O mercado financeiro reagiu com tranquilidade às mudanças no comando da Petrobras, com a troca do atual presidente, o general Joaquim Silva e Luna, pelo economista Adriano Pires, indicado pelo governo para assumir a estatal. As ações preferenciais, sem direito a voto, da estatal subiram 2,22% e fecharam em R$ 32,31 cada; já as ações ordinárias, com direito a voto, subiram 1,23%, e encerram o dia em R$ 34,53.
Pires tem uma atuação técnica no setor de energia e é renomado tanto na ala política quanto empresarial. A avaliação de analistas e investidores é de que a troca de comando não deve trazer mudanças significativas na política de preços da Petrobras.
“O nome de Adriano Pires foi bem recebido pelo mercado, é alguém do setor de petróleo e gás, com conhecimento técnico e respeitado na área. A substituição foi uma decisão política, sem dúvida, mas há percepção de que existe uma certa blindagem em relação a interferência (do governo) nos preços (dos combustíveis), o que se reflete também na diminuição da presença em refino”, disse Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos
Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do banco Credit Suisse, disseram, em relatório, que Adriano Pires é nomeado em um contexto de alta pressão política sobre os preços dos combustíveis, o que pode levantar preocupações de intervenção política na Petrobras. Mas lembram que Silva e Luna deixará o cargo após um mandato de um ano que começou em meio a incertezas políticas semelhantes em torno dos preços dos combustíveis no início de 2021. “Sob sua liderança, a Petrobras continuou a seguir os preços de paridade internacional e apresentou bons resultados em 2021”, escreveram eles.
Os analistas apontam que, em uma reportagem recente, Adriano Pires se opôs a qualquer interferência direta nos preços da refinaria da Petrobras como solução para os problemas de preços de combustível no Brasil. “Ao contrário, ele propõe outras soluções, como um fundo de estabilização de combustíveis ou subsídios temporários para mitigar a volatilidade dos preços no curto prazo”, concluem.
Também em relatório, o banco Safra destacou que, em entrevistas e artigos, Pires sempre defendeu manter os preços da Petrobras alinhados com os preços de importação, e que qualquer iniciativa para mitigar os altos preços dos combustíveis devem ser custeados pelo governo, e não apoiadas em recursos da Petrobras. Ele também se manifestou a favor da venda de parte do refino da companhia, ressaltou o banco.
“Embora mudanças na política de preços não possam ser totalmente descartadas, entendemos que a combinação das declarações de Pires, o estatuto da empresa e a lei para empresas estatais aumenta a probabilidade de continuidade”, disse o banco, ressaltando que a estatal não está apenas apresentando uma boa situação financeira, mas também protegida por um arcabouço legal que ajuda a evitar o controle de preços pelo governo.
Os analistas Leonardo Marcondes e Monique Greco, do Itaú BBA, também disseram não esperar alterações significativas na política de preços de combustível da Petrobras. Ainda assim, disseram ver a notícia como negativa, “porque a Petrobras pode continuar enfrentando desafios recorrentes para garantir a convergência de preços para a paridade internacional”.
Em relatório, eles reforçam que Pires é um renomado consultor do setor e tem apoiado uma solução mais estrutural para a complexa equação dos preços dos combustíveis que concilia os interesses dos acionistas da Petrobras com os consumidores brasileiros, criando um mecanismo de estabilização a ser financiado pelos royalties do petróleo e gás.
“No curto prazo, esperamos que os investidores se concentrem na política de preços de combustíveis da empresa e em possíveis mudanças na diretoria. Ressalta-se que a manutenção da paridade internacional não é apenas um componente essencial para garantir a sustentabilidade do abastecimento brasileiro de combustíveis, mas também ajuda a Petrobras a atingir sua meta de desinvestir parte significativa de sua capacidade de refino”, destacam.
Na visão do Itaú BBA, a alocação ineficiente de capital pode voltar a ser o calcanhar de Aquiles da empresa e deve ser a principal preocupação dos investidores. “Neste ponto, acreditamos que o principal risco da Petrobras é a manutenção de seu plano de negócios e, consequentemente, de sua estratégia de alocação de capital”, apontam. (Por Luísa Laval e Denise Luna Colaborou Luís leal/Estadão Conteúdo)