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A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (29), às 6h, o empresário e advogado José Yunes, 80, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer (MDB) na operação Skala.
Foram presos ainda o coronel João Batista Lima Filho, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (MDB), aliados de Temer, e o empresário Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos.
Detalhes da operação têm sido tratados com sigilo pela PF e pela PGR.
Muito próximo do presidente da República, o coronel Lima, que vinha há meses adiando depoimentos à PF com justificativas de problemas de saúde, foi tirado de casa em uma ambulância e levado a um hospital de São Paulo.
Rossi foi preso às 6h em sua casa, em Ribeirão Preto, e levado à PF na cidade para prestar depoimento. Depois, será encaminhado à superintendência da PF em São Paulo.
Ele, que foi ministro da Agricultura nos governos Lula e Dilma, é pai do deputado Baleia Rossi, líder do MDB na Câmara.
Segundo investigadores, também foi alvo de mandado de prisão Milton Ortolan, assessor de Rossi.
Grecco foi preso em sua casa, em Monte Alegre do Sul (SP) e foi levado à Polícia Federal em São Paulo.
Também foram feitas ações de busca e apreensão na sede da Rodrimar e na casa do Grecco, em Santos.
Segundo a PF, ao menos 15 mandados estão sendo cumpridos nesta quinta, entre prisões e busca e apreensão.
Também foi presa, no Rio, a empresária Celina Borges Torrealba Carpi, uma das donas do grupo Libra. De acordo com o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, o grupo, concessionário do porto de Santos, foi beneficiado pela medida provisória do setor.
A norma permitiu à empresa renovar seus contratos, apesar de estar inscrita na dívida ativa da União. A PF investiga doações eleitorais feitas por integrantes da família Torrealba ao PMDB.
A PGR trabalha com a hipótese de que a doação oficial de R$ 1 milhão feita por dois sócios da Libra à campanha de Temer em 2014 tenha sido propina em troca do decreto, o que a empresa refuta. Naquele ano, Temer foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff (PT).
A empresária foi presa em seu apartamento, no Leblon. Agentes também realizaram operação na sede do Libra, no centro da cidade.
As detenções foram autorizadas pelo ministro Luis Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do inquérito que investiga Temer por suposto recebimento de propina em troca de benefícios a empresas do setor portuário via decreto.
Barroso apontou indícios de corrupção, lavagem e organização criminosa.
A decisão poderá ser revista pelo STF ao longo do dia após o cumprimento de todos os mandados.
Em nota, a Procuradoria-Geral da República informou que os mandados foram pedidos ao STF pela procuradora-geral, Raquel Dodge, no âmbito do inquérito dos portos.
“Instaurada em setembro do ano passado, a investigação apura suspeitas de irregularidades na edição de decreto relacionado ao funcionamento de portos. Como se tratam de cautelares que ainda estão em cumprimento pela PF, para embasar investigações em curso, o Ministério Público Federal (MPF) não divulgará, por ora, os nomes dos alvos dos mandados”, informa a PGR.
A PF disse, em nota, que “por determinação do STF, não se manifestará a respeito das diligências realizadas na presente data”.
O ex-ministro dos Portos e atual prefeito de São José do Rio Preto (SP), Edinho Araújo (MDB), foi intimado para prestar depoimento. Segundo a GloboNews, ele foi ouvido durante cerca de uma hora e meia.
Araújo falou entre que está disponível para esclarecimentos e negou ter participado de irregularidades. Ele foi ministro em 2015, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
As defesas de Yunes e Grecco disseram que a prisão é temporária, de cinco dias.
O advogado José Luis Oliveira Lima, que defende Yunes, disse ser “inaceitável a prisão de um advogado com mais de 50 anos de advocacia, que sempre que intimado ou mesmo espontaneamente compareceu a todos os atos para colaborar”.
“Essa prisão ilegal é uma violência contra José Yunes e contra a cidadania.”
Oliveira Lima disse que não há nenhuma novidade na investigação sobre o porto de Santos que justifique a prisão de seu cliente. “No caso do José Yunes, não há nenhum fato novo. Essa prisão é uma loucura”, afirmou.
O advogado afirmou que seu escritório vai ingressar ainda nesta quinta (29) com um pedido de revogação de prisão no Supremo.
O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) saiu em defesa de Michel Temer e disse que o presidente Temer não tem nada a ver com o assunto da operação.
O advogado de Rossi, Abmailson Santos de Oliveira, afirmou que vai entrar com pedido de habeas corpus no STF.
De acordo com ele, a prisão do ex-ministro foi desnecessária. “São coisas referentes ao tempo que nem sequer ele trabalhava como ministro ou presidente da Codesp”, disse Oliveira.
Posteriormente, em nota, a defesa afirmou que Rossi pode ser facilmente encontrado em Ribeirão para qualquer tipo de esclarecimento. “Nunca foi chamado a depor no caso mencionado. Portanto, são abusivas as medidas tomadas. Apesar disso, Wagner Rossi está seguro de que provará sua inocência”, afirmaram os advogados.
Segundo a defesa, o ex-ministro está aposentado há sete anos e, desde então, nunca mais atuou profissionalmente na vida pública ou privada. Também nunca mais participou de campanhas eleitorais ou teve relacionamentos políticos.
O ex-ministro foi levado para o IML, de onde seria transferido para São Paulo. Na saída do local, ele disse que a investigação não tem elo com ele.
O Grupo Libra não se manifestou.
A Rodrimar, em nota, diz que foi surpreendida pela operação em dia de feriado no Judiciário, “impossibilitando o acesso dos advogados aos autos”.
“A Rodrimar esclarece que nunca pagou propina a nenhum agente público e nunca autorizou que alguém o fizesse em seu nome. A ‘famosa’ mala de dinheiro não saiu da Rodrimar nem era destinada a ela ou a seus executivos, como já foi esclarecido nos autos da investigação”, afirmou a empresa.
A companhia diz ainda considerar estranho que um inquérito da década de 1990, “já arquivado e no qual ninguém da Rodrimar tenha sido sequer intimado, tenha sido usado para esse extemporâneo mandado de prisão”.
Yunes é citado em inquérito sobre o decreto dos portos que investiga Temer, o ex-deputado e ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) e um sócio e um diretor da empresa Rodrimar, que atua no porto de Santos (SP).
Também é mencionado o coronel Lima, aposentado da Polícia Militar de São Paulo e próximo do presidente desde os anos 1980.
A investigação apura se Temer praticou os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Editado em maio do ano passado, o decreto suspeito ampliou de 25 para 35 anos os prazos dos contratos de concessão e arrendamento de empresas que atuam em portos e permitiu que eles possam ser prorrogados até o limite de 70 anos.
O presidente nega o envolvimento em irregularidades. (Folhapress)