Em meio ao acalorado debate jurídico e político sobre as relações de trabalho na economia de plataformas, o diretor de Relações de Mercado do iFood, Ricardo Crull, afirma que a ampla maioria dos entregadores quer manter o modelo atual, baseado na autonomia. “O mais importante é escutar o entregador, entender o que essa pessoa acha relevante para ela. Hoje, o que eles querem é autonomia, segurança e produtividade”, afirma Crull em entrevista ao Diário de Goiás.
A declaração surge em meio às discussões no Congresso e no governo federal sobre a criação de um marco regulatório para os trabalhadores de aplicativos. O tema envolve desde a possibilidade de formalização via CLT até modelos intermediários que garantam proteção social sem abrir mão da flexibilidade.
Pesquisas recentes reforçam esse posicionamento. Dados do Datafolha (2023) mostram que 77% dos entregadores preferem manter o modelo atual, sem vínculo empregatício tradicional, priorizando a liberdade para definir horários e jornadas. Além disso, 94% afirmam que poder escolher quando e onde trabalhar é essencial na atividade, enquanto 66% rejeitam modelos como o trabalho intermitente, que não atendem às suas necessidades.
Ricardo Crull explica que uma eventual migração para o regime CLT prejudicaria diretamente a autonomia dos entregadores. “Ele seria obrigado a cumprir horários, escalas e turnos, o que é incompatível com o modelo de liberdade que temos hoje. Muitos dos nossos entregadores atuam algumas horas por dia, conciliam com outros trabalhos ou atividades pessoais. Na CLT, isso seria impossível”, destaca.
Atualmente, o iFood oferece uma série de benefícios aos entregadores parceiros, como seguro contra acidentes, assistência médica e psicológica, pontos de apoio, acesso a crédito, descontos em farmácias, plano de dados 5G e programas de educação. “Avançamos muito em garantias que eles valorizam. O único ponto que ainda está aberto para evolução é a questão do INSS. Estamos dispostos a discutir, como já fizemos em grupos de trabalho com o governo”, pontua Crull.
O modelo de operação do iFood impacta diretamente a economia nacional. Segundo estudo da Fipe (2024), as atividades da empresa movimentaram R$ 110,7 bilhões, representando 0,55% do PIB do Brasil, com 400 mil entregadores ativos, que trabalham, em média, 13 a 17 horas por semana, e recebem cerca de R$ 23 por hora bruta, o que resulta em rendimentos líquidos mensais entre R$ 1.980 e R$ 3.039, dependendo da quantidade de horas trabalhadas.
O debate sobre a regulação do trabalho em plataformas segue aberto no país, mas, para Crull, uma coisa é certa: “Nenhuma decisão pode ser tomada sem ouvir quem está na ponta. E o que eles pedem é claro: autonomia, segurança e produtividade.”
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