O cantor americano Bob Dylan não irá à cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, em dezembro, anunciou a Academia sueca nesta quarta-feira (16), citando uma carta em que o artista alega “ter outros compromissos”. “Ele gostaria de poder receber o prêmio em pessoa, mas outros compromissos tornaram isso impossível, infelizmente. Ele ressaltou que se sente extremamente honrado por este prêmio”, comunicou a instituição.
O cantor e compositor norte-americano, de 75 anos, foi premiado com o Nobel “por criar novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção americana”.
SILÊNCIO
A decisão é divulgada após um longo episódio envolvendo o silêncio do músico sobre sua condecoração. Vencedor do Nobel de literatura no início de outubro, Bob Dylan falou sobre o prêmio pela primeira vez em entrevista ao jornal britânico “The Telegraph” quase 20 dias depois do anúncio. “É difícil acreditar”, respondeu o cantor, que relatou à publicação que receber a notícia foi “maravilhoso, incrível. Quem não sonha em algo como isso?”.
Dylan também revelou que sua presença na cerimônia não seria algo fora de cogitação. “[Irei] absolutamente, se possível”, ele afirmou. Tradicionalmente, os laureados recebem o prêmio das mãos do rei da Suécia em uma cerimônia realizada sempre em 10 de dezembro, em que devem fazer um discurso.
O comunicado sobre o não comparecimento de Dylan à cerimônia do Nobel põe em xeque o recebimento do prêmio em dinheiro que seria concedido na ocasião. Para receber os US$ 900 mil dólares da honraria, os vencedores do Nobel de literatura devem fazer uma palestra sobre literatura -ou, no caso de Dylan, até uma apresentação- dentro de seis meses.
O silêncio do compositor incomodou membros da Academia Sueca, que concede a honraria -um deles chamou publicamente Dylan de arrogante. Após tentativas fracassadas de contatá-lo, a entidade anunciou na semana passada que havia desistido de procurar o vencedor do Nobel. Questionado pelo “Telegraph” sobre as negativas, Dylan foi lacônico: “Bem, estou aqui”, sem maiores explicações.
A Academia Sueca despertou alguma polêmica ao escolher Dylan, já que muitas pessoas questionaram se seu trabalho se qualifica como literatura, enquanto outras se queixaram de que a Academia perdeu a oportunidade de chamar atenção para artistas menos conhecidos. Ao longo dos anos, outros laureados recusaram o prêmio. Um deles foi o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre em 1964.
Alguns anos depois, quando Sartre passou por dificuldades, seu advogado escreveu à Fundação Nobel pedindo que enviassem o dinheiro a Sartre, o que lhe foi negado.
(Folhapress)