Depois de o colégio Visão demitir o professor de Sociologia Osvaldo Machado, alunos reagiram e fizeram uma manifestação (veja vídeo ao final) para cobrar um posicionamento da direção da escola.
“Nós, alunos do colégio Visão, não recebemos nenhum posicionamento oficial da escola sobre a demissão do professor Osvaldo. Tudo começou por meio de boatos que surgiram entre os próprios alunos e que foram confirmados por alguns professores, amigos mais próximos dele”, disse um aluno ao Diário de Goiás.
“As aulas do professor Osvaldo eram ótimas. Todo mundo adorava a maneira como ele explicava e dava exemplos da sociedade, como ele buscava solucionar problemas da sociedade, como racismo e homofobia, ensinando a gente a combatê-los. Ele sempre manteve uma posição neutra e nunca expôs a opinião, e sim os métodos sociológicos”, complementou.
A demissão foi provocada após repercussão entre pais de uma publicação do empresário e influenciador Gustavo Gayer, pré-candidato a deputado federal pelo PL, com críticas a uma charge usada pelo professor em uma prova de recuperação.
Autor da charge, o cartunista André Dahmer comentou o caso nas redes sociais.
“Queremos que a escola peça desculpas ao professor Osvaldo e o reabilite ao seu antigo emprego. Foi uma atitude precipitada pela direção da escola por pura pressão dos pais”, afirmou o aluno.
Um outro estudante, por meio de nota, reforçou o pedido. Veja abaixo a íntegra:
Venho por meio dessa evidenciar meu total descontentamento com o desligamento do professor Osvaldo do quadro de professores do Colégio Visão SEB. É importante destacar que Osvaldo é um dos melhores professores de sua área, fundamental para o sucesso de nós, alunos. Em todas as aulas, Osvaldo sempre promoveu o respeito, a disciplina e o debate, respeitando e acolhendo todos os posicionamentos. Ademais, é válido ressaltar que Gustavo Gayer, responsável pela veiculação de um vídeo que resultou na demissão de Osvaldo, foi mencionado na CPI da Covid, acusado de receber 40 mil reais para divulgar “fake news” sobre a Covid-19, além de receber destaque nacional após hostilizar enfermeiros que homenageavam vítimas do coronavírus. Diante disso, eu, cliente de Grupo SEB, deixo clara minha total insatisfação com a decisão de demissão do professor, e peço a reavaliação da decisão, haja vista o entendimento coletivo dos alunos de que Osvaldo estava apenas cumprindo seu trabalho, ato que faz com que excelência, sendo indispensável para a formação de cidadãos conscientes, atentos e participativos para a construção de uma sociedade melhor e, também, para o aprendizado necessário para a aprovação.
Sem mais para o momento, espero que meu pedido seja atendido.
A reportagem procurou o colégio Visão, que respondeu o seguinte: “A escola possui um Código de Conduta que veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar. A direção do Colégio mantém um canal de diálogo aberto com alunos e familiares, sempre pautando suas ações no Código de Conduta”.
Assista a uma parte da manifestação:
Alunos também colaram post-its pelo colégio como forma de protesto:
Ao Diário de Goiás, o advogado criminalista Valério Luiz, comentou o caso. “É inacreditável que um colégio, uma empresa, do porte e da história do Visão, onde eu estudei e guardo boas lembranças, e que era um colégio que estimulava a reflexão e a pluralidade; então o fato de se deixarem se intimidar pelo submundo da internet, por um youtuber que simplesmente reproduz o que há de mais mentiroso e preconceituoso no bolsonarismo com intenções eleitorais, é algo de se espantar”, afirmou.
Ele definiu a situação como uma injustiça e se colocou à disposição caso o professor queira levar a questão à justiça. “É espantoso que tenham cometido essa injustiça contra o professor e reforçado o discurso de ataque aos professores. No vídeo do Gustavo Gayer, ele fala de forma desdenhosa de uma disciplina, Sociologia, que é uma disciplina importante e o colégio, demitindo o professor está se coadunando com isso, pela reprodução de uma tirinha do André Dahmer, que é um artista goiano de repercussão nacional. Se o professor tiver direitos trabalhistas contra o colégio pode processar se não os receber todos e pode processar sim, por danos morais, tanto o Gustavo Gayer quanto o Colégio Visão e se assim desejar fazer eu inclusive estou à disposição”, ressaltou Luiz.
Em nota, o Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (SINPRO – GOIÁS) repudiou os fatos e manifestou preocupação diante do ocorrido. Confira um trecho do posicionamento:
“Após a divulgação do vídeo, com evidente distorção da finalidade da questão cobrada na prova de sociologia, o professor foi demitido pelo Colégio e ofendido nas redes sociais do youtuber, o que causa preocupação e repulsa em toda a categoria dos professores, já que a liberdade de ensinar, de aprender e do pluralismo de ideias, princípios constitucionais estabelecidos nos artigos 205, 206 e 214 da CF/88, podem ser tolhidos em clara condição de perseguição política e social, o que afronta a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 5537, publicada em 17/09/2020.
É inaceitável qualquer interferência no conteúdo ministrado em sala de aula com a finalidade de ceifar o direito de propagação do conhecimento e do livre pensamento e, mais ainda, é intolerável a exposição indevida do professor, pois a sua imagem, honra, liberdade de expressão e de ensinar são direitos humanos fundamentais e irrenunciáveis”, diz o comunicado.