ALEX SABINO E SERGIO RANGEL, ENVIADOS ESPECIAIS
MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – Diego Maradona, 57, foi convidado para passar uma tarde com o rei Abudallah II bin Al-Hussein, da Jordânia. Havia a promessa de comida, bebida e passeio de helicóptero pela capital, Aman. O argentino foi, mas ao chegar na frente do palácio, mudou de ideia, sem dar explicações.
“Vou embora.”
E foi. Deixou o rei esperando. O histórico camisa 10 argentino gosta de desafiar autoridades. Se estas forem da Fifa, melhor ainda. Referia-se ao ex-presidente João Havelange apenas como “aquele jogador de polo aquático”. Chamou Joseph Blater de “corrupto”. “Tenho problemas com quem está no poder”, reconheceu.
Agora o irascível, desbocado e rebelde Maradona virou grande amigo de Gianni Infantino, 47, eleito presidente da Fifa em fevereiro de 2016.
Ele será um dos assistentes do sorteio dos grupos da Copa. Pelé também estará no evento como convidado. Na atual administração da Fifa, ao contrário das anteriores, o argentino é mais próximo do poder do que o seu rival pelo aposto de “melhor de todos os tempos”.
Em 2000, o brasileiro e o argentino estiveram juntos na cerimônia de escolha de melhor jogador do século XX da Fifa. A eleição seria realizada pela internet. Como Diego ganhava com folgas, foi feita uma segunda escolha, com especialistas. Pelé venceu e Maradona ficou em terceiro, atrás do argentino Di Stéfano.
Ao perceber o que tinha acontecido, foi embora enquanto o brasileiro era chamado ao palco.
A última vez que os dois apareceram juntos em sorteio de grupos foi no Mundial de 2006, na Alemanha. Eram convidados de honra da organização. Em dezembro de 2009, Pelé esteve na África do Sul para definição das chaves da Copa-2010. Maradona era técnico da seleção argentina mas, suspenso, não foi.
“COMANDANTE”
Todos os ex-jogadores que serão assistentes de palco no sorteio falaram com a imprensa nesta quinta (30). Menos Maradona, que alegou cansaço. Pelé não deverá participar do evento. Ambos são pagos pela organização. O valor não é revelado.
“Maradona e Infantino discutem todos os temas possíveis referentes ao futebol. Eles estão realmente muito próximos”, disse Victor Stinfale, advogado e sócio do ex-jogador.
Nomeado embaixador da Fifa por Infantino, a quem chama de “comandante”, aprovou todas as medidas anunciadas pelo dirigente. Até mesmo o crescimento da Copa do Mundo para 48 seleções. Quando o torneio foi expandido para 32 seleções em 1998, o argentino criticou a ideia.”Agora sim a Fifa é limpa porque tem um presidente como Infantino”, disse recentemente.
Na comemoração de 18 meses da nova administração, em julho, Infantino promoveu uma partida amistosa em sua cidade natal, Brig-Gills, na Suíça. O astro da festa foi Maradona. Na época, o ex-goleiro paraguaio José Luiz Chilavert chamou o argentino de “bicho de pelúcia de Infantino”.
“Adoro Maradona. É uma pessoa importante para a Fifa”, afirmou o presidente ao diário “La Nación”.
A sintonia entre os dois é tamanha que Maradona criticou Messi porque, em janeiro deste ano, o atacante do Barcelona não foi à entrega do prêmio de melhor do mundo da Fifa. Infantino se irritou com a ausência.
Um dos segredos da aliança é que Infantino sabe apelar ao ego de Maradona. Diego acredita que deve sempre ser valorizado como protagonista onde quer que esteja. Em uma das conversas entre os dois, o presidente da Fifa disse que o novo embaixador sempre será o principal nome em qualquer evento que a Fifa peça sua ajuda. O argentino quer ser ouvido e que sua opinião tenha peso.
Ele sabe tanto o seu valor que quando o diretor Asif Kapadia voou de Londres para Dubai para gravar um documentário, avisou que não sairia do quarto porque estava com dor de cabeça. Diante da lembrança de que o cineasta havia voado da Inglaterra apenas para vê-lo, decidiu pedir desculpas pessoalmente e marcou outro horário.
“Não se preocupe. Estou acostumado a manejar celebridades”, disse o diretor.
O craque mandou de volta: “Você está acostumado a manejar celebridades. Mas nunca manejou um Maradona.”
Infantino aprendeu rápido como fazê-lo.