O ato de brincar é universal e fundamental para o desenvolvimento infantil. Mais do que um momento de diversão, contribui para o crescimento saudável das crianças, ajudando a desenvolver habilidades cognitivas, sociais e emocionais.
Para as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), as brincadeiras desempenham um papel ainda mais importante, pois são usadas como ferramentas para o desenvolvimento da comunicação, interação social e regulação emocional.
Conforme a UNICEF, nos primeiros anos de vida, o cérebro cria conexões neurais a uma velocidade impressionante, especialmente nos primeiros 1.000 dias, com cerca de 1.000 novas conexões por segundo. Brincar estimula esse processo, ajudando a desenvolver habilidades como resolução de problemas, criatividade e autocontrole.
Quando falamos de crianças autistas, as brincadeiras são usadas como estratégias lúdicas para direcionar as diferentes maneiras de brincar, focando no ganho e desenvolvimento de habilidades e repertório. Além disso, as brincadeiras sensoriais auxiliam no desenvolvimento social, ajudando a criar mecanismos de comunicação e a reduzir comportamentos repetitivos.
Conforme o estudo “O brincar e a criança com transtorno do espectro autista: revisão de estudos brasileiros”, o ato de brincar é uma maneira pela qual a criançada satisfaz suas necessidades, replicam situações cotidianas e se divertem em um contexto livre de outras pressões.
Esta ação é uma atividade essencial para o crescimento e desenvolvimento, contribuindo para a formação de habilidades como imitação, atenção, memória e imaginação. As brincadeiras também podem ensinar sobre regras e interações sociais, promovendo o autoconhecimento e as relações com os outros.
Existe ainda o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, que nada mais é do que as habilidades em evolução. Isso significa que, entre o que a criança já domina e o que ainda pode desenvolver, há um espaço onde, por meio de estímulos e mediação, ela pode alcançar um potencial maior. Nesse contexto, o brincar tem uma importância ainda maior.
Embora as brincadeiras sejam momentos de lazer, elas precisam ser incentivadas e levadas a sério. Alguns dos principais benefícios de estratégias lúdicas direcionadas, sempre respeitando o desenvolvimento e individualidade de cada criança, incluem:
Cada criança tem suas preferências, e o importante é adaptar as atividades a seus gostos. A seguir, listamos algumas brincadeiras para integração sensorial que podem ser realizadas em casa pelas famílias:
Use a criatividade para criar diferentes formas com uma massinha caseira, feita com farinha e superfácil de preparar: basta misturar farinha e água em um grande recipiente, mexa até obter uma consistência massuda.
A argila é ideal para promover a interação e estimular o aspecto sensorial. Quando a argila ainda está no formato líquido, ela pode ser moldada de diferentes maneiras. Além de estimular os sentidos, é possível acompanhar a mudança de estado da argila que, ao secar, torna-se a versão final de sua construção.
Coloque os pequenos brinquedos em uma caixa de plástico com um pouco de água, e congele. Desenforme o bloco de gelo e peça ao pequeno(a) para tirar os brinquedos de lá, usando ferramentas como borrifadores com água morna, martelos de brinquedo etc. Exploração faz parte do processo de descoberta, e a brincadeira estimula o sentido da visão.
Em uma lata ou assadeira, coloque pequenos grãos (feijão e arroz) ou macarrão, junto a outros itens pequenos, como botões, clipes, miçangas etc. Em seguida, peça para a criança pegar esses objetos com pinças ou com os dedos e separá-los de acordo com características em comum, como tamanho ou cor. Além de ajudar a reconhecer as diferentes formas, o ato de “pinçar” ajuda na psicomotricidade.
Neste jogo, a criançada experimenta diferentes tipos de comida com os olhos vendados e, em seguida, tentam adivinhar o que é. A escolha das comidas depende do gosto deles, mas também é interessante introduzir novos sabores e texturas.
As brincadeiras de imitar não apenas estimulam a criatividade, mas também ajudam na compreensão do mundo ao seu redor. Ao imitarem os adultos ou outras pessoas, os pequenos estão aprendendo a se comunicar, a entender papéis sociais e a desenvolver habilidades cognitivas.
Aqui é possível fazer jogos de imitação, usar brinquedos para criar histórias sociais, sentar em frente ao espelho e promover mímicas e gestos. Além disso, essas brincadeiras fortalecem os laços entre pais e filhos, criando momentos especiais de conexão.
A comunicação é uma habilidade fundamental que pode ser aprimorada através da diversão. Brincar com jogos que envolvem diálogo, gestos e interações verbais ou não verbais é uma maneira eficaz de promover o desenvolvimento da linguagem e da comunicação. Além de ser uma experiência de aprendizado, essas brincadeiras também podem ser divertidas e fortalecer o relacionamento entre pais e filhos.
As atividades ao ar livre são uma excelente maneira de explorar o mundo e desenvolver habilidades motoras. Os pequenos podem descobrir texturas, cores, sons e o ambiente natural enquanto se divertem ao ar livre.
Caminhadas na natureza, piqueniques, jogos esportivos e até mesmo brincadeiras na areia ou na água são oportunidades para um desenvolvimento saudável e para aprimorar habilidades sensoriais.
“Cada criança é única, e é muito importante respeitar os limites e as experiências de cada uma. É fundamental considerar os gostos e escolhas dela na hora de decidir quais atividades realizar. Além disso, o ideal é planejar qualquer uma das atividades com antecedência, comunicando à criança quais são os planos, o que ela encontrará, mostrando imagens relacionadas à atividade e reforçando o quanto será divertida a experiência”, conclui Alice Tufolo, diretora clínica da Genial Care, rede de cuidados de saúde atípica referência na América Latina.
Por Letícia Carvalho