BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Sem a agropecuária, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil teria alta de 0,12% em 2017, em vez do já modesto 0,47% projetado pelo mercado. O setor deve ter uma fatia de 75% do crescimento da atividade econômica neste ano, maior peso em 18 anos.
O número foi calculado pela consultoria Tendências a pedido da reportagem com base nas projeções feitas por analistas de mercado ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central, para o PIB dos diferentes setores da economia.
Essa alta participação, a maior desde 1999, quando o PIB agrícola representou 77% do total, ocorre tanto pelo bom momento para o campo quanto pela dificuldade de recuperação dos outros setores. Beneficiada pelo clima favorável, a safra de grãos será recorde e subirá mais de 26%, segundo o IBGE.
Os analistas apostam em altas de 6,4% e 0,88% para a agropecuária e a indústria, respectivamente, e uma queda de 0,06% em serviços.
“A criação de empregos no setor agropecuário auxilia no desenvolvimento do consumo interno, ajudando a impulsionar, de forma defasada, o varejo. É uma boa notícia em meio a um cenário de retomada gradual da atividade”, diz o economista Bruno Levy, da Tendências.
A consultoria tem uma estimativa mais conservadora para a fatia de agro no PIB do que a da MB Associados, que projeta participação de cerca de 90%. Os cálculos diferem pois dependem do peso que se atribui à agropecuária dentro da atividade econômica.
O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, destaca que o cálculo é só “até a porta da fazenda”. Se a agroindústria e serviços repetirem esse desempenho, segundo ele, essa expansão pode se espalhar pelo restante da economia.
O economista lembra que o peso que o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP (Universidade de São Paulo), considera para toda a cadeia, incluindo a agroindústria e serviços, é de 22% do PIB.
Quando se leva em conta somente a agropecuária, o percentual é de cerca de 5%.
“Supondo que o crescimento do setor como um todo seja semelhante ao que se vê no início da cadeia, o impacto [sobre o PIB como um todo] pode ser muito maior”, afirma Vale.
VAGAS NO INTERIOR
Economistas apontam que dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, dão uma ideia de como vem sendo distinto o comportamento do emprego no interior e nas capitais.
No primeiro trimestre do ano, o interior dos Estados que abrigam as nove maiores regiões metropolitanas criou mais de 41 mil empregos formais, enquanto as capitais e arredores eliminaram 92,89 mil postos de trabalho.
Além disso, das 20 cidades que mais criaram vagas entre janeiro e março, aparece somente uma capital, Goiânia.
Na avaliação de Igor Velocico, do banco Bradesco, a produção agrícola e a inflação em baixa, que aumenta o poder de compra, são as duas boas notícias para a economia brasileira neste ano. “Você gera mais incentivo para produzir, e esse efeito passa para o restante da economia.”
A força do campo em 2017 também está tendo efeitos positivos, ainda que incipientes, sobre o comércio de cidades ligadas ao agronegócio.
“Está melhor do que o ano passado, mas ainda está ruim, porque há muito desemprego”, diz Mário Gazin, dono da rede de imóveis e eletrodomésticos Gazin, com unidades do Acre ao Paraná, passando pelo Centro-Oeste.
“Estamos voltando aos níveis de 2014, um ano bom.”