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Hospitais privados vêem piora da situação em Março e reclamam que não são ouvidos pela prefeitura

Assim como o sistema público de saúde, os hospitais privados de Goiás estão sofrendo a pressão da segunda onda da covid-19. Na semana passada, a Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) informou que já não dispunha de mais leitos. A situação, no entanto, pode piorar.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes Goiânia, o presidente da entidade, Haikal Helou, afirmou que o cenário atual indica uma tempestade perfeita, com possibilidade de que haja maior demanda que oferta. Ele citou, inclusive, que os hospitais têm dificuldade para comprar medicamentos e insumos para garantir a internação de pacientes graves. Além disso, reclama que a Prefeitura de Goiânia chamou empresários para tratar da pandemia e a entidade não foi convidada.

Helou também concorda com o governador Ronaldo Caiado, que espera um mês de março repleto de más notícias.

O presidente destacou ainda a interiorização da doença e a mudança de perfil dos pacientes que se agravam após a contaminação pelo coronavírus.

Confira a entrevista na íntegra

Ontem o senhor dizia que havia fila de espera de pacientes com covid-19 nas unidades. Como está hoje?

Hoje não tive relato ainda. Nosso relato tende a ser no fim da manhã, mas não há relato também de alteração no quadro. Dificilmente o que vimos ontem desaparece de uma hora para outra. Ontem era um dia de pacientes graves no CTI, pacientes aguardando vagas nos prontos-socorros e incapacidade de transferência inter-hospitalar. Dificilmente mudou hoje pela manhã.

O governador Ronaldo Caiado disse que o mês de março será o pior que vamos enfrentar na pandemia. Março tem como ser pior que estamos acompanhando agora?

Tem. Não há nada ruim que não possa piorar. O governador tem uma assessoria técnica com pessoas muito boas. Se ele diz isso é motivos para ficarmos preocupados. Se me dissessem isso um ano atrás que estaríamos vivendo isso agora, eu chamaria de louco. Nossa expectativa é que isso durasse três, cinco meses. Um ano depois, não só durou, como está pior. O que estamos vivendo agora, não vivemos ano passado. É uma tempestade perfeita. Não é coisa de Mãe Diná. Você observa nos noticiários o que aconteceu em locais onde o negócio começou antes. Por exemplo, ontem São Paulo, que é a maior rede de assistência do país, teve sua maior taxa de ocupação. São Paulo está 15, 20 dias na frente de Goiânia. Você olha e diz: “Estamos caminhando para isso”. Qual nosso problema? Não temos o tamanho da rede de São Paulo. Aqui vamos de cheio a lotado em meia hora. Vamos de lotados a desesperados em duas, três horas. É preocuopante. O governador, tenho certeza, não disse isso do nada. Embasaram-no. Alguns dados chegaram à mão dele e deixam claro que a coisa está ruim e pior.

A vacinação ainda não casou um efeito regressivo? A complicação em pacientes mais jovens é uma realidade?

A Inglaterra teve uma queda na internação em 85%. Isso não é mágica. As pessoas foram vacinadas em grande quantidade. Enquanto isso não acontecer aqui, esquece qualquer outra coisa no sentido de baixar a pandemia. Temos que isolar as pessoas, o que elas até agora se mostraram incapazes. Há uma omissão de boa parte das autoridades, principalmente municipais, e uma baixa taxa de vacinação. Temos visto que, infelizmente, está em 2,5% da população. Enquanto não atingimos 50%, não se resolve.

Outro ponto é o perfil do paciente. Estamos com vários pacientes jovens, graves e internados. Aquela ideia de que jovem não pega, e se pegar não é nada, não se traduz. Ele complica menos, mas complica. O que mata mais não é o vírus, é a falta de assistência. Você é jovem, pegou a doença, complicou e não tem leito hospitalar, sua chance de sair é baixíssima.

A rede privada também sofre a pressão de pacientes do interior?

Muito. A gente vê o caminhar da doença para o interior. Somos do elo da saúde suplementar. Não trabalhamos com o sistema estatal. No sistema suplementar, a pressão é igual vive-se no sistema público. A diferença é que o sistema público tem uma capacidade plástica que não temos. Você vê tal lugar sendo encampado, virando hospital de campanha, médicos são transferidos, verbas realocadas. Nós não temos nada disso. Quando você vê a situação piorando e a dificuldade…Somos um dos elos da cadeia. Outros elos da cadeia não têm se manifestado, nem sido convocados. As operadoras estão com lucro recorde na pandemia e não se manifestam nessa discussão. Então acabou custando aos hospitais um sacrifício brutal durante o ano, em todos os sentidos: humano, financeiro, físico, mental, tudo. Estamos exauridos em todos os sentidos. Agora que o filme começa. Quando parte da sociedade percebe que as coisas não foram embora como elas imaginavem. Pelo contrário, estão piorando.

Há risco de falta de medicamentos e insumos como aconteceu em outros estados?

Isso aconteceu e acontece ainda em determinados segmentos: relaxante muscular, anestésicos, sedativos. Isso flutua. Mas o que preocupa mais é o que a gente chama da demanda suplantando a oferta. É a falta de diversos insumos, mas principalmente a falta de um leito, pois sem um leito não adianta você ter medicamento, respirador; a falta de gente, porque as pessoas estão largando, cansadas e não dão conta mais dessa pressão. Há um cenário que caminha para uma tempestade perfeita. Você vê pessoas dizendo que não dão conta mais de dar plantão. Há serviços querendo expandir e não conseguem contratar. Faltam medicamentos ou você encontra esses medicamentos por 400, 800 vezes o valor que tinha antes. Temos hospitais com prejuízo histórico porque têm que comprar e não é repassado. Você não recebe de volta o que gastou. Estamos, inclusive, entrando na Justiça para cobrar das operadoras o aumento de custos que estamos tendo na pandemia. Há um risco da demanda suplantar a oferta e termos escassez de tudo. É uma possibilidade que não podemos descartar. Tenho sempre na mente Manaus. Olhe o que está acontecendo no interior de São Paulo, que é uma região muito rica e desenvolvida. Parem de achar que aqui somos especiais e que aqui não vai chegar. Todas as vezes que fazem essa aposta nós perdemos.

O senhor vê necessidade de um lockdown geral no estado de Goiás?

Tenho muito cuidado com isso porque fui muito atacado na primeira onda. Não entro nessa seara mais. Medicina é muito baseada em observação e repetição. Vejo o que funcionou em determinado paciente, vejo se é um padrão, repito e vejo se obtenho os mesmos resultados. Isso é o que fazemos em Medicina. Estou observando Alemanha, Holanda, Inglaterra. O que eles fizeram e o que estamos fazendo. Aqui tem aquela história de que um bar não pode ter música, mas igreja pode. As pessoas estão criando jabuticabas. Olha para a Alemanha, para a Nova Zelândia, para o Canadá. Você vai ver uma conduta padrão. Aqui não. Aqui vou diminuir uma hora no funcionamento de tal coisa. Vejo aqui uma leniência, uma dificuldade em se entender a gravidade.

Somos muito pouco ouvidos. Fazemos parte do COE estadual, onde temos toda a liberdade de discutir. Mas vejo, por exemplo, ontem (a prefeitura) se reuniu com a 44, com a Federação do Comércio, da Indústria. Nós do segmento de saúde privado, que respondemos por grande parte do atendimento, nunca conversamos com ninguém da prefeitura. O secretário é meu amigo. Já conversamos sobre situações pontuais. Mas o diálogo com o setor de saúde da capital, como está? O que podemos fazer? Nada. Sinto saudade do Maguito. Era um amigo, um gestor. Não estou dizendo que esse prefeito não seja, mas até agora a prioridade não pode ter sido a saúde, porque não se discutiu com a saúde privada, que é parte grande da assistência na nossa capital.

Redação / Diário de Goiás

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