Crianças neurodivergentes são aquelas cujo desenvolvimento neurológico apresenta diferenças em relação ao que é considerado típico. Isso inclui condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros. Essas variações no funcionamento neurológico afetam a maneira como elas processam informações, se comunicam e interagem com o mundo.
O uso da tecnologia pode ser um grande aliado no desenvolvimento de crianças neurodivergentes. Ferramentas digitais, como aplicativos educacionais, dispositivos de comunicação assistiva e softwares de organização, podem ser adaptados para as necessidades individuais delas.
Abaixo, confira 8 benefícios da tecnologia para crianças neurodivergentes!
A tecnologia pode ser uma grande aliada para ajudar no desenvolvimento cognitivo das crianças. “A programação e os jogos educativos ajudam os pequenos a resolverem problemas, estruturando seu pensamento de forma lógica e ordenada. Essas habilidades são fundamentais para o crescimento cognitivo”, explica o coordenador pedagógico Italo Pereira, da SuperGeeks, que promove ensino de programação e robótica.
Segundo Italo Pereira, algumas crianças neurodivergentes podem ter dificuldade para se comunicar de maneira convencional. Neste contexto, “ferramentas tecnológicas, como aplicativos de comunicação alternativa, permitem que elas expressem seus sentimentos e ideias de forma mais clara”, completa.
Outra vantagem é auxiliar na promoção da autonomia dos neurodivergentes. “A tecnologia permite que as crianças realizem atividades sozinhas, seguindo instruções em plataformas interativas. Isso ajuda no desenvolvimento de independência e autoconfiança”, reforça o especialista da SuperGeeks.
Aplicativos e jogos interativos estimulam diferentes sentidos, oferecendo experiências controladas que ajudam as crianças a processarem informações sensoriais de forma mais eficaz.
“O uso da tecnologia na estimulação sensorial de crianças neurodivergentes oferece uma abordagem personalizada e envolvente. Aplicativos, jogos interativos e dispositivos de realidade aumentada proporcionam estímulos visuais, auditivos e táteis de forma controlada, permitindo que as crianças explorem seus sentidos em um ambiente seguro”, explica Damião Silva, psicólogo especialista em crianças neurodivergentes.
Além disso, segundo ele, a tecnologia ajuda a acompanhar o progresso da criança, bem como “permite adaptações em tempo real, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras”.
Ferramentas tecnológicas, como softwares de desenho e programação, incentivam as crianças a criarem seus próprios projetos, estimulando a imaginação e a criatividade. “[…] Além disso, a tecnologia proporciona um ambiente de experimentação sem julgamentos, em que elas podem testar, errar e criar livremente, fortalecendo tanto a autoconfiança quanto as habilidades criativas”, diz Damião Silva.
Jogos e aplicativos que abordam inteligência emocional ajudam as crianças a reconhecerem e lidarem com suas emoções. Esse desenvolvimento é essencial para uma melhor adaptação social e pessoal.
“Quando usada de forma adequada, a tecnologia pode ser uma grande aliada no desenvolvimento emocional de crianças neurodivergentes. Aplicativos e jogos interativos ajudam a promover habilidades como autorregulação, empatia e comunicação, ao criar situações que simulam interações sociais e desafios emocionais”, explica Camila da Silva Conceição, psicóloga clínica e escolar da Legacy School.
Além disso, é um espaço que pode passar mais segurança para as crianças. “Essas ferramentas também oferecem um ambiente seguro e controlado para as crianças processarem suas emoções e experimentarem diferentes reações, o que facilita o aprendizado emocional de forma gradual e personalizada”, acrescenta.
Ambientes controlados e previsíveis, proporcionados por aplicativos e plataformas educativas, quando utilizados de maneira direcionada, ajudam a reduzir a ansiedade, principalmente em pessoas autistas, que se beneficiam de rotinas bem estruturadas.
“[…] Aplicativos de meditação guiada, jogos focados em mindfulness e plataformas que auxiliam na organização de rotinas diárias podem ajudar a proporcionar sensação de controle e previsibilidade, fatores que reduzem o estresse. Além disso, essas ferramentas oferecem estratégias práticas de relaxamento e autorregulação, contribuindo para o bem-estar emocional das crianças”, explica Camila Silva.
A tecnologia oferece uma plataforma de aprendizado acessível e adaptável, garantindo que crianças neurodivergentes também tenham acesso à educação de qualidade, de maneira inclusiva e personalizada.
“Ao criar um ambiente de aprendizado que valoriza as particularidades de cada aluno, a tecnologia se torna uma ponte para que alcancem seu potencial máximo, tanto no aspecto cognitivo quanto no social”, diz Marco Giroto, fundador e presidente da SuperGeeks.
Apesar dos benefícios, é importante ficar atento às necessidades e particularidades de cada criança. “Concordo com o uso da tecnologia, mas é importante ressaltar que deve ser feita de forma adequada e controlada, especialmente porque pode haver alterações neurológicas pré-existentes”, alerta Damião Silva.
Além disso, é fundamental utilizar a tecnologia de forma comedida. “O uso excessivo pode causar mais danos do que benefícios. Portanto, sou a favor de um controle rigoroso e do uso supervisionado por profissionais capacitados. É essencial que os pais também recebam orientações de especialistas sobre o tempo de exposição às telas, de acordo com a faixa etária, e sempre considerem tanto os benefícios quanto os possíveis prejuízos”, acrescenta o profissional.
A psicopedagoga Cátia Lopes Brasil, da escola Rede Daltro, compartilha orientações sobre como a escola pode auxiliar as crianças neurodivergentes com a tecnologia. Para ela, os professores desempenham um papel fundamental na identificação e apoio às crianças com TDAH, por exemplo.
“Eles podem adotar estratégias específicas para criar um ambiente de aprendizagem inclusivo e eficaz. Estruturar as aulas, dividindo as tarefas em etapas menores e oferecendo instruções claras e diretas, pode ajudar na compreensão e execução das atividades”, explica.
Por Sarah Monteiro