15 de junho de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/04/2025 às 10:26

Marketing H2H na política ajuda a reconstruir a confiança do eleitor na democracia

Em um cenário de polarização e desconfiança, o marketing eleitoral tradicional, com seu foco em dados e promessas vazias, tornou-se insuficiente. O eleitor, sempre cético com os atores políticos, viu a relação chegar ao nível do sarcasmo, com parlamentares impedindo a votação no Congresso Nacional para impor a votação de projeto claramente rejeitado pela maioria da população, apenas por interesses partidários e pessoais. A consequência é uma crise de representatividade visível. Uma comparação entre os percentuais de brancos, nulos e abstenções entre 2012 e 2024, mesmo com pequenas oscilações mostra que quase um terço dos eleitores optaram pelo não voto. Apenas como exemplo, em 2012 a abstenção na Região Sul foi de 13,99%. Em 2024 foi de   Sul 22,93%. E aqui não está somando os brancos e nulos.

Para amenizar esse cenário de descrédito do processo eleitoral, surge uma abordagem necessária e inovadora: o marketing H2H (Human-to-Human), que busca reconectar a política às pessoas, colocando a empatia, autenticidade e confiança no centro das estratégias. No centro do marketing H2H está a escuta ativa. Os candidatos são incentivados a deixar de lado os discursos formais e realmente mergulhar na realidade de seus eleitores. A compreensão das angústias, aspirações e necessidades específicas dos cidadãos é vital. Ferramentas como pesquisas qualitativas, grupos focais e diálogos em redes sociais e encontros presenciais são essenciais nesse processo. O objetivo é desenvolver mensagens que realmente ressoem com as experiências dos cidadãos, demonstrando um compromisso genuíno com seu bem-estar.

A autenticidade floresce como um dos valores mais essenciais do marketing H2H. Eleitores bem-informados e críticos rejeitam promessas superficiais e discursos genéricos. Portanto, a transparência nas propostas e soluções deve ser uma prioridade. Compartilhar histórias pessoais é uma tática poderosa para evidenciar o lado humano do candidato, suas motivações e valores, e criar uma conexão emocional e sincera com o público. As redes sociais, nesse cenário, superam seu papel tradicional de canais de propaganda para se tornarem plataformas de interação genuína. Candidatos que se envolvem ativamente nas redes, respondendo a perguntas, debatendo ideias e acolhendo críticas, reforçam o respeito e a confiança do público. Essa comunicação bidirecional, que incentiva a participação cidadã, é essencial para construir e manter uma imagem pública positiva e duradoura.

Para que o marketing H2H seja eficaz na política, é fundamental também destacar o alinhamento com causas sociais que importam para a comunidade. Demonstrar compromisso genuíno com temas como sustentabilidade, igualdade de gênero, inclusão e justiça social projeta a imagem de um candidato verdadeiramente envolvido com o bem-estar coletivo. Além disso, cumprir promessas e honrar compromissos com as causas defendidas durante a campanha são pilares para fortalecer a confiança do eleitorado. Assim como a transparência, quando entendida como a divulgação clara e acessível das ações e dos gastos públicos, juntamente com a accountability — ou responsabilização pelas ações praticadas — são fundamentais para consolidar a confiança e garantir a legitimidade de um mandato.

Num mundo cada vez mais digital e interconectado, o marketing H2H oferece uma maneira de olhar a política sob uma nova perspectiva. Ao colocar as pessoas no centro da estratégia, valorizando empatia, autenticidade, diálogo e responsabilidade, é possível reconectar a democracia aos cidadãos, reconstruindo a confiança e promovendo um ambiente político mais justo e participativo. Essa abordagem não fortalece apenas a posição dos candidatos durante campanhas, mas também cultiva relacionamentos duradouros com os eleitores, que perduram além do ciclo eleitoral. Reconsiderar a forma de interagir politicamente é crucial para assegurar que a política sirva como um verdadeiro instrumento de mudança social positiva, e não meramente como um jogo de poder.

Ao transformar a política em um espaço de autenticidade e responsabilidade, o marketing H2H não só reconstrói a confiança abalada, mas também incentiva um engajamento mais significativo entre eleitores e líderes. Essa mudança renova a esperança na política como um catalisador para o progresso social, promovendo comunidades mais equitativas e inclusivas e reforçando a democracia, hoje em crise. Dessa maneira, o marketing H2H configura-se não apenas como uma estratégia de campanha, mas como uma filosofia que revitaliza a política como um meio eficaz de servir ao bem público e fomentar transformações positivas na sociedade.

LuisCarlosRodrigues

Luís Carlos é Jornalista (UFG-1988), com especialização em Marketing (FGV -1999), Marketing Político (UFG - 2002); Pesquisa de Mercado (UniCambury - 2007), Mestrado em Comunicação (UFG - 2009) e Doutorado em Sociologia (UFG - 2014). Atualmente está cursando Pós-Doutorado em Comunicação (UFG). É professor do Mestrado Profissional em Administração (UNIALFA) e no Curso de Publicidade e Propaganda (PUC Goiás). Editor-Geral da Revista Panorama e Editor-Assistente da Revista Gestão e Desenvolvimento do Centro-Oeste, periódicos científicos. Palestrante e escritor.

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