O diretor da CIA (agência de inteligência americana), Mike Pompeo, nomeou para a vice-diretoria do órgão uma agente ligada à tortura de dois suspeitos de terrorismo em 2002, quando chefiava uma prisão secreta da CIA na Tailândia.
Gina Haspel passou a maior parte de sua carreira na agência em postos no exterior, como agente clandestina. Ela desempenhou um importante papel no “programa de rendição extraordinária”, que ganhou força no governo de George W. Bush (2001-2009), em que os EUA enviavam suspeitos de terrorismo para prisões secretas em outros países para interrogatório.
Haspel supervisionou o interrogatório de dois detentos na prisão tailandesa, Abu Zubaydah e Abd al-Rahim al-Nashiri. Zubaydah foi submetido ao afogamento simulado por 83 vezes em um mês e teve a cabeça batida sistematicamente contra a parede, até que os agentes da CIA decidiram que ele não tinha informação para fornecer.
As sessões de interrogatório foram gravadas, mas as fitas com as gravações foram destruídas em 2005. O nome de Haspel aparece no documento que ordenou a destruição dos arquivos.
Pompeo, diretor da CIA, elogiou sua nova número 2 em nota, afirmando que Haspel é “uma oficial exemplar de inteligência e uma patriota com mais de 30 anos de experiência na agência”. Ela será a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-diretora.
Em meio a um debate sobre a possibilidade da volta de técnicas de interrogatório consideradas como tortura e vetadas pela lei americana, Pompeo já declarou que não vê o afogamento simulado dessa forma.
O presidente Donald Trump afirmou, em entrevista no mês passado, que “devemos combater fogo com fogo”, quando questionado sobre técnicas de interrogatório usadas contra suspeitos de terrorismo.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) criticou a nomeação de Haspel à vice-diretoria da CIA. “Pompeo precisa explicar ao povo americano como a promoção feita por ele de uma pessoa envolvida em tortura combina com sua promessa ao Congresso de que ele rejeitaria todas as formas de tortura e abuso”, disse o diretor da ACLU, Christopher Anders.
Internamente, porém, Haspel é respeitada pela grande maioria dos colegas. Membros da comunidade de inteligência que serviram ao ex-presidente Barack Obama (2009-2017), como o ex-diretor de inteligência James Clapper, elogiaram a nomeação da funcionária.
A postura em relação a Haspel, apesar de seu papel no interrogatório de detentos envolvendo tortura, reflete uma visão ainda comum dentro da CIA: como a administração Bush declarou que os métodos eram legais, os agentes estavam apenas fazendo seu trabalho.
A agência americana operou secretamente ao menos nove prisões durante o governo Bush, em seis países: Afeganistão, Tailândia, Polônia, Romênia, Lituânia e em Cuba (Guantánamo).
Em sua primeira semana de governo, em 2009, Obama ordenou o fechamento dos centros ainda ativos no Afeganistão e Guantánamo -este, porém, permanece aberto.
(FOLHAPRESS)