20 de junho de 2025
MOMENTO DE ATENÇÃO

Infectologista verifica aumento nos casos de pacientes com Influenza; veja orientações

Boaventura Braz, infectologista que atua em diferentes unidades, aponta aumento nos casos de SRAG causada pela Influenza e fala sobre diagnóstico mais facilitado e lições "não aprendidas" da pandemia de Covid
Infectologista aponta crescimento nos casos diagnosticados de Influenza e dá orientações - Foto: arquivo
Infectologista aponta crescimento nos casos diagnosticados de Influenza e dá orientações - Foto: arquivo

Tanto as autoridades de Saúde responsáveis pela imunização e organização do sistema público de atendimento à população goiana contaminada por vírus como o da Influenza, como quem está no dia a dia dos consultórios constataram um aumento nos casos da virose, inclusive evoluindo para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). É o caso do experiente infectologista Boaventura Braz, que verificou o aumento no diagnóstico e na internação por Influenza, especialmente de pessoas acima dos 60 anos e pelo vírus A (H1N1) da doença.

Em entrevista especial ao Diário de Goiás, o infectologista confirma o aumento no número de casos e relata que, de cada 10 pacientes que procuram atendimento com SRAG onde ele atua, em média, metade é diagnosticada com Influenza hoje em dia.

Na semana passada, o aumento de 26,7% nos casos leves de gripes por Influenza nas unidades sentinela, levou a Secretaria Estadual de Saúde a liberar a vacinação contra a gripe para toda a população, a partir de 6 meses, tentando conter o avanço e o agravamento da doença. A estratégia segue a orientação do Ministério da Saúde para melhorar a cobertura vacinal que, em Goiás, estava em apenas 21,20% após 45 dias de campanha.

Boaventura explica que a época do ano favorece à contaminação pelo vírus, mas alerta que as pessoas não guardaram as lições que a pandemia de Covid19 ensinou. Ele se refere à vacinação, a proteger os mais vulneráveis, como idosos e crianças, e evitar aglomerações nesta época de grande circulação do vírus.

Marília Assunção – Está havendo um aumento de casos de Influenza?

Boaventura Braz – Infelizmente, está. Em tempos anteriores, a gente não tinha a facilidade que nós temos hoje de confirmação de diagnóstico de Influenza. Então, vinha aquela famosa frase: ‘é uma doença viral, é uma virose’. E isso, hoje, não.

Marília Assunção – O que mudou?

Boaventura Braz – Hoje temos o painel molecular, que é o teste que a gente começou a fazer muito comumente com a Covid, que eram aqueles painéis moleculares de vias respiratórias. E o resultado é que nós temos tido inúmeros pacientes que antes internavam com pneumonia, mas, por trás disso temos, na verdade, uma Influenza.

Hoje é uma doença viral que a gente pode perceber claramente através dos outros exames, do hemograma, de todos os exames de sangue, proteínas reativas, que podem confirmar isso. 

Marília Assunção –  Então o exame (painel molecular) diz se é Influenza ou Pneumonia

Boaventura Braz – A pneumonia é identificada através do diagnóstico clínico e por imagem, e laboratorial. E quando a gente faz o painel respiratório molecular acaba descobrindo, na grande maioria das vezes, o vírus que está causando isso [a pneumonia]. E nós temos tido um volume muito alto de pacientes internados, principalmente pessoas com 60 anos ou mais, com quadros respiratórios, que a gente chama de Síndrome Respiratória Aguda Grave, e que vem confirmando com uma frequência elevada [causado] pela Influenza.

Eu atuo em praticamente três hospitais, em particular, e eu tenho visto muito paciente com diagnóstico de Influenza.

Marília Assunção – Qual dos tipos do vírus da Influenza que está atuando mais em Goiás atualmente?

Boaventura Braz – O que tem aparecido mais é a Influenza A mesmo,  o H1N1, mas também tem aparecido a Influenza B. Mas o prevalente é a H1N1.

Marília Assunção – E o tipo A é o mais severo, certo? 

Boaventura Braz – Não, qualquer um deles pode trazer o mesmo quadro. O problema é mais o hospedeiro do que o vírus. O vírus ataca as pessoas de forma indeterminada com a mesma agressividade. O porém é quem [se infectou], é a condição física, a saúde da pessoa que contraiu o vírus.

A pessoa que tem mais de 60 anos, que tem alguma comorbidade, um diabético, um paciente que já tem uma doença crônica pulmonar, que é o fumante inveterado, o DPOC [doente pulmonar obstrutivo crônico], por exemplo. 

Marília Assunção – O que pode estar acontecendo para o aumento de infectados?

Boaventura Braz – Nada diferente. É porque essa é a época, infelizmente. Nós estamos entrando bem no alto do outono. Vamos entrar no inverno. E esse é o período onde há a maior circulação do vírus. É a doença sazonal.

É claro que isso sugere aquilo que falei, que estamos agora com capacidade tecnológica de maior identificação do vírus. E antes o que a gente não tinha tanta clareza ou tanta certeza do diagnóstico, hoje a gente tem.

O que acontece é que de cada 10 pacientes que procuram o pronto-socorro onde eu trabalho e que recebe esse tipo de paciente, temos internação com essa síndrome respiratória aguda grave de 4 a 5 [de cada 10], e dos quais a metade com certeza é por Influenza.

O volume de pacientes internados por síndrome respiratória aguda grave causada pela Influenza tem sido muito acentuado, muito elevado. E isso é uma coisa que na conversa com outros colegas eles também têm observado. E é importante ressaltar e ter em vista que hoje as nossas condições tecnológicas de diagnóstico aumentaram muito, então isso acaba aumentando a clareza desse diagnóstico.

Marília Assunção  – Além da vacina contra a Influenza, que é o principal, o que a população deve fazer para se proteger?

Boaventura Braz –  Aquilo que deveríamos ter apreendido com a Covid, ou seja, evitar ambientes que geram aglomeração. Nos serviços relacionados à educação, chamar atenção para que esse público, se for criança e adolescente, vacine contra a Influenza, contra a gripe. A prevenção mais óbvia que existe, é a vacinação.

E isso também vale para quem frequenta faculdades, etc. Hoje, onde há aglomeração, as pessoas devem estar prevenidas através da vacina. No caso de idosos, os acima de 60, eu chamo a atenção para aqueles que possam fazer a vacina da rede particular, que é a Efuelda. Ela tem uma capacidade de proteção muito mais elevada do que essa outra [da rede pública], para essa faixa etária dos acima de 60.

Marília Assunção – E essa vacina especial para idosos custa, em média, quanto?

Boaventura Braz – Em torno de 200 reais.

Marília Assunção – No caso de bebês menores de 6 meses que não podem ser vacinados, quais os cuidados são recomendados?

Boaventura Braz – Evitar e aglomerações. Evitar ao máximo entrar em ambientes onde tenha outras pessoas, porque enquanto não faz 6 meses de vida não tem como proteger.

Marília Assunção – E quem já está com sintomas de Influenza? O que fazer?

Boaventura Braz – Boa pergunta. O tratamento existe e quanto mais precoce você inicia o tratamento, você tem melhor resposta. Então, em qualquer quadro clínico o sensato é procurar um profissional da saúde bem orientado, se for possível, da especialidade, um infectologista.

Porque, obviamente, ele vai pedir os exames adequados, fazer um diagnóstico o mais precoce possível. Com o painel molecular a gente consegue fazer um diagnóstico em 4, 6 horas no máximo. E começa a medicação. Tem medicação. Isso é importante dizer.

Marília Assunção – E, se não tratar, a Influenza pode ser fatal?

Boaventura Braz – Pode ser fatal. Ela não é uma doença altamente fatal. Mas, por exemplo, como eu falei, estou vendo muito paciente internado e, inclusive, em UTI. Pacientes mais delicados, idosos, crianças muito pequenas, pessoas com comorbidade, pacientes que a idade já é avançada, precisam estar bem protegidos com a melhor vacina possível. E, obviamente, se evoluir com a doença, fazer o diagnóstico de forma mais rápida possível porque tem condições de ter um bom suporte, inclusive, de tomar antiviral contra a doença. Lembrando que Covid também pode acontecer, né?

Então, se fazemos o diagnóstico de uma Covid, obviamente faz o tratamento também porque hoje tem bons antivirais contra a Covid.

Marília Assunção – É muito diferente o tratamento para a Covid em relação ao da Influenza?

Boaventura Braz – Sim, é diferente em todos os aspectos. A doença se manifesta de forma diferente desde o primeiro momento. Tem febre, tem tosse, sim. Mas o quadro clínico é diferente. Daí a importância do especialista ter essa clareza, mas, de qualquer forma, o exame é o mesmo. Quer dizer, o painel molecular respiratório viral, vem, no mínimo, com Influenza, com Covid, com vírus essencial.

Marília Assunção – E a rede pública, o SUS, faz esse painel molecular respiratório?

Boaventura Braz – Olha, na rede pública faz, mas, infelizmente, até sair o resultado é complicado. Na rede pública básica, eles têm como fazer com aquele swab nasal (cotonete na narina) que vai identificar se é Covid ou se é Influenza. Só não faz se o doutor não pedir.


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