especialmente o Sul e o Centro-Oeste. A candidata cavalgou, dançou e tomou muito café ao lado do paulista de Pindamonhangaba.
Mas a chapa chega às vésperas do primeiro turno com 9% dos votos válidos, em empate técnico no terceiro lugar do Datafolha. E uma das mais contundentes evidências das dificuldades eleitorais de Alckmin vem justamente do partido de sua vice.
Selada a aliança com o centrão, em julho, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, não esperou nem acabar a reunião que oficializaria a coligação para declarar apoio a Lula em seu estado, o Piauí.
Semanas mais tarde, o candidato ao Senado pelo PP gaúcho Luiz Carlos Heinze oficializou o apoio até então informal a Bolsonaro.
Mais do que as traições, o centrão trouxe à chapa permanentes questionamentos quanto à sua idoneidade. Ciro Nogueira e outros líderes acumulam dezenas de inquéritos dentro e fora da Lava Jato.
“Todos os partidos têm problemas, simplesmente porque são compostos por pessoas, não por anjos!”, disse Ana Amélia. “Cada um precisa responder por seus atos. Eu respondo pelos meus. Não sou fisiológica! Meu discurso é e será sempre o combate a corrupção e à defesa da Lava Jato.” (Folhapress)
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