Um labirinto quase impossível de atravessar sozinho, mas que pode ensinar muitas coisas se você pede ajuda para superá-lo. Assim Lyoto Machida define os dois anos que passou longe do octógono por sua suspensão por doping. Aos 39 anos, o “Dragão” faz seu retorno neste sábado (28), contra o americano Derek Brunson, na luta principal do UFC São Paulo. E apesar da falta de ritmo natural, ele garante: está renovado e sedento para retomar as vitórias.
“Ritmo de competição, querendo ou não, você perde um pouco. É diferente treinar e pisar no octógono no dia da competição. Mas em termos técnicos, eu tive tempo suficiente para fazer alguns ajustes no meu jogo, tanto na parte de queda, de chão, como em pé. São ajustes sutis, mas são aspectos da luta que precisam ser trabalhados para a coisa funcionar de forma mais eficiente”, disse.
Com um estilo baseado na capacidade de antecipação, na esquiva e nos contra-ataques certeiros, é fundamental para Lyoto estar afiado. Ainda mais contra um rival do porte agressivo de Brunson, cujas últimas cinco vitórias no UFC foram por nocaute.
“Durante o treinamento cheguei a fazer cinco, seis rounds. Treino é treino, jogo é jogo. A luta tem outro aspecto: adrenalina, nervosismo. Mas confio muito no meu trabalho. Não estou treinando há 10 semanas, estou treinando há dois anos”, completou o brasileiro.
TERAPIA
Nos dois anos em que esteve fora do esporte, Lyoto se afastou não apenas das lutas, mas de todo o entorno do MMA. Sumiu da imprensa, falou pouco e se concentrou em cumprir a pena por ter sido flagrado em exame com a substância proibida 7-keto-DHEA, que ele consumiu a partir de um suplemento.
Só agora, prestes a voltar, ele abriu o jogo sobre o período de suspensão.
“Eu tirei um tempo para mim, queria me afastar de tudo isso, da mídia. Queria ver de fora, de outro ângulo. Estou muito feliz, porque capitalizei em cima dessa oportunidade e desenvolvi outras coisas. Muitas vezes a gente está ligado e pensa que a vida só tem um caminho. Isso mostrou para mim que a gente tem outros caminhos na nossa vida que a gente também pode trilhar”, afirmou.
Sem ajuda, porém, o ex-campeão dos meio-pesados do UFC sofreu nos primeiros meses. Só depois de buscar auxílio profissional e reconhecer a própria culpa no episódio do doping é que o atleta conseguiu superar a fase mais difícil da carreira.
“Todo ser humano precisa de terapia. Todo mundo precisa de um ajuste, de pessoas que possam te ajudar nessa hora. Muitas vezes a gente quer trilhar o caminho sozinho, mas isso não deixa de ser arrogante”, disse ele.
“A vida é como se fosse um labirinto: muitas vezes, você passa em 10 horas, enquanto o colega do lado passou em um minuto, porque pediu uma consultoria, leu um livro, não foi arrogante. E o outro ainda acha que fez bem em passar sozinho. Eu queria resolver sozinho, e aquilo se tornava mais difícil para mim. A partir do momento em que baixei a guarda e pedi ajuda, tudo começou a mudar”, completou.
CONTROLE
Apesar de ter sido muito festejado pela torcida no treino aberto da última quarta-feira (25), Lyoto sabe que sofreu julgamentos depois do episódio do doping. Tranquilo, o lutador afirma que não tem controlar o que as outras pessoas pensam e espera apoio maciço contra Brunson no Ginásio do Ibirapuera.
“Foi ótima a receptividade. Julgamento sempre vai existir, as pessoas julgam. Eu não tenho como controlar as outras pessoas. Só posso me controlar: controlar minha emoção, minhas palavras. Em relação às outras pessoas, não tenho como”, disse.
“Em um primeiro momento em que acontece tudo isso, você é rotulado como trapaceiro, como o cara que tentou se dar bem de alguma forma. Mas é principalmente pelas pessoas que não conhecem você. Você tem que ter a mente muito boa para trabalhar tudo isso. É muito fácil julgar, mas pela situação que eu passei, vi que é muito delicada a situação”.