Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (10), o governador Ronaldo Caiado (UB) reclamou do impedimento por parte do Ministério da Economia, que ele atribuiu ao ministro Fernando Haddad, a um empréstimo de R$ 770 milhões, já avalizado no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O problema se arrasta desde o final de 2023. O dinheiro era para obras de infraestrutura e o bloqueio foi decorrente de uma portaria de Haddad.
A portaria, entretanto, foi expedida ainda em abril, restringindo operação para ações de infraestrutura aos estados inseridos no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), como é o caso de Goiás. O motivo do assunto ser relembrado agora foi a visita do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em Goiânia, na sexta-feira (6).
Lula discursou dizendo que tem governado de forma democrática e sem perseguir os divergentes ideologicamente, citando o governador goiano, representado no evento pelo vice, Daniel Vilela. Caiado estava de férias na Grécia a convite do cantor Gustavo Lima.
A queixa do governador veio exatamente no bojo da resposta quando perguntado pelo jornalista Altair Tavares, editor-chefe do Diário de Goiás, sobre a passagem do presidente Lula em Goiânia, quando houve elogios e críticas ao governador goiano. Caiado começou a responder indicando a frustração com a expectativa de vários repasses que ainda não ocorreram para obras em parceria com o governo federal.
“Primeiro nunca recebemos nenhum centavo para o Hospital Cora, que é um dos compromissos. Em segundo lugar, não tivemos nenhum avanço no BRT de Brasília a Luziânia. O terceiro pedido é em relação ao apoio que daria na construção de policlínicas e de [estruturas do sistema] penitenciário”, citou o governador.
Mais adiante ele foi direto na questão do empréstimo barrado. “Além disso, fomos penalizados, aí, sim, por uma atitude que eu não esperava do ministro da Economia, o [Fernando] Haddad, onde o Estado de Goiás tem a condição de poder fazer empréstimo junto ao BID, e que, infelizmente, depois de tudo aprovado no Tesouro e também na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, foi baixada uma portaria específica para revogar a prerrogativa de Goiás poder tirar R$ 770 milhões de reais para obras de infraestrutura”, questionou.
A portaria impedia a União de ser parceira nos empréstimos, dando garantias aos estados no RRF. Na época, nem o governador, nem o ministério, nem a Secretaria do Tesouro Nacional comentaram a questão.
Somente a então secretária da Economia de Goiás, Selene Peres, comentou os prejuízos, dizendo em entrevista ao jornal O Popular, não achar explicação para o fato porque Goiás tinha alcançado nota máxima (A), no RRF. O assunto logo foi relacionado nos bastidores do governo goiano à movimentação de Caiado para uma candidatura à Presidência em 2026.
A reportagem procurou a Assessoria de Imprensa do Ministério da Economia para comentar o assunto, mas ainda não obteve resposta.
O governador lembrou que tinha solicitado os valores em Washington. “Conseguimos essa verba e ela foi vetada num viés única e exclusivamente ideológico e caracterizando um verdadeiro tiro político. Segundo ponto, causa estranheza porque que as rodovias de fuga foram excluídas do leilão das BRs, que será feito agora”, citou também. Nesse ponto, reiterou sua interpretação de “problema político-ideológico”.
“De repente nós fomos avisados que o leilão não terá mais certa inclusão das rodovias goianas, serão apenas as autovias federais. Então, isso são situações que têm me preocupado profundamente”, continuou ele.
Caiado disse que espera uma resposta de Lula sobre o impedimento ao empréstimo e falou em retaliação, insistindo que estava citando dados concretos disso. “Não estou trazendo para o imaginário (…) Quer dizer, cancelar R$ 770 milhões do Estado de Goiás, sendo que ele tem toda a capacidade de arcar com isso por uma portaria específica para vetar isso de Goiás… é algo que, sem dúvida nenhuma, provavelmente o presidente não deve estar sabendo, e que eu gostaria de estar aqui até para poder dizer isso aí”.
O governador se queixou também que três obras do PAC prometidas para Goiás não aconteceram ainda.