NATÁLIA CANCIAN – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Mais da metade dos brasileiros, ou 55%, avaliam a saúde no país como ruim ou péssima, aponta uma pesquisa do Datafolha encomendada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
Outros 34% avaliam como regular e 10% como boa, avaliação que vale tanto para serviços públicos quanto privados.
O levantamento ouviu 2.087 pessoas em maio deste ano, em amostra representativa da população.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, “os números mostram claramente a insatisfação da sociedade brasileira com o atendimento oferecido em saúde no país”. “Precisamos de mais sensibilidade política, com financiamento mais adequado, gestão mais eficiente e fiscalização mais efetiva”, afirma.
Entre os entrevistados, 97% afirmaram ter buscado acesso ao menos algum serviço do SUS nos últimos dois anos para si ou para a família. Os principais foram vacinação e atendimento em postos de saúde.
Questionados sobre como avaliam a saúde pública, 54% disseram ver como ruim ou péssima, 28% como regular e 17% como ótima ou boa.
Para os entrevistados, o tempo de espera demorado é o que mais contribui para os problemas no atendimento, seguido da falta de recursos e má gestão.
Durante a semana da pesquisa, 39% dos entrevistados disseram esperar naquele momento por algum atendimento no SUS, como consultas, exames e cirurgias.
O índice é maior em relação a pesquisas anteriores feitas em 2014 e 2015, quando 30% e 29% aguardavam algum atendimento na rede. O aumento ocorre no mesmo período em que houve redução no número de usuários de planos de saúde no país.
Entre esse grupo, que espera por atendimento, dobrou o percentual de entrevistados que dizem aguardar há mais de seis meses. Em 2014, a pesquisa mostrou que esse índice era de 29%. Em 2018, esse percentual já atinge 45% – sendo que 29% do total aguardavam há mais de um ano.
“Se o acesso está ruim, se a atenção básica não for eficiente, tudo torna-se ineficiente”, afirma Donizetti Dimer, da comissão pró-SUS do CFM. “Queremos um sistema melhor, mais organizado, com melhor gestão e financiamento”, afirma.
A pesquisa fez ainda uma avaliação do grau de dificuldade de acesso a 14 serviços no SUS. Destes, ao menos 11 foram alvo de críticas.
Neste sentido, o serviço com pior avaliação foi o de consulta com médicos especialistas, avaliado como tendo acesso “muito difícil” e “difícil” por 74% daqueles que buscaram esse tipo de atendimento.
Em seguida, está realização de cirurgias (68%), internação em leitos de UTI (64%) e realização de exames de imagem (63%).
Para Dimer, esse alto índice pode ser explicado por problemas na organização da rede de assistência, com falha ainda no atendimento básico nos postos de saúde, o que poderia aliviar a demanda, diz. “Em nosso país, a atenção primária não é tão resolutiva quanto se pretenderia”
Outros problemas, afirma, são a falta de acesso a centros de especialidades médicas, sobretudo em municípios menores, e de mais políticas para fixação de médicos no interior.
“Municípios de pequeno porte muitas vezes têm atenção primária e não tem acesso a centros de especialidades médicas, ou a exames complementares mais sofisticados. Esse mesmo paciente, por não ter acesso, procura as emergências para problemas simples e acaba necessitando de mais internações hospitalares”, avalia. “O sistema precisa de mais organização em seus níveis de atenção.”
Os dados mostram ainda que, superada a dificuldade de acesso, a avaliação do SUS melhora em relação à qualidade dos serviços. Neste caso, 39% avaliam o atendimento como bom ou excelente, 38% como regular e 22% como ruim ou péssimo.
Quando questionados sobre a qualidade de serviços específicos no qual receberam atendimento, a principal crítica foi para o atendimento em pronto-socorro, com 63% das reclamações, seguido de internação em leitos comuns e consultas com médicos em postos de saúde. Já o serviço mais bem avaliado foi o de oferta de vacinas (66% avaliam como bom ou excelente).
Realizada a pouco meses das eleições, a pesquisa também questionou o que a população espera dos candidatos em relação à área da saúde.
Para 26%, políticos devem investir no combate à corrupção na área da saúde. Outros 18% apontam a necessidade de redução no tempo de espera por consultas, exames e cirurgias e 13% a melhora na fiscalização dos serviços da rede pública.
Outras sugestões indicadas foram a construção de mais postos e hospitais e garantia de melhores condições de trabalho e remuneração para médicos e profissionais de saúde.
Quatro em cada dez entrevistados avaliam que a saúde deveria ser área prioritária do governo federal – índice superior ao de outras áreas, como educação.
Comparada a pesquisas anteriores, houve um aumento, no entanto, no percentual daqueles que avaliam a necessidade de combate à corrupção. (Folhapress)
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