24 de maio de 2025
DEVOLUÇÃO PROGRAMADA • atualizado em 06/05/2025 às 18:43

Governo deve devolver de uma vez o dinheiro tomado de aposentados do INSS

Valores dos descontos não autorizados do INSS devem ser devolvidos em maio utilizando verba do Executivo que deverá ser devolvida pelas associações
Fraudes no INSS foram investigadas pela PF e CGU - Foto: divulgação / PF
Fraudes no INSS foram investigadas pela PF e CGU - Foto: divulgação / PF

O governo federal planeja fazer o ressarcimento de uma única vez aos beneficiários que tiveram descontos não autorizados nas aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além disso, o governo estuda, segundo o jornal Folha de S. Paulo, usar dinheiro do orçamento do Executivo para fazer a devolução dos valores descontados indevidamente dos aposentados e pensionistas.

Nesta terça-feira (6), o novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, informou que a devolução será feita diretamente nas contas dos beneficiários usadas para sacar as aposentadorias e pensões.

O pagamento único seguirá um cronograma pré-definido, a exemplo do que ocorre com o calendário de pagamentos do instituto. Para viabilizar, seriam estabelecidos critérios para a fila. Entre os critérios, a data de nascimento, por exemplo. Mas o jornal informa que ainda não está definido qual será o período de descontos ilegais a ser considerado para devolução.

A investigação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), aponta que descontos não autorizados em aposentadorias e pensões do INSS ganharam força a partir de 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Depois, eles teriam atingido a casa dos bilhões a partir de 2023, durante o atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Provas dos descontos não autorizados nos benefícios do INSS

Para ter a restituição, no entanto, o beneficiário do INSS terá de comprovar que o desconto não foi feito com a autorização dele. Mas essa comprovação é um dos pontos delicados do processo, porque os beneficiários podem alegar que foram induzidos ao erro. E a questão é realmente polêmica porque existem casos atualmente até mesmo de captura de imagem do rosto de pessoas para a validação de atos e documentos que elas não sabiam, tais como empréstimos.

Fontes do governo informaram à Folha que a ideia é que o Executivo arque com as despesas e busque o ressarcimento futuro junto às entidades fraudadoras. Dessa forma, para acelerar e legitimar a liberação de recursos, “o governo deve se valer de um artigo da Constituição Federal que trata da responsabilidade civil do Estado e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos pelos danos causados a terceiros”, informou o jornal.

Essa possibilidade é prevista no parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição. Ele estabelece que “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.

Por outro lado, a aplicação dessa norma depende da comprovação de dano. Do contrário, será necessária a edição de uma Medida Provisória para abertura de crédito suplementar. Ainda segundo o jornal, outra hipótese seria o envio de um projeto ao Congresso Nacional para a liberação do dinheiro, mas isso exigiria mais tempo para o início do processo de ressarcimento. E o governo tem pressa, após o desgaste causado pelo escândalo, com afastamento de servidores e a derrubada de um ministro.

O projeto que vai nortear o processo de devolução está em fase de discussão interna com a Casa Civil e envolve a participação de órgãos como Supremo Tribunal Federal,  Conselho Nacional de Justiça e Ministério Público Federal.

Ele também explicou que o INSS abriu 12 processos contra entidades suspeitas, com base na lei anticorrupção. Entre as investigadas estão empresas que teriam pago propina a agentes públicos e outras classificadas como “empresas fantasmas”, que, segundo ele, “não apresentavam condições mínimas para existir”. Nessas situações, o INSS desconsiderou a personalidade jurídica para atingir os sócios e eventuais conglomerados empresariais, com o objetivo de bloquear bens e garantir a restituição dos valores aos aposentados e pensionistas prejudicados.

A expectativa é que as mensalidades associativas que tenham sido descontadas de aposentadorias e pensões no mês de abril já sejam devolvidas na folha de pagamento paga entre os dias 26 de maio e 6 de junho.

Esse valor restituído estará junto com o pagamento de maio, que também terá o depósito da segunda parcela do 13º, e cai na conta conforme o número final do benefício, sem considerar o dígito verificador.

Como foi feita a fraude

Uma investigação feita pela Polícia Federal e pela CGU na Operação Sem Desconto revelou  possíveis fraudes em descontos de aposentadorias e pensões do INSS, suspeita de desvio de dinheiro, envolvimento de servidores, adesões de aposentados sem consentimento e falsificação de assinaturas.

A auditoria indicou que sindicatos e associações cadastravam indevidamente aposentados e pensionistas e passavam a aplicar descontos em seus benefícios diretamente da folha de pagamento.

Pela apuração, entre 2019 e 2024, a soma dos valores descontados de benefícios do INSS chega a R$ 6,3 bilhões. Onze associações e entidades estão sendo investigadas.


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