Pouquíssimos torcedores do Palmeiras apostariam que Deyverson seria o herói da conquista do tricampeonato da Copa Libertadores. Mas o roteiro do “herói improvável” se impôs pelo segundo ano seguido. Depois de Breno Lopes garantir o bi sul-americano no início do ano, Deyverson garantiu a “glória eterna” com o gol da vitória sobre o Flamengo, neste sábado, 27, no estádio Centenário, e o terceiro título na história do Palmeiras. O herói do tri é o polêmico, criticado e iluminado Deyverson.
“Tive altos e baixos. Não culpo ninguém pelos altos e baixos. Cometi falhas, mas nunca deixei de trabalhar e ajudar meus companheiros. Só tenho que agradecer a Deus. Não tenho palavras para agradecer meu pai, minha mãe, meu empresário, um cara sensacional. Só agradecer a Deus por tudo e por essa conquista maravilhosa. Estou muito feliz. Nem sei explicar”, afirmou o atacante após a conquista no estádio Centenário.
As circunstâncias do gol histórico também foram improváveis. Depois de uma falha bisonha do meia Andreas Pereira, no começo da prorrogação, o atacante do Palmeiras avançou sozinho e tocou de perna esquerda na saída do goleiro Diego Alves. Foi apenas o primeiro gol de Deyverson na Libertadores e o quinto da temporada. Na comemoração, ele já começou a chorar.
No final do jogo, o atacante também desabafou em relação ao favoritismo atribuído ao Flamengo, segundo ele, por parte da imprensa. “As pessoas que falam muitas coisas, mas elas têm de respeitar o Palmeiras e todos os grandes jogadores que passaram por aqui. Vencemos um grande adversário, mas o Palmeiras também é gigante.”
O herói da conquista também comentou a diferença da ocupação do estádio, que teve mais flamenguistas que palmeirenses. “Eu vi muitos falando pelo celular que o estádio tinha mais torcida do Flamengo do que do Palmeiras. Mas o importante não é quantidade e sim qualidade. Qualidade da torcida e qualidade do grupo do Palmeiras. Essa conquista não é do Deyverson, mas de todo o grupo e de toda a torcida.”
Nesta edição da Libertadores, ele esteve no centro de uma polêmica. O Atlético-MG protocolou junto à Conmebol um pedido de revisão do lance que culminou no gol do Palmeiras no jogo de volta das semifinais da Libertadores. Deyverson invadiu a lateral do gramado pouco antes de Dudu marcar, enquanto Gabriel Veron conduzia a bola rumo à pequena área. Depois de muita pressão dos atleticanos pela anulação da semifinal, a Conmebol divulgou o áudio do VAR na hora do lance, que confirmou o gol legal e somente sugeriu cartão amarelo para o atacante palmeirense. O Palmeiras estava confirmado na final.
Mesmo que seu protagonismo na final tenha sido surpreendente, Deyverson reafirma sua condição de talismã. Ele já havia feito o gol do título do Campeonato Brasileiro de 2018, na vitória sobre o Vasco, estádio São Januário. A contrário de Breno no ano passado, que era uma opção de velocidade sempre elogiada e pedida pelos torcedores, Deyverson está longe de ser uma unanimidade. Ele não é titular. Na decisão, ele passou à frente de Luiz Adriano e acabou sendo escolhido para entrar no segundo tempo.
Depois do gol histórico, o atacante protagonizou mais um lance esquisito em sua carreia. No último minuto da prorrogação, após uma conversa com o árbitro Nestor Pitana, ele tomou um leve tapa nas costas do juiz, como um “vamos lá”. Mas o atacante se jogou no chão como se tivesse sido agredido.
Comprado com o aporte da Crefisa por R$ 19 milhões em julho de 2017 a pedido do então técnico Cuca, Deyverson tem sido uma das figuras mais controversas do Palmeiras nos últimos anos. Sob o comando de Felipão, ele foi importante para a conquista do último título do Brasileirão pelo clube em 2018. Ele não conseguir manter o bom desempenho no ano seguinte e foi emprestado para Getafe e Alavés, ambos da Espanha.
Sem poder contar com Luiz Adriano em boa parte desta temporada, em função de uma lesão grave no joelho direito, o técnico Abel Ferreira pediu à diretoria a contratação de um jogador para a função. Como não foi atendido, o português precisou se contentar com Deyverson. Em várias entrevistas, o atacante agradece a maneira como foi recebido pelo treinador português.
“Sou emotivo, fico feliz pela minha volta, professor Abel muito obrigado pelo carinho, por ter me dado mais uma chance. Tive muitas com o Felipão também. Saí um pouco criticado, entendo a chateação do torcedor, mas quando voltei todo mundo me recebeu de braços abertos”, salientou o atacante após a vitória sobre o Juventude por 3 a 0, em junho, quando foi titular pela primeira vez.
O contrato do atacante Deyverson se encerra no dia 30 de junho de 2022. Dessa forma, em janeiro ele já poderia assinar um pré-contrato com qualquer clube para deixar o Palmeiras sem custos ao término do vínculo. Se qualquer torcedor for questionado sobre a permanência do atacante neste sábado, a resposta provavelmente será uma só: “Fica, Deyverson!”.
(Conteúdo Estadão)