16 de julho de 2025
Endividamento • atualizado em 31/05/2025 às 11:22

Hospital Nasr Faiad de Catalão entra com pedido de recuperação judicial pressionado por dívidas

O hospital mais antigo de Catalão possui mais de R$ 49 milhões em dívidas declaradas resultantes de defasagem nos repasses do SUS, impactos da pandemia e operações societárias frustadas
O Hospital Nasr Faiad é o hospital mais antigo e tradicional do município de Catalão e da região sudeste do Estado de Goiás.Foto: Reprodução
O Hospital Nasr Faiad é o hospital mais antigo e tradicional do município de Catalão e da região sudeste do Estado de Goiás.Foto: Reprodução

O hospital mais antigo de Catalão, fundado na década de 1957, o Hospital Nasr Faiad, entrou com pedido de recuperação judicial por conta de uma crise econômico-financeira, provocada pela defasagem nos repasses do SUS (Sistema Único de Saúde), impactos da pandemia e operações societárias frustadas. A recuperação judicial foi concedida pela Justiça no dia 22 de maio.

A partir do processo, a administração do hospital deverá se organizar para realizar o pagamento dos credores, entre eles, fornecedores, prestadores de serviços, funcionários e instituições financeiras. Conforme o documento de pedido de tutela, os repasses das custas processuais iniciais, no valor de R$ 151.669,93, deverão ser feitos em 20 parcelas.

Fatores que levaram ao endividamento

Segundo os argumentos da defesa do Hospital Nasr Faiad, as dificuldades financeiras que levaram ao processo de recuperação judicial foram provocadas por três principais fatores nos últimos anos: a alteração do perfil de pagamento dos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS); a crise hospitalar decorrente da pandemia de Covid-19; e de operações societárias malsucedidas.

De acordo com o Hospital, os repasses do SUS estão defasados e o teto mensal de recebimentos não foi atualizado, mesmo diante do aumento dos atendimentos e dos custos operacionais, resultando em déficits contínuos e recorrentes. “Na média trimestral, o convênio com o Poder Público e com o SUS representa mais de 40% do faturamento do Hospital Nasr Faiad”, apontou a defesa.

No período de pandemia, o Nasr Faiad precisou passar por mudanças operacionais para atender a grande demanda, que levaram a desgastes financeiros. “O aumento dos custos durante o período pandêmico – necessário para garantir o pronto atendimento aos pacientes durante o estágio de calamidade enfrentado levaram diversos hospitais privados a buscaram novos financiamentos perante instituições financeiras”, argumentou.

Ao tentar soluções a partir de sociedades, a administração se viu em uma situação ainda pior. A tentativa de expansão com a gestão do Hospital São Paulo (Ipameri) não teve sucesso por entraves com a fornecedora de energia (Equatorial), que impediu a ativação da unidade. O Projeto Polaris, que visava ampliar o atendimento e integrar novos médicos, foi prejudicado pela fusão com o Hospital São Nicolau, que absorveu a demanda médica esperada para o Polaris. Essas iniciativas geraram endividamento e queda de receita, comprometendo a sustentabilidade financeira do Nasr Faiad.

Receita financeira insuficiente

Além das dificuldades econômicas enfrentadas, a apropriação de receitas por bancos, como Itaú, Sicredi e Bradesco, com base em contratos de cessão fiduciária de recebíveis, inviabilizou o uso do próprio faturamento para cobrir despesas operacionais do hospital. Conforme dados do relatório financeiro, os recebimentos travados pelos bancos totalizam R$ 3.060.000,00 (referentes aos convênios Unimed, Ipasgo e SUS), e representam 55% do faturamento mensal.

“Esse bloqueio tem um impacto significativo nas finanças, agravando o déficit já existente, pois o Hospital Nasr Faiad apresenta despesas mensais de R$ 8.900.000,00, enquanto as receitas médias mensais são de R$ 5.500.000,00. Sem esses recebimentos, o Hospital Nasr Faiad enfrenta ainda mais dificuldades para equilibrar suas contas e cumprir suas obrigações financeiras”, apresentou a justificativa.

De acordo com o Hospital, as despesas com o pagamento dos colaboradores (equipe médica e funcionários) representam, mensalmente, algo em torno de R$ 2,9 milhões, valor próximo do montante total travado mensalmente por instituições financeiras. Somando as despesas de equipe às despesas de insumos, a média dos gastos mensais do Hospital orbita em torno de R$ 4,6 milhões.

Recuperação judicial como alternativa

A partir das dificuldades financeiras enfrentadas, o Hospital Nasr Faiad viu como último recurso o processamento da recuperação judicial. A ação tem por objetivo viabilizar a superação do estado de crise econômico-financeira da empresa, preservando os negócios sociais, de modo que ela continue funcionando, e garantindo a manutenção da fonte produtora de bens, serviços, empregos, tributos, renda, além de permitir o cumprimento dos direitos e interesses dos credores, ou seja, os devidos pagamentos, e, ao final, a reabilitação financeira da empresa.

Dessa forma, a partir a concessão da recuperação judicial, o Hospital deverá apresentar um plano detalhado de recuperação e de que forma os pagamentos aos credores será efetuado. Nesse tempo, deverá continuar operando normalmente com os atendimentos médicos e clínicos, mantendo suas atividades e seus funcionários.

O Diário de Goiás tentou contato com a assessoria do Hospital Nasr Faiad para detalhamento da ação e mais informações sobre o processo de recuperação judicial, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O espaço permanece aberto.


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