Há dez anos, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) exigiu que as árbitras tivessem o índice masculino nos testes físicos para apitar jogos da Série A do Brasileiro. Desde então, nenhuma mulher foi escalada para trabalhar na elite do futebol masculino, mesmo estando apta após aprovação nos exames.
Edina Alves Batista, 38, e Deborah Cecília, 32, apontadas como principais árbitras do país, possuem o índice desde 2016. A CBF planeja que eles atuem em partidas da Série A em 2018.
“Faltam detalhes para isso acontecer [mulheres apitarem na Série A]. Elas [Edina Batista e Deborah Cecília] tiveram um progresso grande na parte física e sabem se movimentar bem em campo. Agora, precisam firmar o nome, amadurecer um pouco mais, já que a Série A é muito mais exigente em termos de cobrança em razão da visibilidade. Elas devem apitar mais jogos na Série B e, se corresponderem, devem apitar na primeira divisão”, afirmou o coronel Marcos Marinho, chefe da comissão de arbitragem da CBF.
A última vez que uma árbitra apitou na elite foi em outubro de 2005, quando Silvia Regina, 53, hoje na comissão de arbitragem da FPF (Federação Paulista de Futebol), dirigiu o duelo entre Fortaleza e Paysandu, pela 32ª rodada.
A exigência que obriga as árbitras a terem os mesmos índices físicos dos homens para apitar partidas masculinas foi feita pela entidade que comanda o futebol brasileiro em 2007 e implantada na temporada seguinte .
No teste físico, as candidatas precisam realizar seis tiros de 40 m abaixo de 6s, correr 75 m em 15 segundos e na sequência caminhar os 25 m restantes da pista em 20s -as duas últimas marcas precisam ser repetidas 40 vezes.
“O primeiro grande desafio da mulher atualmente é o teste físico, o que não acontecia antigamente. Houve uma evolução na preparação dessas árbitras buscando a igualdade com os homens. Não queremos estar à frente e nem atrás, mas ao lado na questão de igualdade. O que é para o masculino é também para o feminino”, disse Ana Paula Oliveira, ex-assistente e desde 2014 coordenadora nacional de instrução da CBF.
Atualmente, oito árbitras possuem o índice masculino: Beatriz Dantas, Katiuscia da Mota, Elaine da Silva Melo, Thayslane de Melo, Rejane Caetano da Silva, Regildenia de Holanda Moura, além de Edina Batista e Deborah Cecília –as quatro últimas possuem o escudo da Fifa, o alto grau da arbitragem.
A CBF registrou um aumento na procura de mulheres para obterem a qualificação. Em 2015, apenas duas árbitras do quadro tentaram fazer o teste para terem o índice exigido em competições masculinas e não conseguiram. No ano seguinte, foram oito tentativas e quatro aprovações. Em 2017, foram oito aprovadas de um total de 11.
O quadro completo feminino da CBF tem 17 árbitras. As nove que não possuem o índice masculino, apitam na categorias de base e em competições femininas.
Além das oito mulheres com índice para elite, 42 homens estão aptos. Em 2017, 35 foram escolhidos para trabalhar na Série A.
Já o número de assistentes mulheres com o índice masculino é bem mais representativo. Em 2017, 26 foram aprovadas, mas apenas duas trabalham no Nacional: Neuza Inês Back e Tatiane Sacilotti.
Além de passarem no teste físico, os árbitros e árbitras são avaliados pela entidade por performance em campo, análise técnicas e as condições psicológicas.
Aprovados, trabalham como quarto árbitro em competições femininas e de base, até chegarem às divisões inferiores do Brasileiro. Na sequência, exercem as funções nas Séries B e A do Nacional, onde também trabalham como adicional. A partir daí refazem o caminho, mas como árbitros centrais.
Edina e Deborah já estão neste caminho. A primeira apitou dois jogos da Série D, e Figueirense x Paysandu, pela Série B de 2017, além de ter trabalhado no Sul-Americano sub-17 feminino e na Copa Libertadores feminina. Ela também está pré-selecionada para o Mundial Feminino da França em 2019.
Deborah já apitou em três jogos da quarta divisão nacional, dois da terceira e em um jogo pela pela Série B, além de partidas pela Copa Verde e do Campeonato Pernambucano, como o clássico entre Sport x Santa Cruz e na semifinal entre Santa Cruz e Salgueiro.
“Série D, Série C e Série B são difíceis de apitar. No entanto, a Série A tem uma repercussão muito maior, a pressão midiática é quatro, cinco, seis vezes mais do que nas outras divisões. Por isso, trabalhamos com uma psicóloga [Marta Magalhães] para a árbitra lidar com os acertos e os seus equívocos”, completou Ana Paula.
EXEMPLO ALEMÃO
Nas principais competições masculinas de futebol do mundo também faltam mulheres apitando. A exceção é a Alemanha.
Em 2017, a Bibiana Steinhaus se tornou a primeira mulher a apitar um jogo masculino da elite entre as principais ligas europeias [Inglaterra, Espanha, Itália e França] e sul-americanas. Ela dirigiu o confronto entre Hertha Berlin x Werder Bremen, pelo Campeonato Alemão.