Brasília – O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães, tentou amenizar o clima de enfrentamento que toma conta do Congresso, depois que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta manhã rompimento com Planalto.
Segundo José Guimarães, apesar das declarações de Cunha, o governo “vai continuar a relação com o PMDB” porque “a aliança é com o PMDB e não com as pessoas”. E emendou: “Essa aliança com o PMDB, sob o comando do presidente Michel Temer, é fundamental para a governabilidade e para as vitórias que nós temos tido no Congresso”.
Depois de lembrar que os Poderes são independentes e autônomos, Guimarães ressaltou que o momento é de manter a tranquilidade para tratar a situação. “Não podemos aumentar nossos batimentos cardíacos por isso”, afirmou o líder.
O deputado repudiou ainda o que chamou de “ilações” tentando responsabilizar o governo por vazamentos de informações e acusações que constam das delações premiadas. Ele se referia às acusações de Cunha de que o governo estava contribuindo para acusá-lo. “Isso não tem sustentação política. O governo nem protege os seus, e nem os outros”, avisou Guimarães.
Enquanto o clima ferve no Congresso, a presidente Dilma Rousseff está reunida, no outro lado da rua, no Palácio do Itamaraty, com seis presidentes do enfraquecido Mercosul, de onde não deve sair nenhuma decisão política importante.
Dilma chegou ao Itamaraty pouco depois das 9h. A presidente, no entanto, já foi informada por assessores das falas de Cunha e também das manifestações do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que, em nota, reafirmou a necessidade de rediscutir o atual modelo de coalizão e criticou medidas do ajuste fiscal os juros “pornográficos” praticados no País.
O governo ainda está inerte, sem uma decisão uniforme de como irá se comportar ou reagir às declarações de Cunha de ontem e de hoje, agora acrescidas da fala de Renan, que faz ameaças veladas em suas novas falas.
Interlocutores da presidente consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo disseram que preveem momentos ainda mais difíceis politicamente. O fato de Cunha e Renan estarem sendo alvos de investigações, embora a olhos de alguns possa parecer benéfico para o Planalto, gera uma instabilidade política muito grande, é um sinal de que nada mais que seja necessário será aprovado neste Congresso.
O problema é que o ajuste fiscal precisa ser concluído no Senado e Renan já avisou que isso não será mais possível. De qualquer forma, o governo tem uma esperança que, que apesar do cenário ruim agora, o clima possa melhorar com o recesso parlamentar. A expectativa não é compartilhada por boa parte dos assessores palacianos.
Enquanto isso, o vice-presidente Michel Temer, que embarcou no fim da tarde de ontem para São Paulo, permanece na capital paulista, mas com o telefone em punho conversando com seus interlocutores em Brasília, inclusive Cunha e Renan, na tentativa de não deixar que o esgarçamento chegue ao rompimento, que já foi traçado.
Temer ainda mantém uma agenda de viagem para Nova York, prevista para domingo. Na segunda-feira, Temer tem palestras marcadas para ajudar o governo a vender o Brasil lá fora. O primeiro compromisso é na Universidade de Cornell. Na terça, estará em uma associação de advogados norte-americanos para uma nova palestra a empresários que investem no Brasil.
(Estadão Conteúdo)