Política

Aliados divergem sobre retorno de Gustavo Mendanha ao MDB

Quando anunciou sua desfiliação do MDB, o então prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (hoje no Patriota), em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais no dia 28 de setembro de 2021, confessou paixão pelo ninho emedebista e disse que despedia-se “sonhando num período que quem sabe eu possa voltar ao MDB“.

O tom de despedida não poderia ser outro: tristeza e lamento. Gustavo Mendanha não concordava com a postura de parcela do partido que havia consolidado apoio ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil) ainda num período prévio às eleições 2022 que terminaria na reeleição com aquele que até outro dia era não só aliado político mas amigo pessoal: Daniel Vilela, também foi eleito vice-governador.

De lá para cá, 574 dias se passaram até o dia 25 de abril quando em entrevista a este repórter, Gustavo Mendanha revelava seu encontro e a retomada das relações com o vice-governador Daniel Vilela (MDB). Também dizia que um convite de retorno ao MDB estava à mesa e seu retorno dependia de algumas condições, afinal de contas, o ex-prefeito de Aparecida projeta grande e até dias atrás colocava-se à oposição do governador Ronaldo Caiado.

Analistas e aliados divergem sobre o retorno de Mendanha ao partido que o elegeu duas vezes prefeito de Aparecida de Goiânia. Se por um lado, uns defendem que trata-se do partido que Gustavo construiu a maior parte da sua história, tem identificação e por isso deve voltar, outros partem da tese que o político deve buscar protagonismo e consolidar sua oposição a Caiado para 2026.

“Mendanha conquistou um capital político muito grande para ficar às sombras de Daniel Vilela no MDB. É ótimo que ambos se reconciliem, mas ele tem de ir a um lugar que possa ter garantias que fará oposição construtiva ao governador Ronaldo Caiado e possa se firmar como líder dessa oposição”, destaca um aliado que pediu para não ser identificado. “Ele saiu da Prefeitura de Aparecida como líder local e agora é uma liderança estadual. As pessoas querem que ele dispute as eleições em 2024 por Goiânia e só não o fará pois a legislação não permite”, salienta.

Especialista prevê ‘constrangimento na base’ com retorno de Gustavo Mendanha

O cientista político e professor Guilherme Carvalho também vê com certo pragmatismo o retorno de Mendanha à sigla emedebista. “Talvez seja prematuro”, pondera ao Diário de Goiás. “Não é fácil olhar para 2026 em 2023. Os custos de uma configuração errada ou anúncios prematuros impõe dificuldades para redesenhos”, pondera.

Algumas indagações são feitas para 2026: com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) lançando uma pré-candidatura ao Senado Federal, já que dificilmente a presidência da República irá vingar, o vice-governador Daniel Vilela (MDB) caminharia para encabeçar a campanha. “Já são duas cadeiras dentro da aliança União Brasil-MDB na majoritária em uma coalizão muito grande de partidos”, destaca.

Guilherme diz que é díficil cravar o retorno de Mendanha com as garantias que ele pede. “Me parece um custo alto que iria gerar constrangimentos na base muito complicados. Um anúncio como esse gera estremecimentos com outros aliados a curto prazo. É um MDB diferente.”

O professor reforça: é interessante que o ex-prefeito de Aparecida acena a bandeira branca, mas o aconselharia a esperar mais tempo para cravar o retorno ao MDB. “Eu acredito que o Mendanha faz bem ao tentar talvez dar sinalizações mas não faz bem em efetivar uma filiação neste momento. Ele deve continuar mantendo seu nome ativo, mas sem dar passos muito rápidos. Acho que uma filiação seria interessante lá por 2025, daqui dois anos. Talvez não seja o momento agora, pois todas as cartas serão colocadas à mesa e gera imprevisibilidade futura para ele e seu grupo”, salienta.

Mendanha tenta ‘sobrevivência política’ ao retomar diálogo com MDB, avalia cientista política

A cientista política Ludmila Rosa acredita que o ex-prefeito de Aparecida, apequenou-se após o período das eleições em 2022. “Não compreendeu o momento político e fez uma leitura de cenário além da sua musculatura política e da capacidade do grupo ao qual integrava de arregimentar lideranças e partidos mais proeminentes que o amparasse mesmo em caso de derrota eleitoral, que foi o que se configurou”, pontuou.

Não bastasse a derrota, Rosa avalia que Mendanha perdeu a influência poderosa que tinha na política aparecidense. “Com isso, acabou ilhado e perdeu parte da sua influência sobre a política aparecidense, a qual tinha expressivo domínio até a passagem do bastão administrativo ao então vice e, agora, prefeito [Vilmar Mariano].”, destaca.

Rosa avalia que o contexto faz com que Mendanha avalie com parcimônia o convite para retornar ao MDB, haja vista que, seu futuro político irá passar por essa decisão. “Nesta senda, com inúmeras dificuldades impostas e correndo o risco de ser duramente posto à margem da política em nível de estado, o diálogo com o MDB e com o seu antigo aliado, Daniel Vilela, parece ser uma bóia jogada a um náufrago”, destaca. 

E Ludmila ainda destaca que se para Mendanha pode significar sua sobrevivência, ao vice-governador significa pragmatismo de uma boa aliança. “Daniel, por outro lado, já mira, pragmaticamente, em 2026 e tenta trazer pra perto de si potenciais opositores futuros, mas com os quais pode chegar numa concórdia no presente. Me parece ser o caso”, ponderou.

Se tem outros convites, Ludmilla não acredita que seja lucrativo para Mendanha. No PL, legenda que quase chegou a se filiar antes de rumar para o Patriota, ficaria distante do MDB e sem muita expectativa para 2026. Já no PSD, que está na base do governador, pode ser uma boa jogada, mas Gustavo ficaria em “posição menos destacada”, afinal de contas, “o partido tem quadros preferenciais para ocupar cargos de notabilidade.”

Retorno de Gustavo Mendanha ao MDB é “vantajoso”… para Daniel Vilela

O professor e especialista em marketing político Marcos Marinho indaga: o retorno de Mendanha ao MDB é vantajoso para quem? Para o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, pouco, pois ficaria “à sombra de Daniel Vilela”. Para o vice-governador, importante pois traz para seu lado, um político que conquistou bom capital eleitoral nos últimos anos.

“Ele sempre foi emedebista e a saída dele foi por briga de espaço. Ele achou que era o momento de ser candidato e resolveu ‘peitar’ a estrutura. O retorno dele, honestamente, eu não sei se é vantajoso. Se é vantajosa, é vantajosa para quem?”, indagou.

Marinho acredita que o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia não tem perfil de ficar na retaguarda de outro político. “Temos de pensar que o Mendanha deixa claro que tem pretensões grandes. Não vejo ele com aquele tipo de político que está disposto a esperar décadas e décadas para ocupar seu lugar ao sol. Ele deixou isso claro na eleição passada. No MDB, Mendanha não terá espaço que ele quer. Ele está disposto a ficar abaixo do Daniel por quanto tempo?” 

Marinho, então, avalia que para o vice-governador, conseguir o retorno do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia é um ótimo negócio. “Daniel é um político jovem igual a ele e que está num espaço de muito mais vantagem como vice-governador e na liderança do partido. Entendo que para o Daniel é útil trazer o Mendanha porque o Mendanha tem base e capital político relevantes. Daniel traz para perto de si alguém que ele precisa do lado dele e não deixaria Mendanha suplantá-lo numa oposição.”

“Para Daniel é ótimo. Já para o Mendanha já não sei. Se a disposição de aguardar na fila será longa. Se ele entra no MDB para sair de novo ele vai se deteriorando como liderança política.”

Marinho avalia que antes de retornar ou não ao MDB, Mendanha precisa delimitar seu projeto político para acabar não se perdendo em próximas disputas. “Está num momento do Gustavo Mendanha perceber de fato e determinar qual seu projeto político. Quem não tem projeto faz parte do projeto de alguém. Se o Mendanha não tiver um projeto claro e estruturado, não sobrará outra opção senão ele fazer parte do projeto do Daniel. É uma situação que será lidada daqui até 2026, pelo menos.”

Aliado vê momento certo para retorno

O deputado estadual Veter Martins (Patriota) e ex-vice-prefeito de Aparecida na primeira gestão de Gustavo Mendanha é um dos patrocinadores da reaproximação entre ex-prefeito de Aparecida de Goiânia. O parlamentar defende que gestos “de grandeza” ocorram por parte da dupla.

Veter dá sua benção para o retorno do ex-prefeito de Aparecida ao MDB. “Entendo que passado as eleições o momento é de pensar no melhor para Goiás e nesse contexto a união de forças é fundamental. Gustavo é jovem e tem um grande  futuro na política e amigo do vice-governador”, avaliou.

Veter avalia que é questão de tempo para que Mendanha retorne à velha casa. “Daniel Vilela, teve um gesto de grandeza quando buscou a reconciliação e fez o convite para que o Gustavo retorne ao MDB. Cabe agora ao Gustavo retribuir, agindo com a mesma grandeza do vice-governador”, completou.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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