Era 13 de setembro de 2016 e Marcelo Serrado batia um papo com Domingos Montagner regado a algumas cervejinhas. Eles falavam sobre a vida. Estavam hospedados na casa de Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, na Bahia, onde gravavam cenas da novela “Velho Chico” (Globo).
Serrado não imaginava que, cerca de 72 horas depois, no dia 15, Montagner morreria afogado nas águas do rio São Francisco, na cidade de Canindé do São Francisco (SE).
“É uma coisa muito louca. A vida é um sopro”, diz Serrado, em conversa com a reportagem.
O ator, que ajudou nas buscas ao colega enquanto estava desaparecido, relembrou os momentos que antecederam à notícia da morte. Ele gravava cenas com Marcos Palmeira, em uma lancha, há cerca de duzentos metros de onde estavam Montagner e Camila Pitanga, que presenciou a tragédia.
Serrado não tem o costume de levar celular para gravação, mas nesse dia levou. Recebeu várias mensagens desencontradas dizendo que “algo estranho tinha acontecido com Domingos, que ele tinha desaparecido.”
“No início não foi um desespero. Não achamos que a coisa era grave. O Domingos era grande, imaginei que ele tivesse segurado em alguma pedra. Quando terminou a gravação, eu e o Marcos [Palmeira] fomos procurá-lo de lancha, ele olhando pro lado esquerdo e eu pro direito. O desespero foi quando a gente chegou na praia e viu aquelas duzentas pessoas.”
O ator diz que não tinha uma relação de amizade com Montagner antes de contracenar com ele em “Velho Chico”, mas relata que se aproximaram bastante durante as gravações.
“Ele é um artista que sempre admirei muito. Ele era um cara extremamente correto, brincalhão palhaço, né? E ao mesmo tempo muito ligado à família dele”, afirma.
Serrado conta que, na época do falecimento do amigo, as pessoas na rua vinham lhe dar os pêsames como se Montagner fosse seu parente.
“[A morte de Domingos] mexeu muito comigo. Foi uma coisa muito dilacerante para quem estava lá com ele. Continuar aquele trabalho foi uma coisa muito dura para todos nós.”
ETERNO PALHAÇO
Santo, personagem de Montagner em “Velho Chico”, marcou a 12ª participação de Montagner na televisão, que apresentou o ator no seriado “Mothern” (GNT), em 2008.
Em 2011, recebeu seu primeiro papel em uma novela, já com destaque, como o cangaceiro Herculano em “Cordel Encantado” (Globo). Depois, transformou-se em rosto recorrente na emissora, atuando em títulos como “Salve Jorge” (2012) e “Sete Vidas” (2015).
Ele estreou nos cinemas em 2012, fazendo uma participação no longa “Gonzaga – de Pai Pra Filho”
O ator, no entanto, fazia questão de se afirmar palhaço. Começou a carreira estudando com a atriz Myriam Muniz e, em seguida, no Circo Escola Picadeiro. Foi lá que conheceu Fernando Sampaio, com quem criou o grupo La Mínima, em 1997.
“Domingos estourou já com seus 45 anos. Ele foi um cometa. Estourou e depois só fez protagonista. Não tinha ninguém da idade dele assim: forte, bonito, meio grisalho, tipo um George Clooney, extremamente bom ator, que veio do circo, que tinha uma companhia”, diz Serrado, que é fã assumido de Montagner. “O Domingos era um ser de luz.”
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