Dois dias antes de assumir o cargo de ministro da Secretaria de Governo, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) apresentará nesta terça-feira (12) à CPI da JBS seu parecer em que pretende pedir o indiciamento da antiga cúpula da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Marun disse à reportagem que deverá pedir o indiciamento do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de Eduardo Pelella, chefe de gabinete braço direito de Janot, e o ex-procurador Marcello Miller.
Para o deputado, ficou evidente que houve “orientação de membros da antiga cúpula da Procuradoria-Geral da República para que pessoas com foro privilegiado fossem investigados sem autorização do STF [Supremo Tribunal Federal]”.
Marun destacou os casos do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), gravados por executivos da JBS.
“Isso, por si só, produz as condições para o indiciamento”, avaliou o relator.
No entendimento de Marun, Janot trabalhou pela saída de Temer para que o procurador-geral da República pudesse atuar em benefício próprio.
“Há evidências de que o objetivo maior de tudo isso era a deposição do presidente da República para que o procurador-geral da República controlasse sua sucessão ou fosse seu próprio sucessor”, avaliou Marun.
Pelella é mencionado em diálogos de delatores da JBS como um interlocutor da PGR. Ele teve reunião com um deles, o advogado Francisco Assis e Silva, dias antes do encontro, em 7 de março, entre Joesley Batista, da JBS, e o presidente Michel Temer no Jaburu. Janot e seu ex-assessor negam qualquer irregularidade.
Carlos Marun afirmou que ainda avalia que tipo de procedimento poderá adotar em relação aos executivos da JBS, mas já decidiu recomendar o cancelamento dos benefícios obtidos por causa da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista e de Ricardo Saud.
“Quanto à recomendação do fim dos benefícios é porque, antes de mais nada, é evidente a participação do procurador Marcello Miller neste processo. Um procurador da República orientando ativamente os delatores na promulgação do acordo”, disse Marun.
Em depoimento à CPI da JBS em novembro, Miller afirmou que “fez uma lambança” ao ter participado das negociações de acordo de delação premiada e leniência da empresa e seus executivos.
O ex-procurador se defendeu de acusações e disse que não cometeu crime, mas admitiu ter ajudado os irmãos Joesley e Wesley Batista antes de ter deixado oficialmente o Ministério Público.
Miller, no entanto, negou ter orientado Joesley a gravar o presidente Michel Temer.
A CPI tem como objetivo investigar “irregularidades envolvendo as empresas JBS e J&F em operações realizadas com BNDES e BNDES-PAR ocorridas entre os anos 2007 a 2016” e os “procedimentos do acordo de colaboração premiada celebrado entre o MPF e os acionistas da empresas JBS e J&F”.
A entrega do relatório é a última missão de Marun como deputado antes de assumir a Secretaria de Governo, na quinta-feira (14), no lugar do tucano Antonio Imbassahy, que pediu exoneração na sexta-feira passada (8).
Marun integrava a tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso.
Ele também é um dos principais defensores de Temer.
Quando a Câmara arquivou a segunda denúncia da PGR contra Temer, Marun comemorou com uma dancinha em plenário. (Folhapress)