Uma kombi do transporte escolar municipal tombou, assustando crianças e preocupando pais que dependem do serviço para que os filhos estudem nas escolas da zona rural do município de Bela Vista de Goiás. Havia quatro crianças dentro do carro na hora do acidente, ocorrido na divisa com Caldazinha. Uma menina e o motorista tiveram ferimentos leves nos braços. Foi o segundo caso desde dezembro.
O motorista teria perdido a direção, segundo depoimentos de alguns pais, devido a uma suposta falha que travou a direção do veículo. A Kombi subiu em um barranco e depois tombou. A prefeitura falou em provável falha humana (confira ao final).
A estudante que se feriu tem 11 anos de idade e é filha do agricultor Vagner Pinto. Ele disse ao Diário de Goiás que o veículo estava devagar e por isso o acidente não foi de maior gravidade. O trabalhador chegou a ajudar a destombar a Kombi.
Suspeita de fratura descartada
De acordo com o pai, a menina foi examinada com suspeita de fratura no braço, mas houve somente a compressão do membro, sem quebrar ou luxar. Ele disse que soube de terceiros que a mesma situação foi registrada com o motorista, com o qual a reportagem não conseguiu contato.
O acidente aconteceu por volta das 12h30 após o motorista da Kombi recolher as crianças na região da Vila da Mata Feia. Elas estudam em Bela Vista e foram levadas para lá por um ônibus do transporte escolar da Prefeitura. A Kombi seguia em direção às residências na zona rural. Essa baldeação das crianças é comum e, segundo pais ouvidos, não é o problema, mas sim as condições em que ela ocorre.
Outros pais ouvidos, citaram fragilidades no sistema, demora na chegada de crianças menores de seis anos, excesso de velocidade, superlotação de crianças e falta de segurança.
Mãe cita riscos
A produtora rural Fabiana Fagundes, que mora na região de Bela Vista, conhecida como Jataí, relatou neste sábado que as próprias crianças estão sendo as responsáveis por fechar a porta das Kombis. O filho dela tem 5 anos e já fechou a porta algumas vezes. Em certa ocasião, a porta abriu e por sorte não ejetou nenhuma criança para fora da Kombi.
Além disso, ela cita a superlotação. “Procurei saber e a capacidade da Kombi é de oito alunos, mais o motorista. Mas a que leva meu filho está indo com 11 alunos”, relatou. Para finalizar, ela ainda aponta como muito preocupante a jornada para crianças tão pequenas.
“Meu filho está chegando entre 19:00 e 19:20h. Ele chega com muita fome e dor de cabeça, porque ele almoça às 10h, e faz um lanche na escola por volta das 14h30, que quase sempre não come tudo, então ele fica um intervalo muito grande sem alimentar. Quando ele chega, janta, faz tarefa, toma banho e já vai dormir por volta das 22:00h, no dia seguinte ele acorda às 8:00h e tem só 2 horas para brincar. Essa está sendo a rotina de uma criança de 5 anos”, observou. De acordo com ela, essa situação não é nova e vem de anos anteriores.
Fabiane aponta que a prefeitura de Bela Vista “precisa rever rotas, ou dar outra solução. E os motoristas deveriam fechar as portas e não as crianças”.
Prima de uma menina de 5 anos que mora na zona rural da cidade, a produtora rural Aline Rodrigues Vieira, da Pulquerio Transporte, que já prestou esse serviço para o município, também está preocupada com a situação atual do serviço. “As reclamações sobre excesso de velocidade são muitas. Uma criança caiu dentro da Kombi e machucou. As crianças têm matado muita aula [pelo receio dos pais quanto à segurança do transporte escolar]”, disse ela.
Outra Kombi tombou em dezembro
Em dezembro de 2024, outro acidente chamou a atenção para o transporte escolar em Bela Vista. Uma Kombi que pertencia a Aline também tombou quando transportava 9 crianças. Ninguém se feriu no acidente. Ela explicou na época que o veículo subiu no barranco em uma GO não pavimentada, onde o solo estava sendo preparado para o asfaltamento e tombou. Como estava em baixa velocidade, nem as crianças nem o motorista se feriram.
A situação do transporte escolar público tem preocupado o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) que lançou uma megaoperação para fiscalizar aproximadamente cinco mil veículos que prestam esse serviço em Goiás, neste primeiro semestre de 2025.
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TJ manteve empresas anteriores
Essa semana, o desembargador Paulo César Alves das Neves decidiu suspender a rescisão dos contratos de transporte escolar firmados anteriormente pela Prefeitura de Bela Vista de Goiás com uma empresa prestadora do serviço. A decisão ocorreu porque, no entendimento do magistrado, a rescisão foi feita sem um processo administrativo adequado, sem garantir o direito de defesa da empresa e sem comprovação da necessidade emergencial para a nova contratação direta da Cooperativa de Transporte Goiás – COOTRANSGOIÁS.
Com isso, os contratos antigos permanecem válidos até nova decisão, e o contrato emergencial com a cooperativa fica suspenso.
O município tinha recorrido da decisão alegando risco de interrupção do transporte escolar para centenas de crianças, mas o desembargador negou a suspensão da liminar.
Ele considerou que a prefeitura não provou a legalidade da rescisão unilateral nem a urgência da nova contratação. A decisão impõe uma multa diária de R$ 5 mil, limitada a R$ 100 mil, caso a prefeitura não cumpra a determinação.
O que diz a prefeitura de Bela Vista
A assessoria do prefeito de Bela Vista, Eurípedes do Carmo, informou neste sábado (21) que a Prefeitura está providenciando uma licitação para renovar a frota do transporte escolar da cidade. O município em parte frota própria, com 19 ônibus, e parte contratada junto a empresas terceirizadas, para a execução do serviço.
O veículo envolvido no acidente desta semana, segundo a assessoria, estava regular e não tinha problema identificado pela fiscalização. Ainda de acordo com a assessoria, a suspeita inicial é de falha humana na condução do veículo como causa do acidente.
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