São Paulo – A aprovação do texto mais brando da PEC 171, da redução da maioridade penal, é mais uma mostra da incrível habilidade política do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A avaliação é do cientista político e professor do Insper, Humberto Dantas. “Ainda há o questionamento se o que ele fez é legal, mas pelas análises que vi do regimento interno, me parece que sim. É do jogo político e, politicamente, ele jogou muito bem, mostrou novamente que tem uma habilidade incrível”, avalia.
Dantas não entra no mérito da redução em si, mas aponta que o episódio evidencia a capacidade e Cunha de avaliar agendas dos parlamentares e da sociedade e de conseguir aprovar matérias. “Ele foi capaz de depois da derrota do texto intermediário (na semana passada), entender o regimento e passar um texto mais brando. Eu até sou contrário pessoalmente à redução, mas isso não cabe a mim. A sociedade é favorável e o Cunha sobre aproveitar o momento no parlamento. É uma coisa fantástica como ele conhece o regimento e sabe interpretar, é inegável que é uma pessoa tecnicamente preparada para exercer o cargo.”
Sem uma tese específica de como Cunha consegue angariar tamanho apoio, Dantas também ressalta a clara capacidade do presidente da Câmara de conquistar apoio dos parlamentares. “Ele tem nas mãos dele, não sei que tipo de instrumento de convencimento, mas ele tem obviamente essa capacidade de ação muito forte.”
Se a forma que Cunha conduz a Câmara é positiva ou não para a sociedade, Dantas observa que um problema hoje é a população estar tão “apartada” da eleição que escolhe os presidentes das Casas legislativas, considerando ainda que o voto dos parlamentares nesses pleitos internos é sigiloso. “Olha o peso que essa figura tem na tomada de decisão que afeta a sociedade e poucos sabem. Esse tipo de eleição afeta absolutamente a vida das pessoas e a população acaba completamente ‘apartada’ dessa escolha.”
Dantas avalia ainda que Cunha, com a manobra, ganha pontos com o eleitorado dado o apoio popular à matéria – 87% apoiam a redução da maioridade penal para 16 anos segundo o Datafolha. Ele, no entanto, acha difícil que ele possa se cacifar para uma disputa presidencial em 2018, tanto por seu perfil individual como por ser um quadro de um partido como o PMDB. “Já acho mais difícil ele conseguir essa projeção para ser candidato à Presidência. O nome dele precisaria ser testado em pesquisa, mas ele atropela demais, é muito truculento nessa forma de atuar. Não sei se seria capaz de organizar em torno de si um partido extremamente complexo e com tantas lideranças.”
(Estadão Conteúdo)