O prefeito eleito Sandro Mabel, que teve sua cassação e inelegibilidade pedida pelo TRE-GO, que durante sua propaganda eleitoral apresentou-se como um gerente, que administraria a cidade como se estivesse diante da sua empresa que o enriqueceu. Apresentando suas propostas com uma linguagem de garoto propaganda de plataformas digitais, apresentou soluções mirabolantes para os problemas da cidade. Assumiu e continuou o seu palanque eleitoral.
Os quatro anos de Rogério Cruz na prefeitura com certeza abalaram a percepção dos goianienses em relação à qualidade do trabalho do chefe do executivo municipal, e Sandro Mabel está aproveitando esta deixa para fazer o máximo de publicidade das medidas que têm tomado – em sua maior parte, extremamente rasas para os problemas tão profundos de Goiânia.
No transporte, apresentou uma medida duvidosa e criticada, com “inspiração em Londres”. Para anunciar a liberação de tráfego de motocicletas nos corredores de ônibus promoveu uma motociata ostensiva, aos moldes do ex-presidente Jair Bolsonaro. O resultado já começa a ser visto, como o acidente ocorrido na Avenida 85 nesta semana que tristemente resultou em uma vítima fatal. Mas nada se fala sobre a ampliação das linhas de ônibus, da redução da tarifa ou do questionamento dos lucros absurdos das empresas do consórcio CMTC, que cobram quase R$ 10 por viagem: o que não sai do bolso do passageiro, sai dos cofres da prefeitura e do estado, onerando a toda a população em detrimento de meia dúzia de milionários.
Na saúde, o retorno de vários atendimentos ocorreu mais por promessas realizadas aos credores do que efetivamente mudanças estruturais. Apesar da auditoria das dívidas herdadas da gestão anterior, em nenhum momento se cogitou alguma modificação na raiz de grande parte dos problemas da saúde no município: as OSs (organizações sociais), que são na prática privatizações do bem público e mecanismos para enriquecer seus donos às custas do dinheiro e do sofrimento da população.
Quanto aos CMEIs, a solução mágica do alcaide é encher mais ainda as salas existentes, como se fosse fácil como mudar um número em uma planilha. Os profissionais da educação básica têm sido sistematicamente atacados nos últimos anos e esta gestão não se mostra diferente. Propostas de extensão de jornada, aumento de crianças por sala sem apoio pedagógico suplementar, além de um reajuste salarial menor que o do salário mínimo apresentam o desprezo de Mabel pela educação municipal. E é claro, não podemos deixar de reverenciar a luta dos professores pela manutenção da EJA em Goiânia. O prefeito diz que repassar esta responsabilidade para o Estado melhoraria a situação, mas a realidade do ensino de jovens e adultos a nível estadual contradiz essa falácia.
A educação e a cultura não vão sofrer mudanças, pois a burguesia odeia um povo consciente de suas obrigações políticas. Corrupção sem punições, apesar das continuadas divulgações de denúncias do MP e TCM. Na COMURG, Mabel nomeou um triunvirato militar para lidar com o desvio encontrado. Ora, tudo muito técnico, sem dúvidas. Recentemente um governo federal utilizou a patente como critério para escolha de cargos civis importantes e vimos bem o resultado. Mais uma inspiração do prefeito no ex-mandatário do Planalto.
Na sua relação com a Câmara Municipal, Sandro Mabel obedece a lógica da dose homeopática. Devagar, devagarzinho, vai nomeando os comissionados pedidos pelos nobres parlamentares. A velha política do toma-lá-dá-cá segue acontecendo. Como diz a famosa frase de Giuseppe Lampedusa, “tudo deve mudar para que tudo fique como está”, e é isso que estamos vendo.
A cidade de Goiânia, planejada e violentamente descaracterizada pela ganância das empreiteiras e imobiliárias, vai continuar sonhando, pois tem um povo que trabalha e sofre os desmandos dos enganadores.

Reinaldo Assis Pantaleão é professor de História aposentado, ativista e ex-candidato a prefeito de Goiânia