GOVERNOS DE IRIS REZENDE FICARAM MARCADOS POR OBRAS ESTRUTURAIS PARA O ESTADO, JUSTAMENTE O FOCO ATUAL DO GOVERNO MARCONI PERILLO

O Tribuna do Planalto indica uma disputa prevista para 2014 entre Íris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB) em relação à imagem que poderão apresentar para o eleitor. Com texto de Eduardo Sartorato e Murilo Soares, a abordagem revela um momento para tirar uma dúvida entre os dois líderes, prevista para a próxima disputa: quem é o maior tocador de obras?

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Líderes dos dois grandes grupos políticos de Goiás, o governador Mar­coni Perillo (PSDB) e o ex-governador e ex-prefeito de Goiânia Iris Re­zende (PMDB) são frequentemente comparados em suas gestões. É comum que as conversas em rodas de discussões entre partidários de ambos os líderes acabem em confronto, onde a pergunta é uma só: quem mais fez para o Estado? Hoje, a discussão é ainda mais acalorada devido a uma perceptível mudança de prioridades na gestão tucana. Antes en­gajado nos programas sociais, Marconi Perillo tem utilizado o seu terceiro mandato para fazer obras, justamente o histórico mote irista. A comparação, então, é inevitável.

Quem é o maior tocador de obras do Estado? A pergunta não é nada fácil de ser respondida. Isso porque além de dividir as discussões administrativas, os grupos de Iris e Marconi também repartem o período de permanência no Palácio das Esmeraldas pós-regime militar. O PMDB de Iris governou o Es­tado de 1983 a 1998, en­quan­to que a base aliada de Mar­coni está no comando desde 1999. Se Iris teve um mandato a menos que Marconi (o peemedebista foi governador por duas vezes enquanto que o tucano está em seu terceiro mandato), o peemedebista ficou cinco anos e três meses no comando da prefeitura de Goiânia.

Quando assumiu o governo em 1983, Iris Rezende imprimiu um ritmo acelerado em sua gestão. Com muitas demandas e poucos recursos, o então governador passou a fazer obras em ritmo de mutirões, marca da qual, com o tempo, foi se atrelando à sua pessoa. O mutirão mais famoso foi a construção da Vila Mutirão em Goiânia, quando a sua administração ergueu mil casas em um dia. O fato ganhou grande repercussão nacional à época.
Pelo interior, a gestão de Iris Rezende também deixou obras marcantes na infraestrutura. Pavimentou várias rodovias, como a GO-118, que liga o Dis­­trito Federal à região nordeste do Estado e que à época era chamada de “Corredor da Mi­séria”. A eletrificação rural, ex­pansão da Celg para os quatro cantos do Estado, obras de sa­neamento, ginásios, moradias foram algumas das realizações que deram ao peemedebista o título de “tocador de obras”.

Em 2004, quando Iris estava sem mandato após amargar duas derrotas para o grupo de Marconi – a primeira para o governo em 1998 e a segunda na corrida pela reeleição no Senado em 2002 -, esta marca virou mote da campanha vitoriosa do peemedebista rumo ao comando do Paço Mu­nicipal da capital. Asfaltar todas as ruas habitadas de Goiânia foi o principal compromisso de Iris na campanha. Eleito prefeito, asfaltou mais de cem bairros em seu primeiro mandato, além de construir viadutos, parques e avenidas.

Transição
Marconi Perillo, por sua vez, foi na contramão de Iris. Eleito governador em 1998, o primeiro mandato do tucano foi focado na chamada ‘rede de proteção social’. Investiu em programas como o Bolsa Uni­versitária, o Renda Cidadã, o Res­taurante Cidadão e o Cheque Moradia, que visavam a qualificação e a melhoria do bem estar do cidadão. Marconi também foi o responsável por trazer os serviços do Vapt-Vupt para o Estado, com o intuito de modernizá-lo, o que foi uma de suas bandeiras de campanha.

Hoje, em sua terceira gestão, porém, Marconi fez uma perceptível transição. Deixou em segundo plano os programas sociais e passou a focar as obras de infraestrutura. O carro chefe desta mudança foram os programas Rodovida, que tem como objetivo restaurar a malha viária do Estado e de municípios, por meio de parcerias com prefeituras. Segundo informa o site da Agência Goiana de Transporte e Obras (Agetop), ao todo são 685 obras em todo o Estado, dentre elas construções de avenidas, estradas e aeroportos.

Com a popularidade abalada em Goiânia, Marconi também tem focado obras na capital e região metropolitana. Está duplicando estradas em várias saídas da cidade, como a GO-020 cuja duplicação irá até a cidade de Bela Vista. O governo também constrói dois viadutos – um na saída de Trindade e outro na de Inhumas – e está concluindo o do Madre Ger­mana, em Aparecida de Goiâ­nia. Ainda há a promessa de construir o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no Eixo Anhan­guera. A obra, porém, ainda está em fase de licitação.

Ao analisar a história dos governos tucanos, uma pergunta se faz necessário: por que Marconi Perillo abandonou o mote da rede de proteção social e passou a atuar na ‘área de Iris Rezende’?

Para o professor de Ciência Política e Antropologia da Pon­tifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wilson Fer­reira, o fato de Marconi priorizar os programas sociais em seus primeiros governos seria uma forma de provar a modernização pregada na campanha, já que ele se contrapunha ao que era trabalhado nas gestões do PMDB. Com o passar do tempo, segundo o professor, a fórmula se esgotou, já que ocorreu um processo de acomodação no modo de governar o Estado. “Já no segundo mandato ele perdeu sua característica de inovador”, conta.

O professor da UniEvan­gélica, Itami Campos, vê como natural essa mudança do tucano. “A mudança faz parte de uma conjuntura e é gerada por alguns condicionantes gerados pelas necessidades da sociedade”, explica. Além do mais, as necessidades da população muda com tempo e, por isso, faz-se imprescindível adequar-se aos novos anseios.

Demandas

Outra hipótese seria uma resposta aos anseios das manifestações populares de junho deste ano, que pediu mais ação do setor público em serviços e obras. Luiz Felipe Gabriel, diretor do Instituto Verus de Pesquisa, diz que há esta tentativa por parte de Marconi, mas segundo ele, sem sucesso. “Ele rompeu seu diálogo com o povo. Agora só oferece métodos atrasados e remete seu governo a tempos passados”, afirma. Se o tucano quer se comparar ao ex-governador, o diretor do Instituto Verus é direto e deixa claro que, quando colocado em comparação com o peemedebista, Marconi ainda não pode ser comparado com Iris no quesito de “tocador de obras”.

Luiz Felipe acrescenta que hoje a população cobra mais de um líder. Para isso, ele cita a Pirâmide de Maslow, mais conhecida como a hierarquia das necessidades de uma sociedade. O esquema, criado pelo psicólogo Abraham Maslow, propõe como devem ser satisfeitas as necessidades de uma pessoa, indo do mais para o menos importante.

Na base da Pirâmide de Maslow, estão as necessidades básicas de uma pessoa, como sede, fome, sono e moradia. Depois que tem isso, o ser humano preocupa-se com segurança, emprego, saúde e infraestrutura. De acordo com o marquetólogo, agora que a população goiana já tem a base de sua pirâmide, começaram a escalar os outros degraus da hierarquia proposta pelo estudioso. Assim, ficam mais exigentes e a administração pública se vê obrigada a atender os anseios da população.


Preparação para novo confronto

O governador Marconi Perillo tem sido enfático ao afirmar que não tem intenção de ser candidato à reeleição em 2014. Frisou isso em várias partes da entrevista que concedeu com exclusividade à Tribuna, no final de agosto. Nos bastidores, porém, as negativas do tucano têm sido vista como uma estratégia. Após os desgastes dos dois primeiros anos de sua terceira gestão, Marconi estaria dizendo que não será candidato para poder ter tranquilidade para governar e recuperar seu prestígio. O volume de obras que o governo está tocando é um sinal consistente de que o tucano pensa, sim, em concorrer a mais quatro anos de mandato.

Segundo o marquetólogo Ademir Lima, esta seria uma tentativa de Marconi para se sobrepor à imagem de ‘tocador de obras’ construída por Iris Rezende há alguns anos. Assim como o tucano, Iris também é visto como um dos principais pré-candidatos ao governo do Estado. Em 2010, Marconi e Iris disputaram o governo do Estado e o primeiro venceu o pleito no segundo turno, com diferença de cerca de 175 mil votos. Assim, Perillo estaria seguindo os passos antes feitos por Iris, investindo em infraestrutura e obras físicas, tentando mudar sua imagem para o ano que vem.

Na visão de Ademir, o tempo é um complicador nas intenções de Marconi em mudar o seu perfil de administração. Para ele, o tempo que o governador tem para isso, agora, é muito pequeno. “O foco deveria ser resgatar o compromisso feito na campanha, não construir uma nova marca. O governador passou por um período muito complicado e resta pouco tempo para mudar de imagem agora”, diz.

Apesar de a agenda de obras do governo estar em ritmo acelerado, ainda há vários obstáculos para que Marconi possa conseguir colher os frutos políticos de tais ações. Isso porque o tucano tem até junho do ano que vem para mostrar que se recuperou dos desgastes e tem condições plenas de vencer o governo pela quarta vez, seja quem for o adversário. Caso contrário, Perillo terá dificuldades em tocar a sua campanha.

Um dos empecilhos naturais para que as obras fiquem prontas em prazo hábil é o período chuvoso, que deve começar este mês e ir até abril ou maio do ano que vem. A chuva impossibilita a continuidade da maior parte das obras físicas e atrasa todo o cronograma de obras. O último período chuvoso se estendeu até o final de maio e foi um dos aspectos apontados por auxiliares do governo como complicador para o início da concretização de vários projetos de infraestrutura.

Visibilidade

Em relação ao ‘poder das obras’ em influenciar o cenário político e o jogo eleitoral, o cientista político Itami Campos defende que obras físicas podem servir como uma ‘carta de apresentação’. De acordo com o professor, obras sociais têm efeitos na sociedade, tanto quanto as obras de infraestrutura. Estas, no entanto, têm a capacidade de mostrar o serviço do governo diretamente, já que são realizações palpáveis e dão a ideia de eficiência e trabalho sempre feito.

Segundo Itami, os resultados das obras físicas são mais fáceis e óbvios de identificar e, consequentemente, aqueles dos quais a população em geral pode se lembrar com mais rapidez, associando-os com o nome do gestor que as trouxe para o Estado. Ou seja, muito útil para se propagar os feitos de uma administração. (Eduardo Sartorato e Murillo Soares)


Marconi X Iris: obras dos dois líderes do Estado


Marconi Perillo (PSDB)

Assessor especial do governador Henrique Santillo (1987-1991)
Deputado estadual (1991-1995)
Deputado federal (1995-1998)
Governador por três mandatos (1999-2002; 2003-2005; 2011-hoje)
Senador (2007-2010)

Principais obras:
Estação de Tratamento de Esgoto de Goiânia (ETE);
Barragem do João Leite;
Duplicação da GO-060 até Trindade;
Duplicação da GO-020 até o Autódromo;
Centro Cultural Oscar Niemeyer;
Centro de Reabilitação Henrique Santillo (Crer)
Unidade central da Universidade Estadual de Goiás (UEG)
Programa Rodovida – recuperação das rodovias estaduais;
Programa Rodovida Urbano – recuperação de vias urbanas;
Viadutos da GO-070 (saída para Inhumas), GO-060 (saída para Trindade) e do Madre Germana (em andamento);
Duplicação da GO-080 até Nerópolis e da GO-060 de Inhumas a Itauçu (em andamento);
Centro de Convenções de Anápolis (em andamento);
Hugo 2 (em andamento);


Iris Rezende (PMDB)

Vereador em Goiânia (1958-1962)
Deputado estadual (1962-1965)
Prefeito de Goiânia por três mandatos (1966 a 1969; 2005-2008; 2009-2010)
Governador por dois mandatos (1983-1986; 1991-1994)
Ministro da Agricultura (1986-1990)
Ministro da Justiça (1997-1998)
Senador (1995-2002)

Principais obras:
Centro de Convenções de Goiânia;
Fórum de Goiânia;
Pavimentação de várias rodovias como a GO-118 (do DF a
Campos Belos) e GO-020 (até Ipameri);
Eletrificação rural pelo interior;
Habitação na capital como a construção da Vila Mutirão
(mil casas em um dia em 1983);
Conjuntos habitacionais pelo interior como o mutirão de três mil casas em um dia;
Expansão da Celg com a construção de subestações;
Quarta etapa de Cachoeira Dourada;
Usina de São Domingos;
Parque Mutirama;
Ginásios de esporte pelo interior;
Asfalto em mais de cem bairros na capital;
Viadutos da praça do Ratinho e da praça do Chafariz;
Mais de 15 novos parques em Goiânia;

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