O Ministério Público de Goiás (MPGO) registrou o recebimento, na tarde desta terça-feira (21), de uma notícia de fato para verificar a informação de que o vereador Géverson Abel (Republicanos), ex-secretário municipal de Desenvolvimento e Economia Criativa, direcionou R$ 4,33 milhões de emendas impositivas, representando 86% da cota dele, só para duas associações, que têm, entre seus membros, ex-assessores e familiares de parlamentar. A revelação foi feita pelo jornal O Popular na edição desta terça-feira (21).
Conforme o MPGO, a notícia de fato será encaminhada para distribuição a uma das promotorias da capital com atribuição na defesa do Patrimônio Público. A notícia de fato é um procedimento dos MPs que serve para comunicar indícios de ilegalidade, abuso de direito ou violação de direitos. É um instrumento que permite que qualquer pessoa possa relatar fatos que possam configurar práticas ilícitas a serem investigadas e denunciadas pela instituição junto ao Poder Judiciário.
O levantamento do jornal mostra que, no endereço onde funciona o escritório político de Géverson, também estão registradas a Associação Goiana Cidadania Para Todos e a Associação Unidos pelo Bem Estado Social (UBS).
Presidente de instituição confirma que endereço é o mesmo
A reportagem revela que as duas entidades, formalizadas em 2022 e 2023, usaram CNPJs transferidos de uma igreja e de uma instituição de Inhumas pelo mesmo contador e citaram o mesmo endereço do escritório político, situado no Setor São Judas Tadeu. O presidente da UBS, Luiz Felipe Rodrigues Costa, inclusive, confirmou ao jornalista Márcio Leijoto, que o endereço é o mesmo do escritório de Géverson.
A UBS vai receber em emendas em 2025 cerca de R$ 2,4 milhões para serviços em saúde. A UBS deve receber dois repasses, sendo um de R$ 950 mil para “fomento da atividade turística e cultural em Goiânia” e outro de R$ 963 para “fomento da prática esportiva na capital”, conforme a apuração.
No ano passado, UBS recebeu, somente em agosto, R$ 900 mil de uma emenda do vereador para realizar uma festa junina. A outra entidade, Cidadania para Todos, foi beneficiada com R$ 1 milhão em duas emendas no ano passado. A presidente da entidade, Dheny Santos da Silva, foi assessora de Géverson na Câmara e também ocupou cargos comissionados na gestão de Rogério Cruz, em órgãos da Prefeitura.
Segundo a reportagem, na ata da assembleia que transferiu o CNPJ para o nome dela, constam como membros da instituição beneficiada com as emendas, também um irmão e uma cunhada do parlamentar republicano.
Além disso, a UBS também tem ligação com o gabinete do vereador. Segundo a reportagem, o presidente da UBS é irmão da cunhada de Géverson, além de sócio dela em uma pizzaria vizinha e também já foi assessor parlamentar do republicano.
Vereador nega compartilhamento do escritório
O parlamentar foi reeleito em 2025 com 9.220 votos, o triplo alcançado na eleição de 2020.
Ao Popular, Géverson disse que não usa mais o local do Setor São Judas como escritório, citando que mudou após a campanha, para uma casa mais próxima, onde foi o comitê dele. Entretanto, vizinhos do local, que deveria se reconhecido pelo funcionamento das duas entidades, somente relacionam o endereço com o escritório político do vereador. “Ele disse que as associações se mudaram para lá depois da saída dele, porém, o endereço já constava como das entidades no ato de transferência para os atuais presidentes”, reforça o jornal.
Em nota atribuída ao gabinete dele e publicada em alguns veículos de comunicação, o republicano se defende, reiterando que o escritório do vereador não funciona no endereço das associações mencionadas na reportagem.
“Adicionalmente, é importante destacar que as diretorias das associações citadas não possuem qualquer vínculo com o vereador, sendo totalmente independentes em suas atividades. As associações se apresentaram idôneas e têm se pautado pela legalidade e transparência em suas ações, prestando serviços à comunidade dentro de todas as normas legais estabelecidas”, informou.
Além disso, garantiu que o endereço de funcionamento das associações e do escritório político “é distinto, e as informações veiculadas na reportagem são incorretas”.
Na tarde desta terça o vereador não atendeu chamadas nem respondeu a duas mensagens enviadas para ouvir sua manifestação sobre as revelações. A reportagem não localizou o contato dos demais citados.
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