14 de julho de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 12/06/2025 às 17:51

Se não tem povo, não tem luta: o desafio do sindicalismo no século XXI

Em tempos de precarização extrema e avanço dos modelos digitais de exploração, como Uber, iFood e Amazon, é compreensível a preocupação de sindicalistas com a sustentabilidade das suas estruturas. Mas é justamente por isso que precisamos de lucidez política: insistir na obrigatoriedade da contribuição sindical, sem enfrentar a crise de representatividade do movimento, é um erro estratégico.

O que está em jogo não é apenas uma questão financeira, mas uma crise profunda de representatividade. Parte expressiva da classe trabalhadora não se sente mais representada pelos sindicatos tradicionais. E esse esvaziamento não veio do nada: é fruto de décadas de distanciamento da base, burocratização das lutas e acomodação institucional.

O resultado? Cresce o sentimento de desconfiança. O trabalhador olha para o sindicato e não se vê. E a reação imediata é rejeitar qualquer forma de cobrança compulsória. Essa resposta, ainda que reativa, é legítima: não há como exigir contribuição de quem não se sente parte.

O trabalhismo de Getúlio, Jango e Brizola não foi construído com descontos automáticos em folha, mas com presença de base, legitimidade e capilaridade social. Esse é o verdadeiro legado que devemos atualizar: um sindicalismo que escute, que seja combativo, transparente, com líderes enraizados na realidade popular.

Quem anda nas periferias, ouve os trabalhadores de aplicativo, os terceirizados, os jovens sem carteira assinada, sabe: “sindicato só aparece em ano de eleição”. Essa percepção, justa ou não, precisa ser enfrentada com seriedade e humildade.

A luta sindical exige, sim, recursos financeiros. Mas a resposta para isso não pode ser a imposição forçada sobre quem não se sente representado. Pelo contrário: é hora de debater formas modernas, legítimas e socialmente pactuadas de sustentação do movimento sindical. Se o problema é estrutural, a solução precisa ser também política e estratégica.

É preciso pensar em alternativas concretas que fortaleçam os sindicatos e os aproximem da sociedade. Uma proposta viável é a criação de fundos públicos acessíveis por editais com critérios objetivos, além da destinação de emendas parlamentares a órgãos públicos que possam firmar convênios com sindicatos para projetos de formação, combate ao trabalho precário e promoção de direitos. Programas nacionais também podem incluir entidades sindicais como parceiras. São medidas legais que podem ajudar a recuperar a legitimidade e o vínculo com a classe trabalhadora.

O desafio não é apenas financeiro. É político, cultural e organizativo. O discurso de que “sem imposto, não há sindicato” oculta o verdadeiro dilema: como reconectar o movimento sindical com quem mais precisa dele. A crise é, sobretudo, de representatividade. Muitos sindicatos perderam a escuta ativa da base, e isso exige autocrítica, renovação de práticas e reinvenção das formas de mobilização. Sem retomar o vínculo com a classe trabalhadora real, especialmente a juventude, os informais, os precarizados e os trabalhadores de aplicativo, nenhuma estrutura financeira será capaz de sustentar um sindicalismo vivo, combativo e popular.

Reconstruir o trabalhismo no século XXI exige coragem para romper com vícios antigos, revisar métodos e voltar a caminhar ao lado da classe trabalhadora. A luta não precisa de carimbo, precisa de povo. Um novo sindicalismo deve ser construído com base, sem imposição. Recuperar a força dos sindicatos requer escuta ativa, legitimidade e uma conexão real com os trabalhadores. O imposto obrigatório, atualmente, mais afasta do que aproxima.

Laércio Neto, presidente da Juventude PDT

Laércio Neto é Engenheiro Civil e Presidente da Juventude do PDT Goiás

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