09 de outubro de 2024
Lênia Soares

Júnior Friboi: Um convidado bem trapalhão II

Dirigida por Blake Edwards e protagonizada por Peter Sellers, ‘Um convidado bem trapalhão’ é uma comédia antológica, de 1968, filmada praticamente sem roteiro, em cenário único, com a junção de uma série de esquetes sobre um personagem extremamente desastrado.

 

Em uma das cenas, Sellers interpreta um corneteiro de um exército em guerra que, sem medo da morte, insiste em soprar sua corneta por mais tiros que possa levar. Após determinado período, cansados de ouvir o som do instrumento, os companheiros de tropa atiram contra o corneteiro em busca de um melhor desempenho na guerra.

Que filme!

O assunto em pauta, no entanto, é outro. Ou quase outro. Ou não.

A cena em tela se passa em Goiás, Goiânia, na inauguração da sede da Fundação Ulysses Guimarães, presidida pela deputada federal Iris Araújo (PMDB), e o ápice é o estabanado discurso do empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi, pré-candidato a governador pelo PMDB (VEJA A FOTO).

No intuito de pressionar Wagner Guimarães (PMDB), também auto-declarado pré-candidato e um dos diretores da Fundação, e toda a ala do partido ligada ao ex-governador Iris Rezende (PMDB), o saltimbanco Friboi atirou para cima e acertou o próprio pé.

Após todo o mal estar gerado com suas críticas contra Iris Rezende, Friboi intensificou o embaraço e resolveu discursar contra o que denominou “lavação de roupa suja publicamente”. A ironia é que o empresário se queixou… publicamente – como o fez no encontro do partido em Uruaçu, quando o grupo político ligado ao empresário sugeriu aposentadoria para o ex-governador.

Todos os membros do partido foram convidados para a inauguração, mas a participação de Friboi não estava prevista no script.

O peemedebista surpreendeu os organizadores, pediu a palavra sem ser inscrito e tratou de reclamar sobre o posicionamento de Wagner Guimarães, que, ao lançar sua pré-candidatura ao governo do Estado, teceu críticas duras contra o empresário.

Wagner disse que, se depender de seu esforço, Friboi não será candidato (leia aqui).

Ao discursar, Friboi direcionou o olhar ao alvo, que não chegou a citar diretamente. Sua fala foi rápida e sucedeu um pedido de desculpas pela necessidade de ter de se ausentar intempestivamente.

Wagner Guimarães não usou indiretas ao reagir.

O ex-deputado reafirmou suas críticas ao empresário e deixou claro: “O juízo que fiz em relação ao Júnior diz respeito ao homem público. Em momento algum me referi à sua vida pessoal. Sendo assim, não retiro uma só palavra das críticas que realizei.”

Friboi já não estava no evento.

Nos bastidores, Wagner é visto como um postulante antecipado que deve abrir caminho para a candidatura de Iris Rezende, com quem mantém boa relação.

Iris só deve se decidir lá pelo início do ano que vem, ou depois: na véspera das convenções, em junho. Wagner Guimarães compõe a executiva do partido e mantém um bom relacionamento político com grande parte dos militantes.

Júnior Friboi, como um corneteiro incansável, demonstrou – novamente – sua impulsividade e inabilidade política. Na esfera pública, diferentemente do meio empresarial, poder aquisitivo não é sinônimo de Poder político. Tem lá sua graça, mas pode virar piada de mau gosto.

O reino do empresário continua no diminutivo. Um substantivo bem comum. Um protagonista trapalhão lutando pelo poder da canetada. 

Friboi 1Agindo para derrotar Iris em vez de conquistá-lo (não o quer candidato a senador?), por ora o empresário está conquistando mesmo apenas aquele que deveria ser o inimigo a ser derrotado no ano que vem: o governador Marconi Perillo (PSDB), que aplaude de pé a guerra interna na tenda da concorrência.

Com o PMDB em carne viva, Friboi se faz Júnior. Júnior se apresentando no picadeiro estadual.

 


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