A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) revelou, em entrevista à Folha de S. Paulo publicada neste domingo (30), que se arrepende de ter perseguido armada um homem às vésperas das eleições de 2022. “Devia ter entrado no carro e ido embora”, afirmou. A parlamentar também demonstrou novamente decepção com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), admitindo que se sente abandonada por ele.
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para condenar a deputada a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, além da perda de mandato, por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com uso de arma.
Zambelli virou ré em 2023, após ter sido filmada sacando uma arma de fogo e perseguindo o jornalista esportivo e ativista político Luan Araújo, 34, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022
“Nunca imaginei passar por uma situação dessa. Considero isso uma perseguição política”, declarou na entrevista.
Decepção com Bolsonaro
A relação entre Zambelli e Bolsonaro, antes muito próxima, azedou nos últimos dias. O ex-presidente atribuiu a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 a esse episódio envolvendo a deputada. “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, disse ele.
Para a parlamentar, no entanto, essa é uma visão exagerada. “É um peso bastante grande ter ouvido aquilo. Pesou bastante nas minhas costas”, desabafou na entrevista à jornalista Renata Galf.
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Além disso, a parlamentar esperava apoio de Bolsonaro no momento que é difícil. “Acho que esperava apoio. Desde 2013 eu apoio Bolsonaro. […] Esperava contar com a amizade dele”, lamentou. Zambelli lamentou que não foi a única aliada a perder o contato com o ex-presidente. “Outras pessoas também perderam a amizade do presidente no momento que precisaram.”
Ao fazer a declaração, ela não citou nomes dos outros “abandonados”. Mas pouco antes de se transformar em delator no STF, o ex-ajudante de Ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, também apontou abandono da família Bolsonaro.
Minuta golpista e artigo 142
A deputada comentou ainda sobre as minutas que circularam no governo anterior e que são alvo das investigações sobre tentativa de golpe. “Eu recebi uma minuta. Perguntei para uma das pessoas do jurídico do presidente Bolsonaro, e ele me disse que era fake”, disse.
Zambelli minimizou a gravidade da discussão sobre um possível golpe de Estado, alegando que apenas debater não é crime. “Primeiro, porque não foi colocado de fato. Pode ter sido aventado, mas não foi colocado em votação. E segundo que não houve golpe”, argumentou.
Sobre o artigo 142 da Constituição Federal, frequentemente citado por apoiadores de Bolsonaro como uma justificativa para intervenção militar, Zambelli admitiu que chegou a considerar essa possibilidade. “Existia, sim. Existia a possibilidade, por exemplo, do artigo 142 colocar não ele no poder, mas as Forças Armadas no poder, para depois fazer uma nova eleição com urna impressa.”
Apesar das declarações, a deputada negou envolvimento direto em qualquer plano golpista. “A gente ouvia dizer, mas não participei de nada.”
Carla Zambelli diz que se arrepende de perseguição armada e fala de futuro político
Zambelli também reconheceu que errou ao perseguir um homem armada. “Foi uma atitude infeliz que eu tive de ir atrás dele. Infelizmente, ali foi onde eu errei.” Segundo ela, a reação ocorreu por estar sob pressão. “Naquele dia eu tinha passado a madrugada recebendo muita ameaça de morte.”
A deputada pretende recorrer da condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se manter ativa na política. “Pretendo [voltar] em 2030. Não vão se livrar tão cedo de mim.”
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