A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) determinou um novo embargo do lixão da empresa Ouro Verde, em Padre Bernardo, onde houve o impressionante desmoronamento de uma montanha de rejeitos, atingindo áreas de preservação e córregos. Além do embargo, a secretaria apreendeu na quinta-feira (19) cinco máquinas que estavam estacionadas no local e acionou o Batalhão Ambiental da Polícia Militar para garantir o embargo.
As medidas foram tomadas após vistoria da titular da secretária, Andrea Vulcanis no local da tragédia ambiental na quinta, um dia após o desmoronamento ocorrer e ser divulgado em vídeo por pessoas que flagraram a cena inusitada.
A secretaria lamentou que decisões judiciais se sobrepuseram a inúmeras tentativas do Governo de Goiás de fechá-lo. “A Semad entende que o desmoronamento de uma montanha de lixo e a contaminação do córrego Santa Bárbara (alfuente do rio do Sal) são fatos novos que justificam a medida”, justificou o órgão ao divulgar o novo embargo.
Embora tenha CNPJ registrado como Aterro Sanitário Ouro Verde, o empreendimento tem diversas irregularidades legais questionadas há mais de oito pelo Ministério Público de Goiás e Ministério Público Federal (MPF), mas vinha mesmo assim recebendo rejeitos de empresas e de outros municípios, inclusive do Distrito Federal.
Já a Semad, desde 2016 anos alerta para as flagrantes irregularidades no acondicionamento de resíduos sólidos no lixão, “mas tanto o poder Judiciário estadual, quanto o federal ignoraram as considerações técnicas e deram liminares que permitiram ao Ouro Verde funcionar”, salientou a secretaria.
Lixo do DF também
A Semad confirmou que tem conhecimento de que, entre os clientes do empreendimento, estão prefeituras e grandes geradores do Distrito Federal, mas ainda não teve acesso à lista completa. A reportagem tentou contato com a Ouro Verde com esse objetivo, mas ainda não teve êxito.
Máquinas e plano de recolher rejeitos que desabaram
Além do embargo, a secretaria apreendeu na quinta cinco máquinas que estavam estacionadas na área do lixão.
Embora não houvesse nenhum funcionário presente, o órgão também conseguiu notificar a advogada da empresa a respeito da obrigação de providenciar, em dois dias úteis, um plano de recolhimento do material que se deslocou. Além disso, foi exigido da empresa uma investigação de passivo e de áreas contaminadas.
Gabinete de crise com Goiás e DF
Paralelamente, a secretaria instalou um gabinete de crise. Fazem parte: Defesa Civil do Estado de Goiás, órgãos federais como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos de saneamento do Distrito Federal e de Goiás, e a Secretaria de Saúde de Goiás.
Alerta aos moradores sobre contaminação da água
Conforme divulgou a Semad, uma das primeiras ações do gabinete foi enviar agentes da Defesa Civil para os domicílios rurais que costumam utilizar a água e informá-los de que está contaminada. Também foi enviado um SMS para os moradores de Padre Bernardo informando a respeito da situação.
Isso foi necessário porque uma análise preliminar realizada pelo Laboratório de Análises Químicas da Semad já confirmou a contaminação de água superficial do córrego Santa Bárbara, atingido pelo desmoronamento.
Metais pesados
A primeira análise realizada pela Semad utilizando um equipamento chamado sonda multiparamétrica, identificou grande alteração na condutividade da água, na salinidade e na presença de sólidos totais dissolvidos (TDS). A detecção desses sólidos totais é um forte indicativo da presença de metais pesados, que são característicos do chorume. De modo geral, alguns metais pesados comuns em chorume são mercúrio, chumbo e cádmio, por exemplo.
Causas de desabamentos em lixões
Desabamentos em lixões podem acontecer e são um risco real, especialmente em lixões a céu aberto, devido à instabilidade do material depositado. A grande quantidade de resíduos, a falta de compactação adequada e a presença de líquidos como o chorume podem levar ao colapso da estrutura.
No caso do lixão de Padre Bernardo, Vulcanis ressaltou que a operação era irregular e muito precária. “Isso aqui era uma tragédia anunciada, que já havíamos informado e demonstrado ao Poder Judiciário”, lamentou.
Sem contato
Em suas redes sociais a empresa responsável ainda não divulgou nenhuma manifestação ou orientação sobre o ocorrido. O site também estava indisponível nesta sexta-feira constando “erro interno do servidor”.
O telefone divulgado pelo Aterro Ouro Verde consta como inexistente ou completa a chamada em um escritório no Gama (DF), onde a atendente não relaciona as duas empresas, por isso não foi possível ouvir a versão dos responsáveis. O espaço continua aberto.
A prefeitura de Padre Bernardo também ainda não retornou ao e-mail solicitando informações sobre o acidente e as providências.
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