Distante da vida pública desde que deixou o Palácio das Esmeraldas em dezembro de 2018, o ex-governador de Goiás José Eliton está de volta à atuação partidária. Quase três anos após a derrota nas eleições em 2018 para Ronaldo Caiado (DEM), o advogado assumiu na última quarta-feira (03/03) a presidência estadual de um PSDB fragilizado também pelas derrotas de 2020 e que tenta vislumbrar dias melhores. Para ele, a missão frente à legenda será não apenas de reunir as penas do tucanato goiano após duas derrotas seguidas mas além disso, é mirar a reconstrução de uma legenda que por quatro vezes teve sucesso em pleitos majoritários com seu antecessor, Marconi Perillo que o acompanhará na vice-presidência tucana no estado.
Por telefone, Eliton atendeu a reportagem do Diário de Goiás algumas horas após o diretório estadual do partido confirmar seu nome como presidente. O trabalho de reconstrução passa por já começar o planejamento para 2022. Além disso, o mira por fortalecer a oposição no Estado ao atual governador Ronaldo Caiado (DEM) mas não apenas: o PSDB quer cristalizar uma forte oposição nacional à Bolsonaro. “O partido irá se posicionar de maneira muito clara dentro de um sentimento que vem tomando corpo em todo o partido não só em Goiás, de sermos um partido claramente de oposição ao projeto desenvolvido no governo federal e estadual.”
O ex-governador pontua que o momento é de comparar as gestões. Como está sendo tocada as direções dos governos em Goiás e no Brasil e a partir daí, executar aquilo que deverá ser planejado ao longo do tempo até 2022. Terá pouco tempo para tentar reconstruir os quadros e superar as recentes derrotas, mas quer conduzir uma oposição de forma diplomática. “Fazer oposição não é agredir, não é atacar, não é xingar, mas é ser incisivo nas colocações. No debate administrativo, político”, destacou.
Éliton também quer a retomada das origens que construíram a legenda. “As bandeiras que ocasionaram a fundação desse partido: Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, figuras expressivas da República brasileira que tem na gênesis do partido bandeiras sólidas de defesa à democracia, defesa de valores constitucionais, defesa de uma política de alto nível”, pontua. O ex-governador também falou sobre a crise institucional e partidária que legendas tradicionalistas como o PSDB vem passando. “Não é só no Brasil. Mas um fenômeno que atinge outras republicas”.
Após ver prefeitos saírem do ninho tucano nos últimos tempos e serem abraçados pela base do governo, não preocupa o novo presidente do PSDB as perdas nos quadros. Ao contrário, José Eliton diz que isso faz parte do jogo eleitoral e vai em busca de nomes fortes para o partido. “Isso sempre ocorreu em todas as eleições e vai ocorrer. Vamos ganhar quadros como vamos perder quadros do PSDB daqui até à eleição”, destacou.
ENTREVISTA COM JOSÉ ELITON – PRESIDENTE ESTADUAL DO PSDB
PREPARAÇÃO PARA 2022
É com esse espírito de estar junto com os companheiros, estar pronto para o embate das ideias, do debate, é que eu tomei a decisão de estar à frente do partido para a condução e preparação dele para as eleições de 2022. O partido tem uma história muito importante no Estado de Goiás. Tem um universo de realizações tanto na área de desenvolvimento econômico, infraestrutura, educação, segurança pública. Temos um know how que poucos estados têm na definição de políticas de inclusão social. O Estado de Goiás foi o estado que conseguiu a maior rede de proteção social do país e hoje essa rede está sendo aos poucos desativada, em função das convicções que tenho, é importante que o partido se prepare de forma tranquila e firme para as eleições de 2022. É dentro dessa perspectiva que eu vou atuar como presidente do partido. Ora, observando claramente algumas questões pragmáticas do processo eleitoral, priorizando a formação de chapas para a Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.
FORTES NO PLEITO?
O partido com certeza terá candidato a governador e os demais cargos majoritários em disputa no ano de 2022. Esse é mais um trabalho que nós vamos fazer daqui até 2022 naturalmente com todas as lideranças do partido e parlamentares. Vamos buscar uma série de reuniões virtuais, claro, com as limitações da pandemia. Esperamos que em breve ela passe para que possamos ter reuniões presenciais. Vamos ter discutir com todos os filiados do partido dos 246 municípios. Juntamente, com o ex-governador Marconi, com os deputados do partido, com os prefeitos, vice-prefeitos e construindo uma agenda partidária para 2022 do ponto de vista pragmático das eleições.
PERDA DE PREFEITOS PARA OUTRAS LEGENDAS
Isso sempre ocorreu em todas as eleições e vai ocorrer. Vamos ganhar quadros como vamos perder quadros do PSDB daqui até à eleição. Agora eu acho que do ponto de vista ideológico quando você é eleito por um partido, você tem compromisso por esse partido, naturalmente você vai defender essas bandeiras. Sabemos que os instrumentos que o governo está utilizando são instrumentos de cooptação de lideranças de prefeito, cabe a cada um fazer sua avaliação. Eu espero e tenho convicção que nossos líderes locais tenham a dimensão exata da dimensão do seu papel perante a sociedade. E, vou defender, com muita tranquilidade, as condições do partido. Naturalmente, o diálogo com todos os prefeitos, vereadores e lideranças partidárias para estabelecermos uma relação muito próxima entre nós e os prefeitos. É claro que nós sabemos das angústias dos gestores municipais, especialmente em momentos de crises. Agora, o PSDB tem muito a ofertar para as suas lideranças. Tem nas suas lideranças a base maior do partido. Temos lideranças consolidadas em todo o estado de Goiás e vamos continuar construindo o partido porque em constrói naturalmente são as lideranças de cada um dos municípios. E é esse o trabalho que vamos fazer com todos os prefeitos, vereadores, deputados, vamos convidar todas as lideranças para fazer um processo eleitoral pragmático.
RESGATE DA HISTÓRIA
Quero contribuir com o partido no sentido de resgatar as bandeiras históricas do PSDB. As bandeiras que ocasionaram a fundação desse partido: Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, figuras expressivas da República brasileira que tem na gênesis do partido bandeiras sólidas de defesa à democracia, defesa de valores constitucionais, defesa de uma política de alto nível. Fazer oposição não é agredir, não é atacar, não é xingar, mas é ser incisivo nas colocações. No debate administrativo, político.
TUCANATO À OPOSIÇÃO
Agora eu acho que é o momento em fazer comparações entre os nossos governos e o governo atual. Tanto no âmbito do Estado de Goiás como no âmbito federal, o partido irá posicionar de maneira muito clara dentro de um sentimento que vem tomando corpo em todo o partido não só em Goiás, de sermos um partido claramente de oposição ao projeto desenvolvido no governo federal e estadual. Mas vamos posicionar muito além da comparação, é preciso perguntar também quais as perspectivas e caminhos que o PSDB entende que sejam os melhores para Goiás em 2022. Estabelecer um diálogo político com todas as forças partidárias. Vamos buscar construir se for possível, uma frente política, com partidos progressistas, partidos que tenham uma visão similar à nossa. Construir uma agenda de temas importantes. Eu quero ter a oportunidade de conversar com todos os partidos políticos que tiverem dispostos a abrir diálogo para construir senão uma aliança pragmática para as eleições, pelo menos construir bases para um eventual segundo turno nas eleições de 2022. O partido estará agora com os olhos focados e atenção toda focada na construção de um longo projeto para Goiás e contribuir com o projeto nacional do partido.
BALANÇO PÓS ELEIÇÕES MUNICIPAIS
No Estado de Goiás, é bom lembrar que tivemos uma derrota em 2018, o partido naturalmente foi para a oposição em uma posição ferida e machucada com todo o poderio das estruturas e bases do governo no ataque ao PSDB mas nem por isso deixamos de estar entre os partidos mais importantes, somos o segundo maior partido no número de filiados no Estado de Goiás, temos 21 prefeitos que foram eleitos, mais de 20 e tantos outros vice-prefeitos, centenas de vereadores espalhados no Estado de Goiás como um todo. Acho que o resultado tanto no Brasil como em Goiás foram satisfatórias, dadas as circunstâncias eleitorais do momento.
FRAGILIDADE DOS PARTIDOS TRADICIONAIS
É um fenômeno que acontece com diversos partidos e em alguns casos observado em outros países do mundo que representa a fragilização das instituições democráticas em alguns deles. Os partidos políticos têm uma importância fundamental para o processo democrático, o que estamos observando no país é justamente uma desconstrução das estruturas partidárias. Independente de ser de esquerda, de centro, de direita, do ponto de vista de construção de papel partidário e consequentemente de ações a serem executadas quando esse partido eventualmente assume esse poder.
Nós temos um exemplo que está em discussão no Congresso Nacional, que seria a aprovação do distritão. Hoje a eleição é proporcional porque o sistema é proporcional, é representativo da população para marcar também a representação das minorias e quando você estabelece o distritão, você acaba por fragilizar a representação das minorias no parlamento brasileiro. São circunstâncias que fragilizam as estruturas partidárias e com isso você deixa o país cada vez mais suscetível a esses salvadores da pátria.
FIGURAS MESSIÂNICAS: O POPULISMO EM DERROCADA
Essas pessoas que vem com um discurso demagógico, muito fácil que encanta a população num momento e depois vem uma frustração muito forte. Nós já observamos isso quando o Fernando Collor na primeira eleição da redemocratização do país, observamos agora esse fenômeno com a eleição do presidente Jair Bolsonaro com um discurso messiânico. E a população começa a observar que esse messianismo não retrata em conquistas para a sociedade, ao contrário, muitas vezes você coloca em xeque o próprio pilar da Constituição da República que é o Estado Democrático de Direito.
Quando você observa o presidente da República que trata o jornalista da forma como é tratado pelo presidente Jair Bolsonaro você observa que algo está errado, que você vê um equívoco de condução. O presidente, governador, prefeito, seja ele um parlamentar que representa o estado na Câmara dos Deputados, no Senado da República, nas Assembleias ou Câmara dos Vereadores ele tem que ter liturgia ao cargo e respeito ao cidadão. Quando você perde essas noções e referências, você perde a condição elementar de fortalecimento das instituições. Eu tenho uma visão para mim que isso é um desafio que o modelo democrático brasileiro precisa estar atento a essa questão.
O CONVITE
Assim que Jânio [Darrot, ex-presidente do PSDB em Goiás] formalizou sua renúncia da presidência do partido, eu fui chamado pelo partido e conversei com o presidente Bruno Araújo, presidente nacional do partido que me telefonou e insistiu para que eu assumisse a presidência. Falei com o ex-governador Marconi. Muitas lideranças do partido que eu já tinha falado, do estado inteiro. E obviamente eu tenho responsabilidade partidária, sou filiado ao PSDB, tenho convicções ideológicas às bandeiras do PSDB e nos momentos importantes eu acho que a gente tem que estar pronto para dar nossa contribuição.