20 de abril de 2025
ATOS GOLPISTAS

Moraes vota para condenar a 14 anos mulher que pichou ‘Perdeu, mané’ na estátua do STF

Ministro Alexandre de Moraes vota por condenar cabeleireira que pichou “Perdeu, mané” no monumento que pode valer R$ 3 milhões
Monumento histórico foi pichado pela cabeleira durante atos golpistas - Foto: Joédson Alves / Agência Brasil
Monumento histórico foi pichado pela cabeleira durante atos golpistas - Foto: Joédson Alves / Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta sexta-feira (21) para condenar a cabeleireira baiana Débora Rodrigues dos Santos, 39, a 14 anos de prisão em regime fechado. Débora está presa pela acusação de participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A cabeleira ficou conhecida após os atos antidemocráticos  como a autora da pichação da frase “Perdeu, mané” na Estátua da Justiça, monumento em frente ao STF avaliado entre R$ 2 e 3 milhões.

A frase havia sido dita pelo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais, em reação a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que o importunaram durante um evento em Nova York, nos Estados Unidos.

Cobrando de Barroso apuração sobre as urnas eletrônicas que já tinham sido testadas, um apoiador do ex-presidente ouviu do ministro: “Perdeu, Mané. Não amola!”. A frase de Barroso, entretanto, acabou usada por Débora, sugerindo que a mobilização golpista do dia 8 é que faria os ministros do Supremo perderem.

O julgamento é virtual. O voto de Moraes, que é relator do caso, foi proferido para a Primeira Turma da Corte que está julgando a ação penal contra a acusada. Débora responde pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

Cabeleireira foi filmada enquanto festejava ter vandalizado monumento – Foto: reprodução dos autos do processo no STF

“A ré Debora Rodrigues dos Santos confessadamente adentrou à Praça dos Três Poderes e vandalizou a escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, mesmo com todo cenário de depredação que se encontrava o espaço público”, escreveu o ministro.

O julgamento virtual vai até sexta-feira (28). Faltam os votos dos ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia, conforme a Agência Brasil.

Defesa

Em nota enviada à agência, os advogados Hélio Júnior e Tanieli Telles afirmaram que receberam o voto de Alexandre de Moraes para condenar a cabeleireira com “profunda consternação”. A defesa classificou o voto pela condenação a 14 anos de prisão como um “marco vergonhoso na história do Judiciário brasileiro”.

Os advogados também afirmaram que Débora nunca teve envolvimento com crimes e classificaram o julgamento como “político”.

“Condenar Débora Rodrigues por associação armada apenas por ter passado batom em uma estátua não é apenas um erro jurídico – é pura perversidade. Em nenhum momento ficou demonstrado que Débora tenha praticado atos violentos, participado de uma organização criminosa ou cometido qualquer conduta que pudesse justificar uma pena tão severa”, diz a defesa.

Carta ao ministro

A cabelereira foi presa três meses depois dos atos de 8 de janeiro de 2023 que depredaram as sedes dos Três Poderes. No ano passado ela chegou a enviar uma carta escrita à mão ao ministro Alexandre de Moraes pedindo desculpas por pichar a estátua “A Justiça”.

Em sua carta, Débora afirmou que desconhecia o valor material e o significado simbólico da estátua na ocasião. “Agora compreendo o significado simbólico e histórico do monumento para o país e para a Justiça”, escreveu. Ela também disse que, à época, sequer sabia que a estátua possuía um nome.

Por outro lado, o nome de Débora voltou a ser mencionado em novembro de 2023, quando a polícia encontrou um bilhete com referência a ela na casa alugada por Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiu França, que se matou durante um atentado a bomba próximo à mesma estátua. Contudo, até o momento, não foi revelada existência de alguma ligação entre Débora e o atentado.

A cabeleireira está detida no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, no interior de São Paulo, a cerca de uma hora de sua residência em Paulínia. A mulher é casada, mãe de dois filhos, de 6 e 11 anos e não possui antecedentes criminais.


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