Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizam, na próxima segunda-feira (23), uma assembleia-geral para discutir a exposição de dados sigilosos de agentes, um indicativo de greve e a possibilidade de ingressar com ação judicial para o afastamento do diretor Luiz Fernando Corrêa, indiciado no inquérito da “Abin paralela“. A convocação foi feita pela União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis), que representa a categoria.
A assembleia dos servidores da Abin ocorre em meio a críticas internas sobre o atual comando da agência e à atuação do governo federal, questionado pela entidade de promover um “esvaziamento institucional”. A Intelis afirma que a permanência de Corrêa compromete a credibilidade e o funcionamento isento da inteligência de Estado, e cobra maior diálogo por parte do Ministério da Casa Civil, ao qual a agência está vinculada.
O contexto também envolve a recente exposição de dados pessoais de agentes não-investigados.
Relatório da PF expôs agentes não investigados, reclama associação
Um dos pontos que geram maior incômodo entre os servidores, segundo a Intelis, é a quebra de protocolos históricos de sigilo. Isso porque o relatório da Polícia Federal sobre a “Abin paralela”, tornado público por decisão do ministro Alexandre de Moraes na quarta (18), expôs nomes, cargos e informações funcionais de servidores de carreira que, segundo a associação, não são alvo de qualquer investigação ou indiciamento. O questionamento foi publicada na noite de sexta-feira (20) pelo ICL Notícias que recebeu uma nota da Intelis com a denúncia.
Servidores ouvidos pelo portal expressaram forte desconforto com o fato de o relatório detalhar trajetórias profissionais e lotações de agentes que atuaram em áreas sensíveis da Abin. Segundo eles, além de violar a lógica de proteção institucional, a exposição coloca em risco a integridade física desses profissionais e pode comprometer operações passadas e futuras da inteligência nacional, bem como parcerias com órgãos internacionais, baseadas em confiança e discrição.
“Decisão catastrófica”
Em nota enviada ao ICL, a Intelis classificou como “catastrófica” a decisão da PF de incluir tais informações no relatório da Operação Última Milha que apurava o monitoramento ilegal de autoridades e produção de fake news com a ajuda da Abin. A entidade criticou ainda a recorrência desse tipo de exposição e questionou a quem interessaria a violação de protocolos tão sensíveis.
Apelo à imprensa
A Intelis também fez um apelo à imprensa para haver maior cuidado na reprodução de documentos que possam expor servidores sem qualquer envolvimento com os crimes investigados.
Internamente, a percepção é de que o episódio abalou profundamente a cultura de sigilo que sustenta a atuação da agência. Um servidor afirmou, sob anonimato, que a publicação dos dados “coloca todos sob risco, inclusive os que operam legalmente e com autorização”. A sensação entre os agentes é de vulnerabilidade total.
Intelis convoca assembleia de agentes sobre greve e cobra controle de dados após relatório da “Abin Paralela”
Além da crítica à exposição de dados, a Intelis também aponta outros fatores de insatisfação, como o congelamento de funções estratégicas e a “falta de controle” sobre informações sigilosas, que estariam sendo geridas por outros órgãos do Executivo, como a Polícia Federal e o Ministério da Justiça.
O diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, foi indiciado por suspeita de obstrução de justiça. A PF aponta conluio entre a atual gestão e a direção anterior da agência para tentar impedir a revelação de monitoramentos ilegais realizados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Corrêa, que comandou a Polícia Federal entre 2007 e 2011, durante o segundo mandato de Lula, foi mantido no cargo mesmo após o avanço das investigações. Já o ex-diretor-adjunto Alessandro Moretti foi exonerado em janeiro, junto a outros seis diretores.
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