Familiares de policiais militares do Rio fazem protestos em frente a ao menos seis batalhões da capital nesta sexta-feira (10). Desde o início da semana, parentes dos PMs se mobilizam nas redes sociais para repetir no Estado paralisação semelhante à que ocorre no Espírito Santo.
Como a Constituição veda greves da Polícia Militar, familiares de agentes driblam essa regra colocando-se diante dos batalhões e impedindo a saída das equipes de plantão.
Em nota oficial, o comando da PM no Rio diz que o “patrulhamento está normal em todo o Estado”. “A manifestação de esposas/parentes de policiais militares que acontece em algumas Unidades da PM, segue pacífica”, acrescenta.
A Folha esteve nas unidades com protestos. Os batalhões visitados pela reportagem que tinham mobilizações são: Batalhão de Choque, CCP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora, Ramos, zona norte), Terceiro (Méier, zona norte), Sexto (Tijuca), 16º (Olaria, zona norte) e 15º (Duque de Caxias, na Baixada Fluminense). Nesses locais, parentes se agrupam na entrada dos batalhões e impedem a saída dos carros da tropa.
Em Duque de Caxias, cerca de 30 pessoas impedem a saída dos policiais do batalhão. As mulheres dos policiais do 15º BPM montaram uma estrutura com banheiro químico, isopor, gelo e mantimentos, como água e pão.
Elas dizem que só sairão quando forem feitos os pagamentos de 13º e gratificações. Até as 9h15 desta sexta-feira (10) não era possível ainda mensurar os impactos da mobilização com relação ao policiamento na cidade.
A reportagem faz desde as 5h uma ronda pela cidade. Às 8h, a reportagem cruzou a Linha Amarela, importante via expressa que liga as zonas norte a oeste, e nenhum carro policial foi visto. Ao circular pelas ruas de Olaria, zona norte, a reportagem viu três carros da PM circulando.
Dez mulheres e parentes de policiais se colocaram na porta do 6º BPM (Tijuca) e impedem a saída dos carros de polícia. Elas não quiseram se identificar. Carregavam uma faixa e levavam apitos.
No local, a saída dos agentes é permitida somente após eles mostrarem que não levam a farda na bolsa.
Entre 6h20 e 6h45 nenhum carro havia saído. Duas cadeiras de praia foram colocadas na entrada da unidade. Era possível ver ao menos 20 policiais no interior da unidade, ao lado de carros parados.
Um policial tentou negociar a saída de um carro para render uma equipe de cinco homens que estão na UPP do Andaraí, zona norte, mas foi impedido. As mulheres estão desde 0h desta sexta (10) na porta do local, mas passaram a impedir o trânsito de veículos a partir das 5h.
“Estamos aqui por melhores condições de trabalho para nossos maridos. Não dá para eles trabalharem sem receber”, disse a fisioterapeuta D.R, 34 -ela não quis se identificar. Seu marido tem 13 anos de Polícia Militar.
“Eu nunca vi a tropa passar por isso. Eles não têm armamento, colete e o hospital da PM não tem material”, acrescentou. Servidores da segurança do Rio estão sem receber o 13º salário de 2016 e não receberam gratificações por trabalho fora da escala.
O protesto acontece depois do governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), anunciar que iria reajustar o salário dos agentes de segurança, após boatos de que haveria um motim de PMs no Rio. O reajuste anunciado, contudo, já havia sido negociado em 2014.
No centro, ao menos 12 mulheres de policiais militares do Rio fazem uma mobilização em frente ao Batalhão de Choque. A reportagem da Folha de S.Paulo encontrou o grupo com cartazes e apitos por volta das 5h10.
Durante os cerca de 20 minutos em que a reportagem esteve no local, apenas um carro deixou o batalhão, depois de um policial negociar a passagem.
Eles iam trabalhar na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Falet, favela no centro do Rio.
Os policiais que chegavam cumprimentavam as mulheres e agradeciam o apoio. Das 12 mulheres, apenas uma se identificou como filha de policial. O restante se identificou como mulher de policiais. Elas disseram que se mobilizaram por meio do aplicativo WhatsApp.
A policial civil A.M.R, 48, é mulher de um subtenente do Batalhão de Choque, que trabalha há 18 anos na corporação. Ela afirma que a paralisação é a única forma de se valorizar o trabalho da polícia.
“Eu não tenho medo do que possa acontecer no Rio com a greve, mas passou da hora de a polícia ser valorizada. Eu preciso pagar minhas contas atrasadas”, disse a mulher do subtenente.
Das 12 mulheres, quatro disseram estar com planos de saúde atrasados. Outras quatro disseram passar dificuldade para pagar aluguel.
Às 5h40, um grupo chegou com uma faixa, isopor e água. Entre os cartazes que carregavam, um deles dizia: “Você não gosta de polícia, chama o Batman.”
No 3o BPM (Méier), na zona norte do Rio, cinco mulheres também fazem mobilização. Elas estão diante da unidade e impedem a saída de carros de polícia.
As familiares dos PMs dizem que chegaram às 11h30 de quinta (9). A Folha esteve no local às 7h35 desta sexta (10).
Em Ramos, zona norte da cidade, quatro mulheres estão na porta da CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), que coordena as UPPs.
Um carro particular foi colocado atravessado na porta da unidade. Uma barraca de camping e uma escada deitada no chão também foram postas na entrada.
Do lado de dentro é possível ver cerca de 30 policiais aguardando para iniciar o serviço na cidade. O comando coordena todas as unidades das UPPs e fica próximo ao Complexo do Alemão, na Penha, zona norte.
Apesar do protesto que acontece no CPP, a coordenadoria da UPP negou, em nota, que haja greve. “O policiamento não foi afetado e as trocas de turno ocorreram normalmente.”
Por volta das 8h40, um grupo de 15 policiais tentou deixar a unidade. As mulheres deram as mãos e os PMs tiveram que voltar. Nenhum deixou o local.
No 16o BPM (Olaria, zona norte) uma tenda foi montada em uma das entradas do Batalhão. Nenhum carro ou agente saia do local.
A Folha de S.Paulo percorreu duas importantes vias expressas do Rio e viu carros da PM circulando.
Na Linha Vermelha, uma viatura foi vista na altura do Caju, zona norte.
Na Linha Amarela, uma viatura foi vista em frente a favela da Maré, e outras três em frente à Vila do João.
A reportagem percorreu esses locais por volta das 10h.
Em entrevista à TV Globo, o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, minimizou a dimensão do protesto, mas reconheceu que há manifestações pontuais. Segundo ele, 95% do território do Rio que é policiado está coberto.
“Conseguimos manter o diálogo com os manifestantes. Sabemos que a causa é justa, mas sabemos também do papel fundamental da Polícia Militar na sociedade. Estamos no limiar entre a a barbárie e a civilidade”, disse o major.
Ao ser confrontado com imagens do CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), onde acontece um protesto, reconheceu que famílias de policiais lotados em UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) estão se manifestando.
“Quando falamos de policiais que atuam em UPPs, falamos de policiais jovens, que têm alto índice de vitimização. Falamos também de policiais que já clamam, além de seus direitos, por melhores condições de trabalho. Alguns pontos que estão ainda em processo de pacificação estão ainda passando por essas questões.”
Apesar do protesto que acontece no CPP, a coordenadoria da UPP negou, em nota, que haja greve. “O policiamento não foi afetado e as trocas de turno ocorreram normalmente.”
Folhapress