Filho do paciente em surto psicótico, morto pela polícia no Hospital Municipal de Morrinhos, Luiz Henrique Dias se manifestou, por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais, a respeito do ocorrido e questionou as atitudes de diversos profissionais, que resultaram no desfecho trágico. Ele aponta incompetência dos órgãos envolvidos e critica a falta de ética e empatia também após a fatalidade.
“Por negligência, por falta de total ética e empatia com os familiares, vazaram vídeo dentro da UTI, do meu pai, com todo o ocorrido. O próprio prefeito faz um depoimento antes dos familiares ficarem sabendo, isso é ilegal, os familiares têm que ficar sabendo primeiro do óbito antes de sair qualquer noticiário. O policial, um tenente, faz um depoimento antes de ter qualquer autópsia”, ponderou Luiz Henrique.
Luiz Claudio teve um surto psicótico, enquanto estava internado na UTI do hospital, fez uma enfermeira de refém e a ameaçou com um pedaço de vidro quebrado. A polícia é acionada e o paciente é baleado. O caso ocorreu na noite do último sábado (18).
Condição de saúde
Segundo o filho de Luiz Cláudio, a vítima, de 59 anos, era renal crônica, diabética, com deficiência visual, e pesava cerca de 55kg. Com atuação na área de enfermagem, o homem acredita que o pai teve um pico de hipoglicemia, o que pode ter levado ao surto psicótico.
De acordo com Luiz Henrique, o pai estava internado na unidade de saúde desde a última quarta-feira (15). No sábado (18), data em que ocorreu a fatalidade, o homem chegou a fazer uma visita ao pai e questionou o médico a respeito do porquê ele ainda precisava ser mantido em uma Unidade de Terapia Intensiva. O filho de Luiz Cláudio, que mora em Goiânia, relata que esteve no hospital até por volta das 17 horas. “Meu pai estava bem, conversando e brincando como sempre”, disse.
Descuido
Pouco depois de chegar em casa, Luiz Henrique recebe uma ligação, por volta das 20h40, do serviço social do hospital, solicitando a presença de um familiar do paciente na unidade de saúde. Antes de chegar ao local, foi surpreendido com a notícia por meio de imagens divulgadas nas redes sociais, por moradores e autoridades do município.
O filho de Luiz Cláudio também aponta falta de preparo da polícia, em razão do desfecho do episódio, que resultou na morte do paciente. “O que é inquestionável, é que meu pai, por ser um senhor de 59 anos, pesando por cerca de 55 kg, como que um policial não age com… tá, ele quer pagar de herói, porque não foi com uma arma de choque e foi por trás, porque ele estava com as costas livres, não tinha nada para ele fazer”, pontuou.
“Porque alguém não fez alguma coisa? Porque que o médico deixou chegar a esse ponto?”, questionou Luiz Henrique. “Cheguei no hospital e o médico não quis falar comigo. Porque o médico não quis reanimar o meu pai e mandou ele para uma sala vermelha, se a unidade de terapia intensiva serve para reabilitar o paciente? Porque disso tudo, para chegar a esse ponto?”, argumentou.
Ao citar diversos equívocos cometidos durante a ação, o filho do paciente aponta: “o erro começa lá dentro da UTI”, disse. “O paciente em qualquer momento pode entrar em surto dentro da UTI. Isso é normal, eu já vi. Mas eu nunca vi um policial entrar e fazer aquilo que fez. Por incompetência. Incompetência de todos os órgãos”, sublinhou.
Ação da PM
Luiz Henrique avalia a ação da polícia como “abuso de autoridade”, visto que, segundo o familiar, o paciente já tinha caído e poderia simplesmente ser imobilizado. De acordo com informações da PM, o tiro teria esse intuito. No entanto, o homem se moveu durante a ação e o tiro acabou perfurando o abdômen.
Em entrevista ao G1, o prefeito do município Maycllyn Carreiro (PL), afirmou que Luiz Claudio não tinha histórico de surtos psicóticos e que fazia um tratamento renal há três dias. O prefeito disse ainda que outros membros da equipe médica tentaram dialogar com Luiz Cláudio. Como não conseguiram reverter a situação, os funcionários do hospital acionaram a PM.
“Após a chegada dos policiais, foram iniciados protocolos de gerenciamento de crises para liberar a vítima. Apesar das tentativas de verbalização para que o autor liberasse a vítima, ele permaneceu em atitude agressiva e reiterou as ameaças. Diante do risco iminente a vítima, foi necessário a realização de um disparo de arma de fogo para neutralizar a agressão e resguardar a integridade física da refém”, frisou a PM, em nota.
Segundo a corporação, “mesmo alvejado, o autor continuou resistindo, sendo necessária a sua contenção pelos demais policiais militares”. A nota da PM ressalta que a equipe médica prestou socorro imediato, mas o paciente não resistiu aos ferimentos e foi a óbito.
Família pede justiça
A família também publicou uma carta à imprensa, onde clama por justiça e empatia. Confira:
A família de Luiz Cláudio Dias vem a público, por meio desta nota, pedir à imprensa que trate o caso com o máximo de responsabilidade, ética e empatia, evitando títulos sensacionalistas que possam distorcer os fatos ou agravar ainda mais a dor de quem já enfrenta um momento de luto profundo. É essencial que o trabalho de informar a sociedade seja conduzido com compromisso com a verdade, respeito ao contexto e sensibilidade, considerando que o ocorrido representa não apenas uma tragédia pessoal, mas também uma grave falha institucional.
Luiz Cláudio, de 59 anos, era um paciente renal crônico, diabético, debilitado por pneumonia e internado na UTI de Morrinhos/GO em estado de extrema fragilidade.
Em um momento de surto hipoglicêmico, ele ameaçou uma enfermeira com um caco de vidro. A família lamenta profundamente o medo vivido pela profissional de saúde e manifesta sua solidariedade, reafirmando que nenhum trabalhador deveria passar por situações que coloquem em risco sua segurança.
Entretanto, é imprescindível contextualizar os fatos de maneira justa e equilibrada. Luiz Cláudio, fisicamente enfraquecido, foi rendido e imobilizado. Mesmo nessas condições, foi pisoteado e executado à queima-roupa por dois policiais, de forma desproporcional, cruel e absolutamente inadmissível. A conduta esperada da equipe de saúde e da força policial era outra: técnica, responsável, humana e proporcional à situação, o que poderia ter evitado essa tragédia.
A família reforça que buscará por justiça, para que os responsáveis por essa violência brutal sejam responsabilizados e para que o caso se torne um marco na reflexão sobre as falhas do poder público em lidar com situações de crise envolvendo pessoas vulneráveis.
Não apenas Luiz Cláudio foi negligenciado; a segurança da enfermeira e de todos os envolvidos também foi colocada em risco por ações e omissões que demonstram imprudência, negligência e imperícia do Estado.
A imprensa desempenha um papel indispensável na construção de uma sociedade mais justa e informada. Por isso, pedimos que a cobertura desse caso seja feita com ética e comprometimento, sem sensacionalismo, e que a memória de Luiz Cláudio não seja reduzida a um estigma ou a uma narrativa incompleta. Ele era uma pessoa com história, família, e uma vida marcada pela luta contra problemas de saúde severos.
Por fim, a família agradece às pessoas que têm demonstrado solidariedade nesse momento de dor e clama por respeito à memória de Luiz Cláudio e ao nosso luto. Que essa tragédia sirva para promover mudanças que evitem novas vidas perdidas pela falta de preparo e humanidade nas respostas do Estado.
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