16 de julho de 2025
ABORDAGEM POLICIAL

PM-SP aborda jornalista Leonardo Sakamoto 2 vezes por erro judicial em caso de homicídio do Paraná

Jornalista sofre constrangimento policial após erro da Justiça do Paraná em mandado de prisão; ONU, MPF e Abraji reagem
Instituições viram ameaça a jornalista Leonardo Sakamoto após erro judicial - Foto: arquivo / Agência Senado
Instituições viram ameaça a jornalista Leonardo Sakamoto após erro judicial - Foto: arquivo / Agência Senado

O jornalista Leonardo Sakamoto, colunista do portal UOL e crítico da atuação das polícias de São Paulo, foi alvo de abordagens armadas da PM-SP no sábado (8), após ser vinculado erroneamente a um mandado de prisão expedido pela Justiça do Paraná. A ordem judicial, destinada a uma mulher condenada por homicídio, foi registrada com o CPF de Sakamoto, provocando um erro que colocou o comunicador na mira de forças policiais coincidentemente por duas vezes no mesmo dia.

A confusão teve início com um mandado emitido no dia 3 de junho pelo juiz Sergio Decker, da Vara Criminal de Nova Esperança (PR). Embora todos os dados pessoais no documento, tais como foto, RG, filiação, data e local de nascimento, pertençam à mulher condenada, o CPF associado ao mandado é o de Sakamoto.

O erro foi replicado no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), base usada por forças policiais em todo o país.

O carro do jornalista está no nome e CPF de Leonardo Sakamoto, número que constava no mandado de prisão. Por conta da falha, o jornalista foi parado duas vezes quando seguia para os estúdios do UOL, no centro de São Paulo. As abordagens ocorreram na rua da Consolação e na avenida Duque de Caxias.

Em ambas, policiais da PM-SP apontaram fuzis e pistolas para o rosto do jornalista e o informaram de que havia contra ele um mandado de prisão por homicídio. Após consultarem os registros detalhados, perceberam que o documento se referia a uma mulher de 27 anos, e o liberaram.

Conselho para não usar carro

Mesmo com a constatação do erro, Sakamoto foi orientado a não usar seu carro para evitar novas abordagens. “Estou impedido de usar o carro e andar na rua porque corro o risco de ser preso pela PM por um crime com o qual não tenho relação alguma”, afirmou o jornalista, que já foi alvo de ameaças de morte, agressões físicas e campanhas de difamação nos últimos anos, principalmente após publicações críticas à violência policial.

Instituições cobram esclarecimentos urgentes

O caso gerou reações imediatas de entidades nacionais e internacionais. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) classificou o episódio como gravíssimo e cobrou esclarecimentos urgentes do Judiciário e das forças de segurança.

“A alegação de erro não convence, tendo em vista que os números [de CPF] são muito diferentes”, afirmou Katia Brembatti, presidente da entidade. “Chama a atenção e causa preocupação o fato de a ação ser direcionada a um jornalista com marcante atuação crítica sobre a atuação policial. Sakamoto corre risco nessa situação e esse cenário precisa ser revertido imediatamente”, alertou.

Além da Abraji, o Ministério Público Federal (MPF) e a Organização das Nações Unidas (ONU) – da qual Sakamoto já foi conselheiro, em Genebra -, também se manifestaram. Ambas as instituições já haviam solicitado anteriormente investigações ao governo brasileiro sobre as ameaças e os atos de violência sofridos pelo jornalista.

A repetição de um episódio com potencial de colocar a vida de Sakamoto em risco levou as entidades a renovar as cobranças por garantias de segurança e responsabilização das autoridades envolvidas.

SSP-SP diz que bloqueou erro

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que o sistema policial estadual já foi reconfigurado para bloquear o erro identificado no banco federal, até que o CNJ ou o Judiciário paranaense o corrijam.

Já o Tribunal de Justiça do Paraná, responsável pela emissão do mandado equivocado, ainda não se pronunciou sobre o caso, conforme informou o Uol.

Os advogados de Sakamoto pretendem entrar com um pedido de habeas corpus preventivo tanto na Justiça do Paraná quanto em São Paulo. Também vão solicitar a correção imediata do CPF no sistema e a comunicação do erro às autoridades policiais de todo o país.


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