SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os resultados por escola do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2015 indicam que 91% das unidades públicas do país ficaram com desempenho abaixo da média do Brasil. Entre as particulares, esse percentual é de 17%.
As médias do Enem por escola foram divulgadas oficialmente nesta terça-feira (4) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame.
Levando em conta todas as escolas do país (públicas e privadas) com dados divulgados, a média alcançada pelos alunos foi de 515,8. Das 8.732 escolas públicas com notas divulgadas, 7.793 ficaram abaixo desse nível. Já entre as particulares, são 1.061 escolas -de um total de 6.266- com notas abaixo da média.
Para calcular a média geral das escolas, a reportagem considerou as notas das quatro provas objetivas do Enem: linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. O Inep divulga as notas de cada escola, levando em conta o desempenho dos alunos da unidade, para cada área da prova, além da redação.
Só são divulgados os dados de escolas em que ao menos metade dos alunos participaram do Enem. Também é necessário um mínimo de dez alunos participantes. Dessa forma, 60% das escolas públicas brasileiras ficam fora da lista. No Estado de São Paulo, por exemplo, 75% das unidades não tiveram notas divulgadas. A participação no Enem nas escolas particulares é o oposto. Só 23% das escolas privadas do país não atingiram o critério mínimo de divulgação.
De acordo com o professor da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Alavarse, as informações podem representar a dificuldade de as escolas promoverem a participação dos alunos no Enem. “É um drama, a escola pública não consegue acreditar no aluno e fazer com ele também acredite”, diz.
DESIGUALDADE
O Enem é usado como vestibular por praticamente todas as universidades federais do país. A USP, por exemplo, vai selecionar 22% dos alunos no próximo pelas notas no exame.
Dados do Enem por escola devem ser analisados com cautela para avaliar a qualidade das redes, segundo especialistas. “O que o Enem faz é retratar a desigualdade do Brasil na oferta educacional”, diz Alavarse.
A média das escolas públicas no país foi de 486,5. A da rede privada é de 556,6. A reportagem realizou o cálculo a partir das médias das escolas.
O governo Michel Temer (PMDB) anunciou no fim do mês passado projeto de reestruturação do ensino médio. O plano foi apresentado por medida provisória, o que causou críticas de educadores.
O principal ponto previsto na reforma é a flexibilização do currículo. As escolas deverão garantir o conteúdos comuns em parte da grade, equivalente a um ano, e oferecer linhas de aprofundamento por área de conhecimentos. Serão os alunos que vão escolher a área a seguir (entre linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino profissionalizante).
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2015, divulgado no último mês, mostrou mais uma estagnação dos resultados de ensino médio. As notas de matemática dos alunos da etapa caíram ao menor patamar desde 2005, como a Folha de S.Paulo revelou no dia 8 de setembro.